Bernardinho: de aluno exemplar a bicampeão olímpico
15/05/2019 17:17
Juan Pablo Rey

Conhecido por ser um líder nato, ex-aluno da PUC-Rio Bernardo Rezende é considerado um dos maiores técnicos da história do voleibol

Bernardinho tem se dedicado ao ensino do empreendedorismo. Foto: JP Araújo

Esqueça por alguns minutos a imagem do técnico de vôlei Bernardinho que esbraveja, sofre e comanda os jogadores à beira da quadra. Quem cruza com o ex-técnico da seleção masculina e atual técnico do Rio de Janeiro nos corredores da Universidade conhece outra faceta de Bernardo Rezende: o professor tranquilo, atencioso não apenas com seus alunos, mas com quem o aborda para conversar, tirar foto ou mesmo discutir sobre a recente paixão dele: o ensino do empreendedorismo.

Bernardinho relembrou o período na Universidade como estudante, as inspirações que teve ao longo da carreira e a importância do estudo para o desenvolvimento dos atletas. Ele relatou também como foi o retorno à PUC-Rio, desta vez como professor auxiliar do curso de empreendedorismo do Núcleo de Pesquisa e Ensino do Empreendedorismo (NUPEM).

O currículo do técnico é impressionante. Apenas com a seleção masculina de vôlei, foram dois ouros olímpicos, três Campeonatos Mundiais, duas Copas do Mundo, três Copas dos Campeões e oito Ligas Mundiais. O que poucos sabem é que, em 1984, Bernardinho se formou em Economia pela PUC-Rio. O ex-atleta lembra com carinho da experiência na Universidade.

- Sempre foi um ambiente aberto, dinâmico, de muita troca de informação e conhecimento. Era uma ilha de descobertas diferentes da minha área. Saía de um treino de manhã, vinha para cá e passava horas para voltar para o treino. Para mim, era uma forma de sair daquela pressão, da tensão e até mesmo da dor física. Fiz grandes amizades no esporte, mas fiz grandes amigos aqui também, em um outro tipo de ambiente, uma outra “tribo”.

O atual técnico do Rio de Janeiro conta que a remuneração para jogadores do vôlei começou justamente na época em que ele iniciou a atuar profissionalmente e que, pela incerteza do futuro na carreira, decidiu dedicar-se também à faculdade. Em 1984, por exemplo, o então atleta dividiu os estudos com as Olimpíadas de Los Angeles.

- Não me via como um profissional do esporte na sequência da minha vida. Por isso me dediquei e me formei em economia. Era um bom aluno, estudava, e tinha excelentes professores. Pessoas que me fizeram entender que precisava abrir a mente. Uma das características do líder é estar aberto a um mundo mais amplo.

Segundo Bernardinho, a graduação foi algo essencial para o sucesso no esporte. Ele cita o modelo americano, em que os jogadores dividem os estudos universitários com as diversas modalidades esportivas, para justitifcar a necessidade de investir mais em educação e esportes no Brasil. Bernardo lembra um episódio ocorrido após a derrota para os EUA, na final das Olimpíadas de 1984, para defender sua tese.

- Ter acesso a livros, casos e coisas dessa natureza certamente ajudam como pessoa. Estatística, por exemplo, tem tudo a ver com o esporte hoje. Nos EUA, o esporte tem tanto êxito não apenas porque tem grandes condições, mas porque os nomes educação e esporte estão conectados. Os jovens têm uma formação acadêmica e, paralelamente, se desenvolvem esportivamente. A capacidade cognitiva deles de tomar decisão é desenvolvida. Após a derrota para os EUA em 84, conversei com meu companheiro Montanaro, que estava desolado no vestiário. Segundo ele, faltou banco de escola. Faltou capacidade de concentração, estudar mais, ver mais vídeos. Temos que ter um modelo diferente de esporte.

O treinador se formou em economia pela PUC-Rio em 1984. Foto: Maloni Cuerci

Inspirado em um de seus ídolos, o ex-treinador de basquete americano John Wooden, Bernardinho criou a Roda da Excelência, que norteou o trabalho dele durante toda a carreira. O método surgiu após o técnico ler um livro de Wooden chamado A Pirâmide do Sucesso. Na obra, havia vários blocos, e cada um deles significava um valor considerado essencial: integridade, trabalho em equipe, resiliência, dentre outros. O treinador conta que decidiu “modernizar” o trabalho do ex-técnico americano.

- Foi a origem de tudo. O mundo moderno exige uma certa velocidade, uma roda que gire, mas que tenha valores. A estrada seria a estrada do planejamento, mas os valores que estão na roda são perenes. Trabalho em equipe, perseverança, programação, disciplina. Estes são os valores essenciais para construir uma carreira de sucesso. Portanto, os valores giram pela estrada fixa do planejamento.

Conhecido pela busca incessante da excelência, Bernardinho acredita que um time só pode ser considerado como tal quando unido. O técnico também cita alguns dos vários livros que possui, de professores e treinadores de sucesso, que relacionam o esporte com liderança, e outros valores considerados indispensáveis por ele.

- Um time só se torna um time quando estão todos comprometidos com uma causa em comum, um propósito coletivo. Claro que se tiver muito talento, melhor ainda. Mas se esses super talentos não jogarem como um time a chance de não dar certo é enorme. Admiro o treinador Bill Belichick, do New England Patriots, não só porque ele vence, mas por como ele trabalha. Tenho milhares de livros conectando esporte, liderança e valores de atletas.

Como um bom estudioso, Bernardinho conta que pretendia voltar à vida acadêmica. E a oportunidade surgiu em 2017. Convidado pela professora Luiza Martins, do Núcleo de Empreendedorismo da PUC-Rio, o técnico retornou à PUC em uma função diferente da que estava acostumado: a de professor do curso de empreendedorismo. Bernardo afirma, com orgulho, que faltou apenas uma vez em dois anos.

- A Luiza instigou minha volta. Como ela está voltada para o empreendedorismo, criamos esse curso. É muito prazeroso, o limite é em torno de 35 alunos, e a sala está sempre lotada. É emocionante ver isso. A primeira aula que faltei foi semana passada, porque tivemos um jogo em Bauru e não tinha como vir. Foi a primeira em quatro semestres! Já estava com vontade de voltar para o mundo acadêmico e para este ambiente que é enriquecedor e rejuvenesce.

Técnico lembra com carinho dos pódios Olímpicos. Foto: Maloni Cuerci

Questionado se havia um título considerado mais especial, ele citou a família para dizer que as Olimpíadas do Rio, em 2016, foi a medalha mais valiosa ostentada no peito. O título foi conquistado no último dia de competições em uma vitória categórica contra a poderosa Itália por 3 sets a 0.

- Ganhar a medalha de ouro olímpica no Rio de Janeiro, minha cidade natal, com a família toda lá, no último dia, foi espetacular. E com meu filho jogando dentro da quadra. Seria hipocrisia dizer que não é especial tudo isso. Minhas filhas, que tinham 7 anos e 15 anos na época, se abraçaram chorando junto ao irmão.

Perguntado sobre como manter a sede de vitórias depois de tantas conquistas, o técnico respondeu no melhor estilo Bernardinho:

- Daqui a pouco vou dar treino e amanhã tem um jogo decisivo de vida ou morte. 'Mas cara, você já ganhou duas Olimpíadas'. Não importa, para mim é a mesma coisa! Só vale a próxima! Sou de uma família de classe média, tive acesso a uma excelente Universidade, me formei em economia. É paixão, não é que eu precise, mas eu amo o processo.

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