Violência em contexto
01/10/2018 12:29
Luana Vicentina e Lucas França

Seminário de Pós-Graduação em Serviço Social discute projetos de pesquisa sobre violência desenvolvidos pelo Departamento

Foto: Gabriela Azevedo.

Retrocesso de direitos e estratégias de resistência foram pauta do IV Seminário de Pós-Graduação em Serviço Social, organizado pelo Departamento de Serviço Social da PUC-Rio, em parceria com o Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância e a FAPERJ. No encontro, realizado dia 27, no Auditório Padre José de Anchieta, os palestrantes apresentaram a produção da linha de pesquisa sobre violência pela perspectiva dos estudantes de pós-graduação.

A abertura foi feita pelos professores do Departamento de Serviço Social Antônio Carlos de Oliveira, Ariane Rego de Paiva e Irene Rizzini, organizadores do encontro. Eles explicaram os propósitos do seminário e lembraram as edições anteriores, caracterizadas como oportunidades de troca de experiências entre alunos e professores. Há poucos dias das eleições, os professores reforçaram a necessidade de debater sobre a violência no país, que se intensifica no período eleitoral.

Abertura do Seminário. Foto: Gabriela Azevedo.

Na primeira mesa, a professora Miriam Krenzinger (UFRJ), o antropólogo Luiz Eduardo Soares e o professor da Universidade de Guadalajara, no México, Ricardo Fletes, abordaram sobre as causas da violência no Brasil e o que pode ser feito para reduzi-la. Miriam reforçou a importância de se definirem as áreas de atuação dos profissionais do setor de segurança. Para ela, os policiais também devem ser agentes sociais e precisam receber orientações adequadas para agir de modo mais humanitário. Ela teceu críticas sobre a intersetorialidade do Serviço Social e ressaltou o papel do servidor.

— O assistente social começa a se desviar de seu lugar de ser aquele que articula as políticas sociais para acessar direitos e vira um profissional investigador. Esse é um lugar de poder da justiça que não nos pertence enquanto política social.

Miriam defendeu que a cultura do ódio deve ser combatida. De acordo com ela, o encarceramento gera um sentimento de vingança na sociedade, mas não é uma medida efetiva. A professora apontou ainda que devem ser tomadas iniciativas de responsabilização penal no lugar do encarceramento em massa.

Segurança pública, justiça criminal e desigualdades sociais foram os pontos abordados pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares. Ele discutiu sobre os casos de homicídios dolosos e lembrou que, das 63.880 mortes que ocorreram em 2017, apenas 8% desses casos foram investigados no Brasil.

Antropólogo Luiz Eduardo Soares. Foto: Gabriela Azevedo.

Autor do livro que deu origem ao filme Tropa de Elite, Soares explicou como a Polícia Militar é incitada a prender e proibida de investigar, sendo essa a principal causa para as prisões em flagrante. Ainda de acordo com ele, esse comportamento, que provém da militarização da Polícia, desencadeia em uma série de problemas como a subordinação da aplicação das leis a um filtro seletivo e, consequentemente, a instauração do racismo estrutural.

— Nós temos a terceira maior população carcerária do mundo. Se nos debruçarmos sobre esses dados, vamos perceber como se instaura o racismo estrutural no Brasil. Cerca de 70% da população penitenciária é composta por negros. Isso significa uma diferença muito expressiva em relação a distribuição da população. Há, portanto, uma hiperinflação da população negra entre a população criminalizada. Eles são, sobretudo, jovens de baixa escolaridade.

O antropólogo frisou a escassez de iniciativas de ressocialização do sistema punitivo, que impossibilita ainda mais a saída desses jovens do mundo da criminalidade. O professor Ricardo Fletes concluiu as análises e estabeleceu um paralelo entre a violência no Brasil e no México. Ele mencionou as manifestações estudantis que têm ocorrido no México. Para ele, é preciso resgatar a segurança do Rio, pois, segundo ele, tem um o povo que, mesmo em meio às dificuldades, consegue ser feliz.

Violências Atuais

A mesa Violências e Violações de Direitos, do IV Seminário Violência em Contexto, foi realizada na quinta-feira, 27, na parte da tarde. Quatro doutorandos e mestrandos do Departamento de Serviço Social apresentaram pesquisas relacionadas com a linha de pesquisa geral do seminário. Os professores Antonio Carlos de Oliveira e Ariane de Paiva, que são orientadores dos trabalhos apresentados, mediaram o debate.

A diretora do Departamento de Serviço Social, professora Andréia Clapp, parabenizou a organização do seminário e disse que o tema Violência em Contexto é da “máxima importância” na atualidade. Ela afirmou que os jornais e rádios do país sustentam o fato de que vivemos um tempo de agressão. Para a diretora, a abordagem de um tema como este e as discussões geradas ressaltam a importância do Departamento de Serviço Social.

Andreia Clapp. Foto: Gabriela Azevedo.

— É só abrirmos qualquer jornal ou ligar o rádio, e o que mais vamos ver é violência. É a violência sempre olhada na redução dos direitos e das grandes conquistas que tivemos via movimento social, sociedade civil organizada. Estamos vendo um quadro de retrocesso que nos assusta muito.  Parabenizo a organização do evento, acho que isso retrata uma trajetória forte e representativa do Departamento e da Pós-Graduação de Serviço Social da PUC.

Quatro pesquisas foram apresentadas na mesa. A primeira foi a da doutoranda Gisele Ribeiro Martins, intitulada “Amanhã eu quero que não tenha tiro” – Um estudo sobre a violência no cotidiano de vida de crianças e adolescentes moradores de favela. Gisele atua há seis anos no Complexo de Favelas da Maré e fundamentou a pesquisa a partir dos processos de naturalização da violência que as crianças e adolescentes passam na comunidade. Ela contou que a ideia principal do trabalho é gerar resultados para as próprias comunidades.

— Com a pesquisa, quero dar visibilidade para as condições de vida, produzir análises mais aprofundadas sobre a questão da naturalização da violência e, claro, realizar ações concretas na Maré, que é meu espaço de atuação profissional.

Gisele Ribeiro. Foto: Gabriela Azevedo.

A fala de Gisele foi seguida pelo mestrando João Rafael da Conceição, que apresentou a pesquisa As prisões como farsa: uma análise do trabalho profissional do assistente social no sistema prisional do Rio de Janeiro. Depois dele, foi a vez da mestranda Roberta Gomes Thomé, com o trabalho Crianças e adolescentes refugiados e solicitantes de refúgio no município do Rio de Janeiro: desafios e perspectivas para a proteção.

O doutorando Moisés Santos de Menezes concluiu a mesa com a apresentação da pesquisa A violência contra a diversidade sexual e de gênero em Sergipe: uma análise dos registros oficias da Secretaria de Segurança Pública entre os anos de 2015 e 2017. Santos afirmou que não existe legislação de apoio à minoria LGBT no Brasil e que a homofobia também atinge as pessoas próximas aos gays, lésbicas, bis, travestis e transexuais.

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