As fronteiras entre o urbano e o rural nos Andes
22/08/2019 18:20
Juan Pablo Rey

Diálogo durante o Seminário Cidades Imaginadas discute o processo das fronteiras sociais dos países andinos

A palestra foi ministrada pelos professores Victor Bretón, da Catalunha, e Eduardo Kingman, do Equador. Foto: Amanda Dutra

O caráter arbitrário e difuso das fronteiras entre o “rural” e o “urbano” nos países andinos foi um dos temas abordados na segunda edição do Seminário Internacional Cidades Imaginadas. Participaram do diálogo, realizado no Auditório do IAG, dia 15, o professor Victor Bretón, da Universitat de Lleida, na Espanha, e o professor Eduardo Kingman, da FLACSO, no Equador.

Bretón levantou que, há aproximadamente duas décadas, existiam sérias dificuldades para entender o caráter híbrido de cidades como Quito, Lima ou La Paz. O andino era visto como um ser “rural”, em processo de desaparição, com os parâmetros percebidos como o oposto da vida considerada urbana. O antropólogo espanhol discorda dessa visão e citou que a vida nas comunidades andinas, de forma alguma, pode dissolver-se
de sua ligação com a vida urbana.

- Argumentamos que a vida nas comunidades camponesas andinas não é dissociável, nem hoje, nem ontem, de seus estreitos vínculos com a vida urbana. O urbano, de fato, incluí nos Andes uma variedade muito ampla de formas de vida que, em muitos sentidos, constituem verdadeiras modernidades paralelas. Não é que essa questão das fronteiras difusas entre o urbano e o rural aconteça a partir dos grandes fluxos migratórios da década de 60. Isso vem de um período histórico.

Bretón afirmou que os modelos de desenvolvimento vivenciados, desde a década de 1950, criaram a ficção conceitual da separação entre uma sociedade dita rural, associada aos valores tradicionais locais, e uma modernidade cosmopolita, que era vista como o “urbano”. Bretón defende que, hoje em dia, não existe mais nenhum estudo sério que comprove essa tese, embora esse pensamento tenha afetado as mentes coletivas.

- Em trabalhos da década de 1940, economistas definiam as economias duplas como características essenciais dos países do chamado terceiro mundo, onde um sucessor econômico, moderno, estava de alguma maneira destinado a protagonizar o decolar da sociedade. Como os sociólogos teorizaram depois, essa economia moderna se correspondia por uma cultura moderna e essa sociedade tradicional correspondia com as comunidades indígenas.

Bretón enfatizou que a vida nas comunidades andinas não podem dissolver-se da ligação com a vida urbana. Foto: Amanda Dutra
.

Essa visão dual, segundo o professor, se fez presente também na crítica dependentista das décadas de 1970 e 1980. As discussões sobre a natureza dependente das formações sociais latino-americanas classificaram as sociedades andinas como “tardio feudais-capitalistas. Isso, para Bretón, é um erro, já que os latifundiários da época faziam sua vida na cidade e tinham hábitos de consumo urbanos.

- Grandes fazendas que foram classificadas como feudais não eram feudais, eram exportações agrárias perfeitamente adaptados ao capitalismo da época. Os latifundiários, com um bom critério modernizador, introduziam melhoras técnicas, mas não introduziam nenhum tipo de melhora nas relações de produções, terra ou trabalho. Isso os permitia maximizar seu benefício, o que era estritamente capitalista.

O professor Eduardo Kingman, historiador da FLASCO, citou semelhanças entre o pensamento de José María Arguedas, antropólogo e escritor peruano, e Walter Benjamin, filósofo e sociólogo alemão. Segundo o Kigman, apesar de suas obras terem sido publicadas em tempo e espaço distintos, os dois viam o passado focados em sua evolução para o contemporâneo, dando menos ênfase a reconstituição e as memórias históricas.

- Arguedas era um grande literato, músico e apaixonado pelo mundo andino. Seus trabalhos são os primeiros que percebem essas comunidades camponesas como não separadas de uma dinâmica de mercado. Benjamin, assim como ele, não era um historiador, estava mais interessado na atualização do passado e em como ele influencia o presente do que em descobrir sua realidade. De alguma maneira, em Arguedas também há isso, em seu trabalho sobre a história dos Andes.

Mais Recentes
Alunos terão desconto em moradia universitária
PUC-Rio fechou parceria com Uliving, maior rede deste tipo de serviço no país
Álvaro Caldas lança quinto livro de sua carreira
Nos anos de pandemia, a janela se tornou uma ligação vital para mundo exterior
Tecnologia, Inovação e Negócios no Instituto ECOA
Encontro reúne alunos e convidados para discutir o fornecimento de água e saneamento no Rio de Janeiro