Paralelo entre dois tempos
15/08/2022 16:52
Gabriel Meirelles, Giulia Matos e Henrique Silva

Ex-aluno da PUC-Rio, o repórter Rodrigo Alvarez lança uma nova obra e reflete sobre o papel do jornalista no cenário atual

Jornalista Rodrigo Alvarez (Foto: Giulia Matos)

O jornalista  Rodrigo Alvarez retornou à PUC-Rio para o lançamento do livro "O candidato: uma sátira contemporânea". Em palestra realizada em 12 de agosto, um dia depois da leitura da  “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”, o escritor contou detalhes da nova obra, falou sobre a profissão e se emocionou ao mencionar a censura aos profissionais da área no período dos governos militares. Ele ainda comentou a sua trajetória desde a entrada na PUC-Rio, como aluno de Desenho Industrial, até os dias de hoje. O coordenador do curso de Jornalismo, professor Leonel de Azevedo de Aguiar, mediou o bate-papo.

A ligação de Rodrigo Alvarez com o tema da democracia vem desde a família. O pai dele fazia parte do grupo de profissionais que criou as urnas eletrônicas, e o avô foi aviador da Aeronáutica cassado durante a ditadura. Alvarez estudou na Universidade na década de 1990. Depois de dois anos como o “pior aluno” do curso de Desenho Industrial, ele migrou para o curso de Comunicação. Em meados da década, entrou para o Projeto Comunicar e, em 1996, fez parte da primeira equipe da GloboNews. Em 2006, tornou-se correspondente internacional, passou por Nova Iorque, Jerusalém — de onde saiu em fuga, por contrariar o grupo terrorista Hamas no exercício da profissão —, Berlim e Paris. O jornalista escreveu 12 livros e revelou que no momento produz uma série documental sobre a vida de Jesus Cristo para a plataforma de streaming Globoplay.

Sobre o livro

“O candidato” é um romance político que mistura ficção e realidade, passado e presente de um Brasil quase sempre à beira do autoritarismo. O protagonista Almeidinha é um jornalista paraibano de Taperoá — referência e homenagem à figura do conterrâneo Ariano Suassuna e ao Nordeste, em geral — que decide deixar o país com a eleição de “Jairo” para a presidência. Na sátira, um acontecimento extraordinário coloca Almeidinha no Rio de Janeiro de 1958 e, então, estabelece um contraponto entre o Brasil oficial e o Brasil real. As belezas cantadas pela Bossa Nova em Ipanema versus a dureza da vida bradada nos sambas de Zé Keti no morro da Mangueira; a Brasília de JK versus os ensaios autoritários que ameaçavam a democracia. 

Foto: Giulia Matos

A personagem, definida como quixotesca pelo autor, irrompe em uma saga na tentativa de evitar o Golpe Militar de 1964 e mantém contato com o presente, antidemocrático por igual. A figura de Jairo é uma clara referência ao presidente Jair Bolsonaro.

— O livro acaba fazendo um paralelo entre os dois tempos. Almeidinha continua em comunicação com duas pessoas do futuro: a mulher dele, radicalizada ao "jairismo", e a mãe de santo com quem ele se consultava na Bahia, que vai se radicalizando à força, porque vai sendo perseguida. (Sobre a escolha do nome Jairo), é uma pequena diferença, não é exatamente a mesma pessoa, né? Tem só semelhanças e muitas coincidências. O personagem vai tomando contato com o futuro, vivendo o passado e depois essas realidades se juntam. O título do livro entrega um pouquinho da história — revelou Rodrigo.

Democracia e o papel do jornalista

O jornalista explicitou que o novo livro é uma urgência atual e uma homenagem aos jornalistas. Para o escritor, um dos papéis desses profissionais é a defesa da democracia. Alvarez confessou que chegou a achar que a profissão estava ameaçada, mas considera a relevância do trabalho no tempo presente fundamental e acredita que a imprensa brasileira vive um período de credibilidade. Apesar disto, ele enxerga um redesenho na profissão, como a diminuição de salários e de oportunidades nos sistemas tradicionais de grandes empresas de comunicação, que dominavam até a década de 1990. Ele destacou a possibilidade de o jovem ser mais autônomo por meio das novas tecnologias e aplicativos de inserção no ambiente digital. 

— Eu sinto orgulho muito grande quando vejo que a nossa imprensa soube reagir e dizer que não vai aceitar os ataques às instituições e à democracia. Ao contrário do que cheguei a temer, o jornalismo saiu muito fortalecido tanto da internet com o bombardeio de fake news quanto deste governo que nos bombardeou e nos atacou a cada dia. Nosso trabalho é muito mais necessário na época da internet do que era antes, porque nós produzimos as informações checadas e confiáveis.

Coordenador do curso de Jornalismo, professor Leonel de Aguiar e Rodrigo Alvarez. (Foto: Giulia Matos)

Alvarez deu conselhos para os estudantes que o assistiram, como a importância de refletir sobre a realidade e buscar conhecimento. Segundo o palestrante, o profissional que tem competência para falar, se comunicar e atrair fontes, mas não raciocina diante da informação coletada, é um profissional incompleto. O autor de “O candidato” destacou a importância da pesquisa para elaboração de seus livros e encorajou os jovens a consumir mais literatura, tanto estrangeira como nacional.

— Se você não tem conhecimento, você não tem nada a dizer. Você pode ser uma pessoa super interessante, mas você tem que ter vivido, tem que ler também. Você tem que ter diversas dimensões de conhecimento. Você tem profundidade para falar disso ou você vai ser cantado por uma fonte, vai cair num conto?

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