Inovação na arte de desenhar letras
30/08/2017 18:12
Thaís Silveira

Trabalhos são feitos com caneta, pincéis ou digitalmente

Uma nova expressão artística que une desenho, design e poesia: essa é a base do lettering, que pode ser definido como a arte de desenhar letras. De origem inglesa, o nome vem de letter, que significa letra, e da partícula ing, que indica ação. A técnica pode ser feita artesanalmente, com canetas e pincéis, ou de forma digital. Nos dois casos, é um trabalho personalizado, porque, diferentemente da caligrafia, o lettering não segue modelos pré-determinados.

Com o lema Vem, que a poesia vai dominar o mundo, o Paroles é um caso da combinação entre o lettering e trocadilhos poéticos. Idealizada pela estudante de Comunicação Social Marcelle Pepe, a marca foi criada em 2014. Tanto as frases quanto a arte dos quadros são de autoria de Marcelle, que diz tirar a inspiração de qualquer lugar ou momento do dia a dia. Um dos letterings famosos do Paroles - "Maior que uma perda, só um perdão"- surgiu de um erro de digitação em uma conversa por mensagem de texto com uma amiga.

– Gosto de dizer que fui picada pelo trocadilho. É preciso ter um olhar treinado para enxergar e buscar referências. Não sou eu que crio, me é dado e eu vou pintando.

Marcelle Pepe é a idealizadora do Paroles, que nasceu há três anos Foto: Lucas Simões


A falta de inspiração já foi, inclusive, um lettering do Paroles: "Se um dia a fonte secar, a gente muda a letra". Ao longo dos três anos da marca, Marcelle aprendeu a se reeinventar. Prova disso são as canecas e as ecobags estampadas com letterings dela que foram lançadas na Feira de Novos Empreendedores da PUC. Para a designer e ex-aluna da PUC Justine Hack, da Justine Hack Ilustrações, que também expôs na feira, o estímulo costuma vir da música, porque, segundo ela, o trabalho dela é um reflexo do que sente.

– O lettering surgiu na minha vida por meio dos desenhos. Eles representam os meus sentimentos. Em uma aula de design da faculdade, resolvi trazer a letra para o desenho.

A Justine Hack Ilustrações veio de uma união entre desenho e lettering Foto: Lucas Simões


Aluna de Design, Camila Sant’anna começou a desenhar em beiras de cadernos e sempre gostou de ilustrar mandalas e letras. Ao juntar as duas paixões, ela descobriu o lettering. Depois, começou a pesquisar por referências e fez um workshop para aprimorar a técnica. A estudante chegou a vender para várias cidades do Brasil com o Instagram ArtFic, mas atualmente assina como Camissant. Os planos dela são fazer lettering em blusas e canecas e aumentar a produção. Ela diz que prefere fazer o trabalho à mão, mas, às vezes, digitaliza-o depois para fazer uma logo, por exemplo. Camila explica que não é preciso ter materiais caros.

– Gosto muito de fazer lettering só com lápis, caneta e borracha. Pode ter alguma letra torta, algum borrado, mas foi uma pessoa que fez. Acho mais artístico.

Aluna de Design da PUC, Camila Sant’anna quer aumentar a produção de lettering Foto: Lucas Simões


A estudante divulga as obras na universidade Foto: Lucas Simões


Justine também faz todos os letterings e ilustrações à mão, mas vetoriza alguns para conseguir uma regularidade com o traço do computador. Ela já fez workshop de caligrafia e de aquarela, porém, costuma aprender sozinha. A primeira exposição foi em um restaurante em Ipanema, mas a Feira de Novos Empreendedores foi a maior exposição que já participou. Ela conta que, até este ano, nunca tinha pensado em uma identidade visual própria, mas, ao reunir os trabalhos na mostra, viu que os desenhos tinham uma unidade.

– Sempre ilustrei para mim mesma. Expor foi uma das melhores experiências da minha vida, porque foi muito bom ver o carinho das pessoas com o meu trabalho. É uma grande paixão, encontrei o meu caminho. Não sei se vou fazer do lettering e das minhas ilustrações uma profissão, mas quero inspirar as pessoas – comenta.

Marcelle ressalta que o ambiente universitário foi importante para desenvolver a marca. Da Universidade vieram incentivadores, os primeiros clientes e até inspiração. Ela lembra que o início era mais artesanal e que, hoje, a produção é mais voltada para a venda no comércio. Observa, ainda, que é difícil unir arte com negócios, pois os trabalhos artísticos levam um certo tempo.

As encomendas significam também um desafio. Segundo ela, nem sempre é possível entregar um trabalho que tenha a essência dela, porque depende do pedido do cliente. Porém, há uma liberdade em comandar o próprio negócio. Assim como Camila e Justine, Marcelle pretende ministrar workshops.

– Ensinar é uma parte muito legal dos projetos de hoje. O Brownie do Luiz, por exemplo, disponibiliza a receita no site e isso não faz as pessoas pararem de comprar. O que é vendido é um conceito, um modelo de negócio. Se uma pessoa aprende a fazer lettering comigo, ela não vai criar um Paroles.

Mais Recentes
Beleza a favor do ecossistema
Mercado de cosméticos veganos conquista consumidores que lutam contra a exploração animal
A voz que não pode ser calada
A liberdade de imprensa é considerada um direito social conquistado pelos profissionais da comunicação
Diplomacia na escola
Alunos da PUC participam da sexta edição MICC