Avanço sobre o desconhecido
27/09/2022 16:57
Fernando Annunziata, Giulia Matos, Luzi Alves e Rafael Serfaty

No XXX Seminário de Iniciação Científica da PUC-Rio, alunos da Universidade recebem certificados e discutem o ofício da ciência neste século

A Diretora do Departamento de Artes e Design, professora Jackeline Lima Farbiarz,a Coordenadora Central de Graduação, professora Daniela Vargas, e o Coordenador Central de Pós-Graduação e Pesquisa da PUC-Rio, professor Danilo Marcondes de Souza Filho. / Foto: JP Araujo

Alunos e professores da PUC-Rio foram homenageados no dia 23 de setembro,  durante a cerimônia de encerramento do XXX Seminário de Iniciação Científica e Tecnológica da PUC-Rio, no salão da Pastoral da Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Na solenidade, organizada pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e Tecnológica (PIBIC/PIBITI), foram concedidos certificados aos participantes do projeto e prêmios para os estudantes e orientadores de destaque. Os 30 anos de pesquisa acadêmica na Universidade também foram festejados.

O Seminário foi conduzido pelo coordenador do PIBIC PUC-Rio, professor Sinésio Pesco, e o discurso de abertura foi realizado pela diretora do Departamento de Artes & Design, professora Jackeline Lima Farbiarz, que representou o Reitor Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J.. Jackeline, que também é Assessora para Assuntos de Extensão, aclamou o retorno presencial da celebração, após a pandemia, e parabenizou os alunos que participaram do Programa de Iniciação Científica. Ela ainda enfatizou que todos são vitoriosos e incentivou os estudantes a acreditarem em si e lutarem para fazer a diferença.

— O que eu tenho por vocês, mais do que respeito, é a certeza de que a esperança existe, ela é hoje, é aquilo que a gente faz hoje. A decisão que vocês tomaram há um ano, quando se tornaram bolsistas PIBIC e PIBITI, está aqui, refletida nesse momento. E, hoje, vocês podem dizer: eu fiz, eu consegui. Desejo que sempre acreditem em seu potencial e lembrem-se que podem fazer a diferença para quem está ao lado.

Desinformação versus esperança

A professora Clarisse Sieckenius de Souza, do Departamento de Informática, foi convidada para ministrar a palestra “O ofício de buscar conhecimento no século XXI”, que discutiu a importância da verdade científica diante de uma sociedade que acredita em notícias falsas. Ela é Professora Emérita do Departamento de Informática (INF) da PUC-Rio, onde atuou por mais de 30 anos na área de Interação Humano Computador. É reconhecida internacionalmente como fundadora da engenharia semiótica associada ao design de linguagens e interfaces para usuários. Foi coordenadora do Semiotic Engineering Research Group (grupo de pesquisa em Engenharia Semiótica), hoje parte do laboratório de Ideias.

Clarisse abriu a conversa com uma celebração de retorno ao presencial após dois anos de pandemia, e realçou a importância da ciência, sobretudo da tecnologia e da inovação, neste período.

— É um ano em que cientistas e engenheiros tiveram um protagonismo que, na minha visão, foi sem precedentes. No século passado, estes profissionais também tiveram esse protagonismo na Segunda Guerra Mundial e, infelizmente, foi associado à construção da bomba atômica. Este ano, estamos diante de uma realidade em que cientistas e engenheiros se reuniram para criar a vacina. É um protagonismo que faz a gente se sentir orgulhoso.

professora Clarisse Sieckenius de Souza durante palestra. / JP Araujo

Por outro lado, a professora realçou que a tecnologia também foi protagonista na disseminação de notícias falsas no período. De acordo com ela, os deepfakes - uma tecnologia que usa Inteligência Artificial para criar vídeos falsos, porém realistas -, foram amplamente usados para espalhar narrativas falsas.

— Nunca na minha experiência de vida tivemos tantos recursos para desnortear as pessoas em relação ao que é e o que acontece. Parte destes recursos são tecnológicos, como a Inteligência Artificial, que permite por meio do deepfake que vejamos vídeos de uma pessoa que conhecemos e, no entanto, ela está dizendo coisas que não podemos acreditar. E é bom não acreditar, porque esta personalidade de fato não está dizendo aquilo.

A professora fez uma ponte com a verdade científica desenvolvida pelos participantes do PIBIC/PIBITI. De acordo com a cientista, as pesquisas do projeto desafiam os discursos mentirosos divulgados nas redes sociais e, por isso, ganham ainda mais importância para a sociedade.

— É o nosso discurso desafiado por esses discursos mentirosos. Como memes, tweets, mensagens no WhatsApp e em outras redes sociais podem ser as métricas para medir os esforços da atenção que alguém é capaz de nos dar? Nós, cientistas, temos muito a dizer, mas os ouvidos que nos dão são pequenos. E o drama de todos nós, que fazemos pesquisa, é que precisamos muito mais do que 140 caracteres para realizarmos o nosso ofício.

Clarisse afirmou, no entanto, que os cientistas não sabem tudo. Segundo ela, a classe deve lidar constantemente com uma glorificação da ciência: a indústria de publicações muitas vezes se interessa apenas pelo que dá certo. A professora apontou que, para os cientistas, há uma obstinação irredutível pela correção dos erros e pelo avanço sobre o desconhecido.

— Todo cientista busca a verdade, mas também todo cientista tem apenas o seu tempo e o seu espaço de vida para pensar. É preciso tratar a verdade com muita humildade, com muita reflexão. Ninguém precisa ficar ansioso diante do que não sabe, do que não entende. Pelo contrário, nós somos investigadores interessados, quanto mais não soubermos, quanto mais tivermos para aprender, melhor. O conhecimento se transmite de geração em geração como uma tocha viva.

Professora Clarisse Sieckenius. / Foto: JP Araujo

Ela disse que o ofício de pesquisar não é um esporte: trata-se de juntar esforços, enunciar soluções para problemas e aflições da humanidade. Porém, ela acredita que questionar as soluções e as consequências é tão importante quanto. A professora observou que os cientistas devem agir como uma imensa organização ética e competente, em que todos estão envolvidos e são responsáveis. Segundo ela, é importante sair da zona de conforto e se abrir para o diferente.

— A nossa coragem de nos abrir para o que é desafiador é urgente. Pela  transdisciplinaridade, vamos aprender a viver na fronteira do diferente. É exatamente o lugar em que o papel do outro é tão importante. Espero que aqui na PUC-Rio possamos dar um impulso nessa transdisciplinaridade.

Pesquisadores premiados

Após a palestra, os certificados foram concedidos aos mais de 100 alunos que integraram o programa. A Diretora do Departamento de Artes e Design, professora Jackeline Lima Farbiarz, o Coordenador Central de Pós-Graduação e Pesquisa da PUC-Rio, professor Danilo Marcondes de Souza Filho, e a Coordenadora Central de Graduação, professora Daniela Vargas,  participaram da entrega de troféus e menções honrosas para os estudantes e orientadores. A premiação destaque foi dividida em três categorias, PIBIC, PIBITI e Iniciação Científica.

Os vencedores dos Prêmios Destaques representam os diferentes centros da Universidade, como o Centro de Ciências Sociais (CCS), Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH) e o Centro Técnico Científico (CTC). Os alunos receberam uma placa e um vale de R$ 600 para utilizar na livraria Carga Nobre, no Edifício Cardeal Leme, e os orientadores ganharam um certificado e um vale no mesmo valor.

A estudante de Administração Luiza Pardellas Pires e Albuquerque foi uma das vencedoras da categoria de Iniciação Científica pela pesquisa “A história de Marilena Lazzarini como ativista consumerista no Brasil e no exterior”.  O trabalho foi produzido sob orientação do professor Marcus Wilcox Hemais, da Escola de Negócios da PUC-Rio (IAG). A estudante mencionou e explicou quem é a principal figura de inspiração para o projeto, Marilena, especialista em Economia Regional e Urbana pela Universidade de São Paulo, e descreveu os desafios enfrentados para a realização da pesquisa durante a pandemia.

— Marilena foi uma defensora incansável no Brasil, e no mundo afora, na luta pelos direitos do consumidor. Ela obteve uma posição de destaque tanto no país, quanto nos Estados Unidos, com a participação em uma das principais instituições correspondentes a este tema, que é a Consumers International.  É um papel super importante e representativo. A pesquisa foi feita no momento da pandemia, o que é desafiador, mas acredito que um dos grandes obstáculos foi a procura por dados, reportagens, para a composição do trabalho. Por ser história, é preciso buscar por estes materiais que foram produzidos anos atrás. Estou muito orgulhosa pelo projeto e muito grata ao meu orientador.

Professora Daniela Vargas e a vencedora da categoria Iniciação Científica, Luiza Pardellas. / Foto: JP Araujo

Kleber de Jesus da Silva também foi recompensado com um troféu na categoria de Iniciação Científica. Aluno de Design na Universidade, ele produziu a pesquisa “Estudo dos Fazeres” e foi orientado pelo professor Nilton Gonçalves Gamba Junior, do Departamento de Artes & Design. Segundo Silva, o projeto, que teve início durante a pandemia, tinha o objetivo de analisar as pessoas que trabalham com o Carnaval e ajudá-las a ganhar visibilidade na sociedade.

— Na pandemia, os trabalhadores da cultura, as pessoas que têm como forma de renda o Carnaval, estavam impossibilitadas de exercer seu ofício. A partir disso, entrevistamos integrantes desse meio e divulgamos o resultado da pesquisa nas redes sociais. Isto ajudou para que eles obtivessem visibilidade nas plataformas digitais neste momento caótico que enfrentamos. Com a vacinação, retornamos com uma oficina de confecção de fantasia na Grande Rio, que ocorre em participação com a Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e do Instituto Federal do Rio de Janeiro. O meu PIBIC se deteve ao registro dessa oficina, a observar todo o processo, de coleta, confecção, até o desfile na avenida.

Silva enfatizou o quão impactante foi produzir a pesquisa, pois conseguiu acompanhar de perto a transformação de materiais, muitas vezes vistos como lixo, em fantasia. Ele também afirmou estar contente com o reconhecimento de todo o estudo, com a recepção do prêmio.

— Este Carnaval foi muito gratificante, toda a temática, além da proposta socioambiental que mantivemos durante o processo na oficina. Estou muito surpreso e feliz com este prêmio na categoria de Iniciação Científica. Eu não esperava.  Fico bastante alegre com o impacto social que envolve este projeto, que é uma questão que carrego como propósito de vida.

Professora Jackeline Farbiarz e o vencedor da categoria Iniciação Científica Kleber Jesus. / Foto: JP Araujo

Prêmios e menções honrosas

As pesquisas que mais se destacaram receberam menção honrosa da Universidade ou prêmio destaque. Como prêmio destaque da categoria PIBIC: Amanda Chami, orientadora professora Thula Rafaela de Oliveira Pires (CCS),  Igor Carneiro dos Santos, orientador professor Gero Artur Hubertus Thilo (CTC) e Vitor Jardim Siffert Pereira de Souza, orientadora professora Rosana Kohl Bines (CTCH).

Como prêmio destaque da categoria PIBITI: Emilly Alves, orientador professor Marco Antonio Maggiolaro (CTC) e Guilherme Marandino Durão, orientadores professora Luiza Novaes e professor João Bonelli (CTCH).

Como vencedor da categoria iniciação científica: Luiza Pardellas Pires e Albuquerque, orientador professor Marcus Hemais (CCS), Raphael D. I. Bittencourt, orientadora professora Luciana S. Pessôa (CTC) e Kleber de Jesus da Silva, orientador professor Nilton Gonçalves Gamba Junior (CTCH).

Menção Honrosa pela categoria PIBIC: Isabelle Viana, orientadora professora Angela Paiva (CCS), Maria Cecilia da Silva Oliveira, orientadora professora Ana Lole (CCS), Rafaela Moreira de Azevedo Ribeiro, orientador professor Bruno Fazeres (CTC), Daniel Schreiber Guimarães, orientador professor Sérgio Lifschitz (CTC), Daniel Alves da Silva Lavinas, orientadora professora Ana Luiza Nobre (CTCH), e Bárbara Nobre da Fonseca, orientadora professora Maria Manuela Rupp Quaresma (CTCH).

Menção Honrosa pela categoria PIBITI: Danielle Soares de Oliveira, orientadora professora Helenice Charchat Fichman (CTCH), e Ana Cristal de Melo Barroso, orientadora professora Giselle Martins dos Santos Ferreira (CTCH).

Professores e alunos durante o XXX Seminário de Iniciação Científica da PUC-Rio. / Foto: JP Araujo

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