Angústia do lado de fora das grades
19/06/2020 11:25
Victória Reis

Mães relatam o medo de os filhos contraírem Covid-19 no cárcere

O Brasil possui 758.676 mil pessoas privadas de liberdade (Foto: Denis Oliveira Unsplash)

O sistema carcerário brasileiro é conhecido por sua vulnerabilidade e superlotação, e com a pandemia do novo coronavírus, o ambiente prisional se torna mais favorável à disseminação da doença. Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), existem no Brasil 758.676 mil pessoas privadas de liberdade e, deste total, há 1.867 presos infectados pelo novo coronavírus e 47 presos mortos por Covid-19. Mas, fora da cadeia, há mais prisioneiras: as mães dos encarcerados.

A falta de informações por parte de órgãos estatais aumenta a angústia e o pânico dentro e fora das prisões. No mundo exterior, a aflição materna é agravada pelas más condições sanitárias enfrentadas pelos filhos no cárcere. Os presos dependem do “jumbo”, uma espécie de kit básico fornecido pelas famílias, com itens de higiene pessoal, como sabonete, escova de dentes, entre outros, além de roupas e comidas. A entrega do material, no entanto, foi suspensa em algumas cadeias como Complexo de Gericinó, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e no Instituto Penal Edgar Costa, em Niterói. 

Mãe de Diego, 30 anos, que cumpre pena no Instituto Penal Edgar Costa por homicídio doloso após esfaquear a namorada, uma empregada doméstica, que não quis revelar o nome, se diz inconformada por não poder levar os itens básicos para a higiene do filho. Segundo ela, o presídio alega que o plástico do jumbo pode contaminar os encarcerados com coronavírus.

- Não estamos podendo levar nada para os nossos filhos, mas se a gente não leva as coisas para eles, o presídio não vai dar - completa.

O desespero é compartilhado por outras mães de família, como a manicure Silvia Santos, 43 anos, mãe de Nicolas Santos de Mello, 22 anos, preso na Casa de Custódia Paulo Roberto Rocha (Bangu C), acusado de tentativa de homicídio contra o irmão. Ela critica o descaso no repasse de notícias por parte entidades públicas e lembra quando o filho contraiu sarampo e não foi avisada da situação.

- Eles não dão nenhuma informação, se você perguntar ao Desipe (Departamento Sistema Penal) eles falam que cancelaram a visita para que não haja mais infectados. Por exemplo, o meu filho há uns meses teve sarampo, e eu só fiquei sabendo porque ele mesmo me informou, já que eles não entram em contato para informar nada. Se não fosse o Nicolas para me ligar e me avisar, eu nem teria ficado sabendo, teria ido para visita e, chegando lá, eles iam falar que não ia ter visita - relata.

Diante do cenário de incertezas e preocupações constantes, o estado de saúde emocional também é comprometido. Segundo o psicólogo Iwerton Corrêa, pós-graduado em Clínica Psicanalítica, na Universidade Estácio de Sá, situações deste tipo podem suscitar estresse e ansiedade, e futuramente, evoluir para transtornos psiquiátricos depressivos, psicóticos e ansiosos, como crises de pânico e estresse pós-traumático.

- É possível gerar um adoecimento físico também por conta da baixa do sistema imunológico - destaca.

A cuidadora Tereza Aparecida dos Santos, 63 anos, mãe de Carlos Fernando dos Santos Junior, 31 anos, condenado por furto, ressalta que não tem conseguido dormir e nem se alimentar direito.

- O descaso é o mais preocupante, pensar que eles, por cometerem um crime, se morrer está tudo bem, é de doer - afirma.

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