Como parte das atividades de conscientização do Setembro Amarelo, o Departamento de Psicologia, em parceria com a Rede de Apoio ao Estudante (RAE), promoveu a palestra Os Desafios da Educação em Prevenção e Posvenção do Suicídio na quinta-feira, 27. As psiquiatras Luciana Mendes e Maria Lúcia Abreu e a psicóloga Izabela Guedes abordaram o suicídio pela ótica filosófica, com ênfase na adolescência e no meio social.
Luciana citou uma pesquisa divulgada pela Organização Mundial da Saúde, em 2016, sobre suicídio, que faz alerta de que, a cada 40 segundos, uma pessoa no mundo tenta tirar a própria vida. Na análise da psiquiatra, a associação mística descrita na Bíblia, na Torá ou na Mitologia Grega ainda é presente nos dias atuais. A desmitificação do suicídio, para Luciana, é de extrema importância para que se possa compreender o ato e a motivação da pessoa com profundidade.
- Na teoria de Durkheim, o suicídio está relacionado com a socialização. Quando uma pessoa não tem laços fortes o suficiente, não vê muito sentido para viver, não tem apoio. Claro que esse é apenas um olhar, uma motivação, mas só pelo fato de analisarmos o suicídio como um problema de saúde pública, a coisa já muda de figura, tratamos de outra forma. Aos poucos, não há mais um castigo divino, uma demonização.
Identificar sinais suicidas na adolescência é definido por Maria Lúcia como um desafio. A crença popular da “fase de aborrecente” é um dos principais fatores que dificultam o reconhecimento por parte de pais, colegas e professores. O bullying também foi considerado pela psiquiatra como um motivador do suicídio entre jovens de 10 a 19 anos.
- Fica muito difícil de perceber porque, para os pais, se o adolescente passa a semana inteira trancado no quarto e vai para a balada final de semana, é normal. E não é assim. Muitas vezes, a balada e a bebida são um escape. O bullying hoje não termina quando o jovem chega em casa, ele se transfere para o cyberbullying. Ele se vê em uma posição sem saída, sem fuga. O álcool ou as drogas são usadas por esses jovens para dar coragem.
A conscientização, o meio social e a ampliação dos conhecimentos sobre como identificar e lidar com os suicidas foram os pontos destacados pela psicóloga Izabela Guedes. A culpa, segundo ela, é sempre transferida para a família, para a escola ou para o trabalho, mas não há uma ação conjunta para a prevenção e pósvenção. Ela ressalta, também, os valores machistas como responsáveis tanto pelo pequeno número de homens que faz terapia quanto pela maioria masculina que tira a própria vida.
- Para o homem é muito difícil falar sobre a própria dor porque eles têm essa obrigação social de serem fortes e não falarem do que estão sentindo. Isso é muito ruim e reflete diretamente no número de homens que se suicidam. É preciso ampliar a conscientização para pessoas de todas as idades, profissões, áreas, condições financeiras.