A festança foi incrível, a viagem, paradisíaca, e as fotos ficaram ótimas, mas o casamento de verdade vai começar agora, depois da votação do impeachment no Senado, o que deve ocorrer até o dia 29 de agosto.

Sempre que um novo governo assume, a sociedade civil costuma dar um prazo para que medidas sejam implementadas e os resultados, sentidos. Não está sendo diferente com o presidente interino, Michel Temer, no que diz respeito ao ajuste fiscal. Mas a lua-de-mel está chegando ao fim, é hora de lavar as roupas sujas.

A proposta da nova equipe econômica, capitaneada por Henrique Meirelles, que fixa um teto para o aumento dos gastos orçamentários com base na inflação do ano anterior, por um período inicial de dez anos, é um sinal forte de comprometimento com o ajuste. O projeto, no entanto, terá que ser complementado por reformas e, possivelmente, um aumento de impostos. E, ainda, será preciso “enfrentar” o Congresso para que a medida passe a vigorar. A tarefa não é fácil.

O recente detalhamento de alguns pontos da Reforma da Previdência, tornando menos abstratas ideias que podem alterar profundamente as regras das aposentadorias e pensões dos brasileiros, é outro indicativo da vontade do governo em prol de uma casa mais arrumada. Demonstra coragem de mexer numa área prá lá de sensível.

Mas, tirando as boas intenções, até agora, de concreto mesmo, Temer, em meio ao furacão político que assolou o país, simplesmente elevou os gastos públicos e ampliou o rombo fiscal previsto para este ano.

Vejamos algumas dessas medidas implementadas desde que o presidente interino assumiu: aprovação do aumento para os servidores públicos, incluindo aposentados; renegociação das dívidas estaduais; reajuste do Bolsa Família; e renúncia fiscal com a ampliação do Supersimples. São bilhões de reais em gastos extras. Sem querer entrar no mérito das decisões no que tange à recuperação da economia e à costura em troca de apoio político, o fato é que elas vão na direção oposta do que o mercado espera de Temer.

Resta saber se o governo, em nome do ajuste fiscal, conseguirá levar adiante pacotes a princípio não tão generosos, como a concessão de reajustes salariais e do Bolsa Família. Isso mostrará se está realmente interessado num casamento duradouro com o Brasil e se é capaz de unir a sociedade em torno de um projeto para o país.

O mercado, avalista majoritário do processo de impeachment, não será compreensivo para sempre com seu “cônjuge”, caso Temer não comece a executar, neste semestre, o que jurou fazer “no altar”, enquanto Dilma começava a sair de cena.

E, para além do ajuste fiscal, esse compromisso do governo com o país será fundamental para a volta da credibilidade política, mostrando que há, sim, interesses acima dos eleitoreiros.

A conferir.

* Luciana Brafman é jornalista, bacharel em economia e professora da PUC-Rio.