Mudança de época e conversão pastoral
20/09/2022 15:04
Gabriel Meirelles

Congresso on-line reflete sobre o Documento de Aparecida depois de 15 anos

Papa Francisco foi o relator do Documento de Aparecida há 15 anos atrás (Arte: Emanuel Bonfim)

A PUC-Rio realizou o Congresso Continental “Aparecida, 15 anos depois, à luz do Magistério do Papa Francisco”, em parceria com a PUC Chile e órgãos da Igreja Católica na América Latina. Entre os dias 12 e 14 de setembro, teólogos de todo o continente analisaram temas abordados na 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, como a conversão pastoral, a mudança de época, as ações missionárias e a questão socioambiental. O diretor do Departamento de Teologia, Padre Waldecir Gonzaga, abriu o congresso.

O arcebispo de Brasília e presidente do Instituto Nacional de Pastoral Padre Alberto Antoniazzi (INAPAZ), cardeal Dom Paulo Cezar Costa, destacou a centralidade de Jesus Cristo e a conversão pastoral, que consiste, segundo o documento final, na escuta do Espírito Santo por meio dos sinais dos tempos. Além disso, enfatizou a alegria da Igreja latinoamericana e caribenha, característica manifestada ao mundo pelo Papa Francisco na primeira Exortação Apostólica, Evangelii Gaudium.

— Eu me encanto sempre quando vou às paróquias e vejo a alegria do nosso laicato, quando você vê a alegria da doação das pessoas na vida das nossas comunidades, quando você vê nas coisas mais humildes. Por exemplo, quando vou às paróquias, às vezes depois tem uma festa, e eu gosto de ir lá na cozinha ver, e encontrar aquelas senhoras, senhores, pessoas alegres.

Cardeal Dom Paulo Cezar Costa (Foto: Reprodução)

O presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), Dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, O.F.M, traçou um panorama do contexto histórico e social da América Latina, e disse que 15 anos é tempo suficiente para fazer um balanço do Documento de Aparecida e encorajou a Igreja a colocar em prática as propostas apresentadas. O arcebispo de Trujillo, no Peru, elencou algumas dívidas que ainda precisam ser quitadas no continente, como superar o clericalismo, ampliar o cuidado com a Casa Comum, viver a unidade, abandonar a divisão e assumir um estado de missão permanente.

— Devemos reconhecer que o mundo mudou, que já não vivemos em tempos de cristandade, mas sim numa sociedade plural. Para viver o estado de missão, é necessário recuperar o ardor missionário com identidade discipular que se expressa na avaliação do mundo atual e promover a fé inculturada, ir ao encontro das pessoas como amigos, e não como colonizadores, e estar ao lado do que sofre.

Presidente do CELAM, Dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, OFM (Foto: Reprodução)

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Azevedo, lembrou que o cardeal Jorge Mario Bergoglio – hoje, Papa Francisco – foi o relator do Documento de Aparecida e levou para o pontificado os conteúdos tratados na Conferência. Dom Walmor reafirmou a opção preferencial pelos pobres e o protagonismo dos cristãos leigos, questão central do atual Sínodo dos Bispos. Para o arcebispo de Belo Horizonte, refletir sobre Aparecida à luz do magistério do Papa Francisco contribui para o amadurecimento de todo o povo de Deus e para a construção de um novo jeito de ser Igreja no terceiro milênio.

— Por essa profunda sintonia com o magistério do Papa Francisco, penso que a Conferência de Aparecida nos seus 15 anos foi oportunidade para que sementes fossem lançadas no coração da Igreja. Hoje, essas sementes brotam, criam raízes. São brotos de esperança que se fortalecem à luz de nosso amado Papa. Hoje, avançamos muito no caminho da sinodalidade, acolhendo a indicação de que a Igreja no terceiro milênio deve investir ainda mais na comunhão, participação e se fortalecendo na missão.

Evangelização, cultura e as transformações socioculturais

Após a abertura, o arcebispo de Campo Grande, Dom Dimas Lara Barbosa, iniciou o ciclo de palestras com lembranças específicas da Conferência e outros bastidores. Ele contou sobre a realização de um seminário no Centro de Estudos do Sumaré que recebeu 40 especialistas de São Paulo, Campinas e Rio de Janeiro para discutir temas negligenciados em outros lugares, como antropologia cristã, evangelização e cultura, defesa da vida, fé e ciência.

— Eu tinha num pen-drive tudo aquilo que a gente tinha concluído no seminário. Praticamente tudo se adequava ao esquema que a presidência tinha apresentado, e devo lhes dizer que praticamente na íntegra as sugestões que tinham sido enviadas por esse seminário feito lá no Sumaré foram inseridas no texto de Aparecida.

Na sequência, o secretário-geral da CNBB, Dom Joel Portella Amado, definiu o DNA da Conferência de Aparecida ao destacar que seu eixo transversal não está nos temas em si, mas no contexto do encontro. Para o bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro, as conclusões e os assuntos do documento devem ser lidos à luz da mudança de época. Um dos sintomas desta transformação, segundo Dom Joel, é a percepção de que a transmissão da pessoa e da mensagem de Jesus Cristo diminui a cada ano na sociedade latinoamericana. O bispo destacou, ainda, a importância de se pensar o modo de a Igreja exercer a missão evangelizadora no contexto presente.

— Na atual mudança de época, a Igreja Católica experimenta o que nós podemos chamar de um deslocamento do seu lugar sociocultural. Já não é mais a religião única - ou pelo menos hegemônica - do continente. Nós já não temos mais a configuração sociocultural a qual convencionamos chamar de cristandade, em que, entre outros aspectos, a fala da Igreja, pelo fato de ser a instituição Igreja, apresenta plausibilidade suficiente para se fazer valer, e em que os mecanismos socioculturais para a transmissão de valores se misturam com os mecanismos para a transmissão da fé.

Dom Joel Portella Amado (Foto: Reprodução)

A necessidade da missão, apesar de ter sido mencionada por todos os palestrantes, foi o foco da palestra de Frei Roberto Tomichá Charupá, O.F.M Conv., professor da Universidade Católica Boliviana San Pablo. Ele ressaltou o primeiro parágrafo da encíclica Deus Caritas Est, do Papa Bento XVI, que afirma o início do ser cristão como um encontro com a pessoa de Jesus Cristo, e não uma ideia ou decisão ética. O sacerdote franciscano frisou, ainda, que todas as pessoas são chamadas à vocação de missionário e que toda missão supõe uma experiência prévia de escuta, encontro e contemplação do mistério de vida.

— Este encontro com uma pessoa-mistério transforma e recria permanentemente cada um dos espaços-tempos cotidianos da pessoa crente. Por certo, o encontro com o mistério se experimenta segundo as próprias situações pessoais e contextos socioculturais, e se expressa com diversos nomes e variados modos e nuances.

Todas as palestras do Congresso Continental “Aparecida, 15 anos depois, à luz do Magistério do Papa Francisco” estão disponíveis no canal no Youtube do Departamento de Teologia. Para acessar, clique aqui.

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