A serviço de outro rei
29/06/2022 14:55
Gabriel Meirelles

Padre Josafá celebra missa em honra a São José de Anchieta no Santuário do Cristo Redentor

Padre Josafá preside missa em memória de São José de Anchieta na Capela Nossa Aparecida, no Santuário do Cristo Redentor. Co-celebraram a cerimônia o padre Omar Raposo e o padre João Damasceno (Foto: Jorge Paulo Araujo)

O Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., celebrou uma missa em honra a São José de Anchieta no dia 9 de junho na Capela de Nossa Senhora Aparecida, localizada embaixo do monumento do Cristo Redentor. Na presença de turistas do Brasil e de outros países da América, o sacerdote destacou quatro traços da personalidade do santo jesuíta: a reta intenção de viajar para um novo continente; o legado para a cultura brasileira; a mistura entre loucura humana e sabedoria divina; e a relação com o conteúdo da encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco.

São José de Anchieta chegou ao Brasil em 1553, aos 19 anos de idade. Padre Josafá contou que o santo tinha problemas de saúde no sistema digestivo e na coluna, mas mesmo assim se ofereceu para vir ao Brasil. Ao longo do período vivido no país, as doenças não interferiram na missão do jesuíta, e padre Josafá frisou a santa intenção de São José de Anchieta. Diferentemente dos colonizadores europeus, ele não veio à América em busca de riquezas materiais.

— Os colonizadores vinham primeiro para servir ao rei. Segundo, para poder retirar as riquezas. Terceiro, para voltar ao seu país de origem mais ricos. Anchieta tinha intenção de servir a um outro rei, Cristo Jesus. Ele não queria riqueza nenhuma daqui da terra, nunca teve interesse em ouro, prata e esmeralda. O que ele desejava era poder pregar o Evangelho de Jesus. Ele não tinha intenção de voltar mais a sua casa, como nunca voltou. Veio para o Brasil e morreu no Brasil.

Uma das relações feitas por padre Josafá entre o missionário jesuíta e a Laudato Si’ foi sobre a necessidade de encontrar na sociedade um estilo de vida no qual o ser humano possa viver bem com um uso menor de riquezas. Segundo ele, o santo jesuíta fez isto por meio de uma catequese inovadora e pela transmissão dos conteúdos da fé de maneira artística. Padre Josafá destacou o processo de aculturação do religioso espanhol. Ele não impôs a cultura europeia aos indígenas, mas soube mergulhar na realidade dos povos tradicionais e evangelizá-los pelo idioma local. De acordo com o Reitor da PUC, Anchieta traduziu o catecismo e os valores fundamentais do cristianismo, além de escrever a primeira gramática da língua tupi.

Padre Josafá durante a homilia (Foto: Jorge Paulo Araujo)

Outro ponto abordado na homilia foi a visão integradora de Anchieta entre Deus, ser humano e natureza. Padre Josafá resgatou um dos pontos defendidos pelo Papa Francisco em sua primeira encíclica como Pontífice: não separar o meio ambiente da sociedade. A principal obra que manifesta este pensamento é conhecida como o primeiro tratado biogeográfico do Brasil.

— Nesta carta, escrita na Ilha de São Vicente de São Paulo, Anchieta procurou transmitir para sua velha Europa um pouco a visão que existia realmente nestas novas terras. É muito bonito a gente ver que Anchieta não separa a integração profunda entre a visão de Deus, junto aos hábitos dos povos tradicionais e à natureza. Ali, ele fala da biodiversidade, ele fala do clima. Ele fala realmente sobre os usos populares, das plantas, dos animais, ou seja, ele não separa.

Padre Josafá convidou todos os presentes a pedir a São José de Anchieta a graça da criatividade na transmissão do Evangelho, da preservação da biodiversidade e da cultura dos povos tradicionais e o retorno da visão integradora entre Deus, pessoa humana e natureza.

Espaço devocional do Cristo Redentor

O convite para a celebração no Corcovado partiu do Reitor do Santuário do Cristo Redentor, padre Omar Raposo. Ele ficou responsável por acolher os turistas e fiéis que participaram da missa e contou detalhes sobre as obras de arte presentes na Capela Nossa Senhora Aparecida. O nome da igreja, por exemplo, foi dado por conta da propagação internacional da devoção à padroeira do Brasil. Segundo o sacerdote, a imagem da santa que está no templo foi um presente do arcebispo emérito de Aparecida, Cardeal Damasceno, que notou que os turistas estrangeiros não costumam viajar ao Santuário em São Paulo, mas conhecem a “Virgem Negra” quando visitam o Cristo Redentor.

Padre Omar Raposo, Reitor do Santuário do Cristo Redentor (Foto: Jorge Paulo Araujo)

Padre Omar desmentiu a hipótese de que o monumento veio da França e nomeou alguns dos brasileiros responsáveis pela obra, como o Cardeal Leme e o engenheiro Heitor da Silva Costa. O religioso apresentou a obra batizada com o mesmo nome da encíclica do Papa Francisco — Laudato Si’ —, do artista Oskar Metsavaht, inaugurada quatro dias antes. Ele revelou, ainda, que pediu a padre Josafá uma relíquia de São José de Anchieta, que vai solicitar ao Santuário Nacional no Espírito Santo.

— É o Santuário do Cristo Redentor recebendo, criando um espaço de devoção, ampliando ainda mais a atuação devocional dos fiéis e ao mesmo tempo a convergência que existe daqueles que creem no Redentor e que se inspiram na autêntica vida de José de Anchieta. Esta relíquia vai gerar muitos frutos espirituais, vai nos motivar mais e mais para a boa prática pastoral e para a evangelização deste imenso Brasil.

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