A ginga de IZA
21/06/2018 16:06
Eduardo Diniz

Ex-aluna da Universidade, cantora conversa com alunos sobre a indústria musical e representatividade

IZA participa de bate-papo com alunos na Universidade

Os colegas de bancada de Isabela Lima no Projeto Comunicar não imaginavam que aquela jovem estudante bolsista de Publicidade e Propaganda e moradora de Olaria se tornaria IZA. Seis anos depois de formada, a cantora que domina o cenário do pop brasileiro voltou à Universidade para um bate-papo com alunos. Sorridente e descontraída, IZA contou sobre a evolução da carreira e respondeu às perguntas de uma plateia calorosa que lotou o Auditório Padre José de Anchieta nesta quinta-feira, 21.

A cantora começou a carreira profissional como estagiária de edição da TV PUC-Rio e trabalhou em diferentes agências de publicidade. Nas horas vagas, investia na veia musical por meio de um canal no YouTube, no qual publicava covers de outros artistas para criar um portfólio musical. IZA revelou que chegou a ser demitida três meses depois do primeiro estágio pós-Comunicar, mas não desistiu da carreira de publicitária. Apesar de não se sentir satisfeita com a área, trabalhou por mais tempo no ramo, até decidir pedir demissão e se dedicar à música. Segundo a artista, o grande motivador da decisão foi ouvir de uma colega de trabalho que o emprego ideal é aquele que você faria até de graça.

— Eu tinha muito medo de conviver com a dúvida do que eu gostaria de ser. Não me sentia completa trabalhando com publicidade e resolvi seguir o que eu gostava de fazer. Comecei a stalkear as pessoas que trabalhavam na Warner Music, minha atual gravadora, e mandar os meus vídeos de cover. Uma hora deu certo. Um desses vídeos chegou ao presidente da Warner, que gostou e me chamou para conversar. Saí dali com um contrato em mãos, mas sem saber o que aquilo significava de verdade. Li todas as páginas, mas se eu entendi, isso são outros quinhentos.

Iza deu uma palinha e cantou com alunos que são fãs dela

Dois anos depois, os clipes de IZA passaram de covers com baixo orçamento gravados em casa a produções cinematográficas. Os singles Pesadão e Ginga, os mais famosos da cantora, contam, somados, com mais de 150 milhões de visualizações no YouTube e foram gravados com Marcelo Falcão e Rincon Sapiência, respectivamente, nomes de peso no cenário da música brasileira.

A representatividade para ela também importa. Todos os dançarinos dos dois vídeos são negros, e a locação para o clipe Pesadão, na Zona Norte, não foi por acaso. IZA afirmou que queria homenagear a região e que as pessoas de lá se reconhecessem ao assistir ao vídeo, que foi anunciado antes mesmo de ter sido gravado.

— Fui convidada para cantar no Rock in Rio, em 2017, e precisava usar essa oportunidade para divulgar Pesadão. Na hora de atender a imprensa, usei uma um roupão com 5 de outubro escrito nas costas, data do lançamento do clipe, e, em outra hora, usei outro em que estava escrito Pesadão. Os repórteres ficaram curiosos, e saiu em todos os jornais que eu iria lançar o clipe nessa data. O vídeo, porém, não tinha sido gravado ainda. Não tínhamos marcado nem um dia para gravar com o Marcelo Falcão, e contei com a sorte para dar tudo certo. Gravamos com menos de uma semana de antecedência do lançamento.

Logo após o lançamento, Pesadão alcançou o número um no ranking Viral Brasil do Spotify. IZA confessou que, mesmo com o sucesso, a ficha da fama só caiu ao ser convidada para apresentar o Música Boa ao Vivo, programa semanal do Multishow que convida diferentes artistas para trocarem as canções. A cantora é a primeira apresentadora negra do canal, o que, para ela, significa representar muitas mulheres negras que ainda não têm espaço nos programas de TV. A artista reconheceu, porém, que o lugar que ela hoje ocupa ainda não é o suficiente para acabar com o preconceito.

— Estar em uma capa de revista não significa que o racismo acabou. Eu já sofri muito preconceito e sei que ainda há muito racismo. A gente tem pouquíssimas referências negras na televisão. Se eu pedir para vocês falarem as atrizes negras famosas, vamos pensar nas mesmas pessoas. Antes de ser reconhecida, sentia que não podia estar ali e que não era o meu lugar por não ver pessoas como eu ocupando aquelas cadeiras. Agora, sinto que represento as pessoas e trago um monte de gente comigo.

Fã assumida de grandes nomes como Beyoncé, Rihanna e Katy Perry, IZA ressaltou ter sido influenciada também por muitos artistas da black music graças a seu pai. A cantora se divertiu ao contar que, no período em que morou em Natal, no Rio Grande do Norte, perdeu todos os CDs da Xuxa, da Eliana e da Angélica em uma enchente. Segundo ela, as influências das músicas do pai começaram nesse momento por não ter mais esses CDs. Mesmo com muitos nomes femininos de peso na indústria musical, IZA disse que o meio ainda é muito machista. A carioca afirmou não estimular a rivalidade entre as mulheres e também não inserir, nas letras, trechos que falem de “recalque”. Para ela, lançar os primeiros singles não foi fácil, pois teve de quebrar barreiras na música nacional.

— A Warner Music ficou desesperada com Pesadão. A música era diferente das que tocavam nas rádios, e ficamos com medo da recepção do público, mas deu tudo certo. Fazer uma música e lançar um clipe é muito difícil. Tem toda uma logística complicada por trás de cada single. Além disso, a música precisa passar verdade. É muito fácil ver quando um artista cria algo só para vender e fazer sucesso, e o público não gosta disso. As letras têm que passar verdade, o que o artista realmente acredita. Para emocionar alguém você precisa, primeiramente, estar emocionado.

IZA garante que os números não são o principal. Segundo ela, o reconhecimento de ter uma música entre as mais tocadas do país é muito bom, mas, ressaltou, como uma virginiana típica, o objetivo é entregar ao público um produto de qualidade. E, para garantir isso, a artista disse participar de todos os processos de produção, desde a escrita da letra até a edição final do vídeo. A cantora comemorou que, finalmente, terá um show completo apenas de músicas autorais. O próximo passo será o lançamento da turnê do novo álbum, Dona de Mim, ainda sem data de estreia.

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