A Universidade em tempos de mudanças
02/05/2019 14:44
Editor Chefe

O Reitor da PUC-Rio afirma em artigo que a universidade é um espaço privilegiado cuja missão é manter, mesmo com mudanças sociopolíticas, a verdade, a reflexão e a justiça.

Criada para promover a formação cultural e intelectual da pessoa humana, desenvolver e aprofundar o ensino e a pesquisa, cultivar e difundir os diferentes saberes científicos, formar profissionais competentes, promover o intercâmbio e a cooperação com outras instituições, inserir na realidade para atender as demandas da sociedade, e colaborar com a formação integral dos discentes e docentes, a instituição universidade constitui um espaço privilegiado onde se ensina, pesquisa e aprende-se mutuamente.

       A história milenar da universidade revela que ela está habilitada para enfrentar as mudanças que ocorrem na sociedade, pois o seu compromisso com a verdade, a profundidade e a justiça constituem fortalezas que permitem romper as barreiras das permanentes mudanças sociopolíticas. Respaldada juridicamente, como no caso brasileiro, a Constituição da República garante às universidades a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, e manter o pluralismo de ideias e de concepções (Art. 206, II e III).

        Diante dos ajustes, dos acertos e desacertos das mudanças políticas, a Universidade não deve abrir mão do seu ideário, em que a formação de uma consciência critica e construtiva dos problemas existentes na sociedade é fundamental no processo educativo dos jovens universitários. A formação humanística, científica, ética e profissional é parte de nossa missão educativa, sabendo que a prerrogativa da profundidade não pode faltar em nada daquilo que estudamos e pesquisamos.  

Se as circunstâncias sociopolíticas carecerem de tais pressupostos, é dever da Universidade ajudar no processo de aprofundamento das grandes questões que norteiam a sociedade. Se os radicalismos sociopolíticos conduzirem a uma postura de dissenso, é dever da Universidade criar e propor estruturas de diálogo e consenso, em que a razão tenha primazia diante de atitudes carentes de racionalidade. Se as circunstâncias sociopolíticas insistirem em questões que não são relevantes para o bem comum da sociedade, é missão da Universidade promover o debate e a busca de soluções razoáveis e inteligentes.

Se os desacertos em assuntos significativos para o equilíbrio e a sustentabilidade da sociedade intensificarem, é papel da Universidade colaborar para buscar alternativas que possam superar a crise. Se a falta de aceitação e convivência respeitosa com as diferenças na sociedade crescerem, é obrigação da Universidade testemunhar que é possível uma convivência fraterna, na qual as diferenças são acolhidas e vivenciadas com sabedoria. Se intensificar a visão de mundo fragmentada, é dever da Universidade oferecer mecanismos e subsídios para que a sociedade possa ter uma visão mais sistêmica da realidade social, política e ambiental dos problemas cotidianos. Se houver uma perda de humanismo e de valores éticos no contexto social, a Universidade é este espaço privilegiado de resgate deste processo de humanização e formação de valores.

       A vida universitária é um espaço de construção de saberes e valores que sempre têm colaborado com a sociedade, rompendo as barreiras dos tempos e das mudanças sociopolíticas, e afirmando o seu compromisso com a verdade, a profundidade e a justiça, pois estes constituem a essência de seu modo de ser e agir. Assim, a Universidade não deve furtar-se daquilo que é próprio de nossa história e missão. 

Padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J. – Reitor da PUC-Rio        

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