Inspiração para os dias de hoje
04/04/2018 10:10
Lucas França

Há 50 anos, o pastor Martin Luther King Jr., ícone de luta coletiva e contra o racismo, era assassinado nos EUA

Em 4 de abril de 1968, o doutor e pastor batista Martin Luther King Jr. foi assassinado por James Earl Ray em uma varanda do Lorraine Motel, em Memphis, Tennessee. O motel foi transformado no Museu Nacional dos Direitos Civis (National Civil Rights Museum), tema principal nos discursos e ações de Luther King Jr. Agora, meio século após a morte do ativista, o museu vai promover, de abril até agosto, pelos Estados Unidos, encontros e mesas sobre a data.

Além do museu, o The King Center, centro de não violência e mudança social criado por Coretta King, viúva do ativista, a Comissão de Ética e Liberdade Religiosa (Ethics & Religious Liberty Commission), a Aliança Gospel (The Gospel Coalition) e diversas emissoras de TV prestarão homenagens ao reverendo, com conferências, matérias e sessão jornalísticas especiais em seus sites.

Defensor das direitos civis e líder político, Luther King ganhou força na luta contra a discriminação racial nos Estados Unidos depois do caso de Rosa Parks, uma mulher negra que se recusou a ceder lugar para um homem branco no ônibus, em Montgomery, Alabama, na década de 1960. King e outros líderes negros da cidade organizaram um boicote aos ônibus, que durou um ano e dezesseis dias e culminou com a decisão da Suprema Corte Americana em tornar ilegal qualquer tipo de segregação racial nos transportes públicos.

Filho do reverendo Martin Luther King e da professora Alberta Williams King, King Jr. se formou bacharel em artes no Morehouse College, com especialização em Sociologia, em 1948. Em setembro de 1951, começou a cursar o doutorado em Teologia pela Universidade de Boston, finalizado em 1955. De acordo com

O pastor Valdemar Figueredo, doutor em Ciência Política Foto: Isabella Lacerda
 o pastor Valdemar Figueredo, doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e doutorando em Teologia na PUC-Rio, Luther King uniu o mundo acadêmico e religioso nos discursos.

— King procura uma formação de acordo com as suas características, mas essa formação também o caracteriza, há uma certa mutualidade. É como nós. Procuramos uma coisa com a qual nos identificamos e, enquanto estamos em formação, aquilo que escolhemos também nos forma.

A representante do Coletivo Nuvem Negra Marcella Amorim Foto: Isabella Lacerda

Representante do Coletivo Nuvem Negra da PUC-Rio e aluna de Administração, Marcella Amorim, 23 anos, é cristã protestante e estuda por conta própria a história de Luther King. Ela afirma que o ativista conseguia conciliar características relevantes socialmente para conquistar a atenção das pessoas. Para Marcella, as noções de justiça, Cristianismo e a boa oratória de King foram fundamentais para a construção dele como líder.

— Luther King falava muito bem e tinha um assunto muito importante, estava vivendo aquilo que falava. O perfil de falar sobre amor, sugerir o boicote e não quebrar tudo, dizer que perante Deus somos todos iguais fez Luther King conquistar muitas pessoas.

Inspirações de Luther King

Vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1964, Luther King liderou o movimento negro na fundação da Conferência de Líderes Cristãos do Sul e a aprovação das Leis de Direitos Civis (1964) e Direitos Eleitorais (1965). A principal inspiração dele foi o indiano Mahatma Gandhi, que acreditava na não violência, na organização político e social e nas caminhadas pacíficas, formatos de atuação adotados por Luther King na batalha por uma igualdade para brancos e negros. Em 1948, Gandhi foi assassinado a tiros em Nova Déli, capital da Índia. Figueredo critica a sociedade de Luther King e a atual. Para ele, aqueles que defendem os direitos humanos e civis enfrentam um sistema e se tornam “alvos”.

— Posso deduzir que a sociedade não é humana. Você lutar pelos direitos humanos é ir contra a sociedade conforme ela se organiza. Quem se coloca hoje no enfrentamento de que o humano se sobrepõe ao político, se sobrepõe ao econômico, parece ou louco ou desestabilizador da ordem. Desestabilizando a ordem, vira um alvo.

Legado

Cinquenta anos após a morte de Martin Luther King Jr. os problemas raciais ainda existem. De acordo com números do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention), negros estadunidenses têm, em média, oito vezes mais chances de serem mortos por armas de fogo do que brancos. No Brasil, dados do Atlas da Violência 2017, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostram que jovens negros têm 23,5% mais chances de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças.

Apesar dos números, Marcella acredita que é possível ter esperança. Ela diz que a história de Luther King traz motivação ao movimento negro e, assim como a vida de outros negros e como a história da África, deve ser contada em escolas e universidades.

— Naquela época, na qual o racismo era descarado e os negros apanhavam porque eram negros, ele conseguiu mostrar que poderia existir uma lei que dissesse que brancos e negros são iguais, conseguiu que eles se sentassem em lugares sem precisar se levantar quando brancos entrassem nos ônibus. A gente também pode. Escolas e universidades têm papel de informar. Nós temos um ensino caucasiano, que fala da Europa o tempo todo. Não fala muito dos negros. Não é só o Martin Luther King, muito mais tem que ser falado, desde a história da África até as referências, e porque a gente lutou.

Figueredo acredita que Luther King é importante porque defendeu as causas que acreditava de maneira viva e humana, com contradições comuns a qualquer pessoa. Ele ainda aponta para o fato de que King não estava sozinho na luta que travou.

—É muito difícil, às vezes, dar significado a sua história embalado pela   experiência da sua fé. Acho que isso Luther King apresentou muito bem. Não foi por uma ideologia política, por um partido, por uma causa qualquer. Ele fez o que fez pela fé. Podem ter tido diversos desvios na caminhada. Sim, exatamente como eu e você, é a contradição humana. Outra coisa: ele não foi só. Houve toda uma geração, outros líderes que fizeram aquela composição que deu no que deu.

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