Segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio faz 800 mil vítimas, por ano, no mundo. Os números mobilizaram universidades a promover discussões sobre o assunto no Setembro Amarelo, mês mundial de prevenção ao suicídio, já que os altos índices de casos nessa faixa etária incluem, muitas vezes, universitários. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também ressalta que a cada 40 segundos um caso de suicídio é registrado no mundo. Por essa razão, psicólogos e psiquiatras criam campanhas de abordagem do tema em diferentes ambientes sociais.
Um levantamento feito pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) revela que oito em cada dez estudantes de graduação relatou já ter tido problemas como tristeza, ansiedade e sensação de desesperança. Mais de 6% desses alunos contaram ter ideias de morte, e cerca de 4% já tiveram pensamento suicida. Os dados mostram que o estresse dentro de Universidades influencia jovens a tirarem a própria vida no Brasil.
Gabriel Jorge Loureiro, de 20 anos, é um dos nomes por trás dos números. O ex-aluno de Arquitetura da UFRJ saiu da faculdade, no começo deste ano, por causa da depressão e do estresse do meio acadêmico. O estudante, que já tinha depressão desde a época do vestibular, teve as dificuldades agravadas quando ingressou no Ensino Superior. Ele explica que a crueldade de alguns professores, problemas com a infraestrutura da universidade e a dura rotina acadêmica provocaram consequências desastrosas na doença.
– No meio do meu primeiro período, o prédio pegou fogo, isso acarretou diversos problemas na faculdade, somados com as dificuldades da grade curricular. Eu tinha menos de 30 minutos para almoçar e isso era normal entre meus colegas.
Para a psiquiatra e professora Fátima Vasconcelos, do Departamento de Medicina, muitas vezes a pressão nos alunos é resultado da pressão do curso nos professores. Segundo ela, o corpo docente das instituições é obrigado a cumprir as demandas de currículos extensos. Ela utilizou o exemplo da USP, que busca, após quatro casos de tentativa de suicídio este ano, abordar a didática, e outras formas de executar projetos, como o Escritório de Saúde Mental na universidade.
– Houve uma situação na USP em que quatro alunos tentaram suicídio. Existe realmente um currículo pesado, uma exigência grande e, além da exigência do currículo, o que complica é que a pessoa também coloca em si um nível de exigência muito grande.
Já no primeiro período, Loureiro estudou com professores considerados carrascos pelos alunos veteranos. Ele disse que se sentiu desestimulado por esses educadores e que a situação piorou com a intolerância deles com o os tremores que o estudante tinha nas mãos. Isso era efeito colateral de medicamentos e fazia com que Loureiro demorasse mais a fazer os desenhos. O rapaz relembra que foi, inclusive, orientado a trocar de curso por uma das conselheiras da Universidade.
– Pensei em me matar em alguns momentos, eu sempre me pressionei demais, não estava indo bem no curso e não sentia mais vontade de ir para a faculdade. Quando eu pensava em ir para a faculdade era para pular terraço do prédio. Mas meus pais me fizeram repensar, eles sempre me apoiaram e acompanharam.
O apoio dos pais, familiares e amigos é fundamental no tratamento da depressão e na prevenção do suicídio, segundo o autor do livro Viver é a Melhor Opção – A Prevenção do Suicídio no Brasil e no Mundo professor André Trigueiro, do Departamento de Comunicação Social. Trigueiro conversou com alunos e professores da Universidade no encontro promovido pelo Equilibrium, Programa da Promoção da Vida e do Bem-Estar da Vice-Reitoria Comunitária. Trigueiro afirma que a discussão não deve ser limitada a profissionais da saúde.
– Cabe à família e amigos também reconhecer os padrões, observar e incentivar o jovem. Mostrar que há alguém ali para ouvi-lo. Identificar e tratar a doença é como desmontar uma bomba relógio.
O professor aborda o tema a partir de dados da OMS, e explica a diferença entre estado depressivo e depressão. Segundo ele, o chamado estado depressivo é normal e saudável, é apenas um momento de tristeza que ajuda o indivíduo aprender a lidar com a dor. O problema, ressalta, é quando a tristeza é permanente e ressalta que, se esse processo se prolongar, a pessoa deve procurar uma ajuda.
Um auxílio pode ser o número de telefone 188, do disque do Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece apoio emocional e prevenção do suicídio por meio da escuta voluntária. Sob total sigilo, e de forma gratuita para todo o país, cerca de 2.400 voluntários treinados realizam mais de 2 milhões de atendimentos por ano. A CVV também disponibiliza ajuda por chat, e-mail e Skype, 24 horas por dia, além de 93 postos de atendimento espalhados por 19 Estados e Distrito Federal.
Fátima Vasconcelos afirma ainda que 97% dos casos de suicídios são de pessoas com alguma doença psicológica. Por essa razão, ela ressalta a importância de a população ter consciência que os suicídios ocorrem porque as vítimas estão doentes, não por escolha. Para ela, é necessário falar para evitar.