Lembranças do holocausto
12/06/2019 15:22
Núbia Trajano

Aos 91 anos, Freddy Sobotka relembra a vivência no Campo de Concentração de Auschwitz

Semana de Direitos Humanos. Foto: Amanda Dutra

Na II Semana de Direitos Humanos, a Pastoral Universitária Anchieta, em parceria com a Cátedra Carlo Maria Martini, promoveu a palestra Conversa sobre Holocausto. A atividade, que teve como tema Políticas Públicas, contou com a presença do Cônsul Honorário da República Tcheca do Rio de Janeiro e sobrevivente do holocausto Alfredo Sobotka, conhecido como Freddy, e do diretor do Museu Judaico do Rio de Janeiro, Marcio Sukman.

Nascido em junho de 1928, em Praga, na República Tcheca, Freddy considera um milagre estar vivo. Aos 91 anos, ele afirmou que quem sobreviveu a um campo de concentração não é um herói, mas uma pessoa de muita sorte. O Cônsul Honorário relatou como foi a trajetória até a chegada a Auschwitz, onde ficou por três anos.

- A primeira coisa que fizeram foi tirar todos os instrumentos musicais dos judeus, tudo que era lúdico. As escolas judaicas foram fechadas, os judeus só podiam andar até as 20h e fazer compras depois das 15h, além de só poder andar no último vagão dos bondes. Cada dia passamos por terríveis perseguições, nós não podíamos trabalhar e éramos forçados a usar a estrela de Davi. Isso em um período de dois meses.

Sobrevivente do holocausto Freddy Sobotka. Foto: Amanda Dutra

No caminho para o gueto de Theresienstadt, Freddy disse que precisou ficar quatro horas dentro do trem e todas as necessidades fisiológicas das pessoas eram feitas em pé. Ele comentou que todos os fatos ocorridos, até então, eram pequenos para o que estava por vir. Após sete meses no gueto, todos os judeus foram transferidos para Auschwitz.

- Quando as pessoas me perguntam quando nasci, pergunto se é uma referência à primeira, segunda ou terceira vez que nasci. Auschwitz era um campo de extermínio, ninguém ficava lá mais de dois dias, e quem não tinha a numeração no braço ia para a câmara de gás. Trabalhava uma semana de dia e outra à noite, quando chegávamos às 6h30 nos dormitórios, os soldados nos impediam de dormir e tínhamos que carregar pedras pesadas por alguns metros, só para o prazer dos alemães.

Freddy relatou que a paixão pelo futebol o salvou. Antes de ser levado para o campo de trabalho, perto de Auschwitz, o sobrevivente revelou que desobedeceu o tio para ficar com os amigos do futebol. A fila na qual o tio permaneceu foi levada para a câmara de gás. Nesse período, Freddy tinha 13 anos.

Diretor do museu Marcio Sukman. Foto: Amanda Dutra

Sukman comentou que o holocausto é um acontecimento superlativo no Ocidente e tem como papel alertar as pessoas para que a tragédia não se repita. Para ele, é impossível entender como um país desenvolvido cometeu uma política de extermínio.

- À primeira vista, o holocausto é algo que não foi cometido por homens, mas por pessoas carregadas de maldade. Hoje é inadmissível que nós aceitemos que uma raça é inferior, que as pessoas não possam exercer sua liberdade, escolha e serem o que elas querem. É importante, quando se discute o dever da memória, não só lembrar desses fatos, mas também demonstrar um comportamento ético.

Segundo o diretor, o Museu Judaico foi criado há 42 anos com a pretensão de preservar a memória da comunidade judaica do Rio de Janeiro. Sukman afirmou que o lugar tem um acervo diverso e busca mostrar a cultura e a história judaica.

- O museu tem um acervo grande de livros, filmes e o uniforme que era utilizado pelos judeus. Fazemos palestras, atividades, buscamos preservar essa memória pela educação. Tentamos mostrar os costumes, como a história dos judeus se enraizou aqui no Rio de Janeiro.

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