Sem medo do autoexame
22/11/2022 17:56
Carolina Santana

Em uma roda de conversa, médicos chamam a atenção para a importância do diagnóstico precoce

Roda de conversa Outubro Rosa. Foto: Antonio Albuquerque

A importância do diagnóstico precoce do câncer de mama e do colo de útero foi um dos pontos mais enfatizados na roda de conversa organizada com médicos e psicólogos por conta da campanha Outubro Rosa. A discussão, no dia 27 de outubro, foi conduzida pelo coordenador de Mastologia da PUC-Rio, professor Ricardo Chagas e as coordenadoras da Pós-graduação Lato Sensu em Psico-Oncologia da PUC-Rio, Luiza Polessa e Ana Cristina Froes. E todos foram unânimes em um ponto: o autocuidado é fundamental.

 A conversa também contou com a fundadora da Associação de Amigos da Mama (ADAMA), a mastologista Thereza Cypreste. No início do encontro, houve uma performance do coral da associação, as Adametes. Elas fazem paródias musicais sobre a doença, todas as cinco integrantes venceram a batalha contra o câncer de mama.

Presentes na abertura do encontro, o Reitor da PUC-Rio, Padre Anderson Pedroso, S.J, e o Vice-Reitor Geral, Padre André Luís Araújo, S.J., agradeceram a mensagem de superação evidente na apresentação das  Adamentes e contaram uma passagem do noviciado no hospital, onde vivenciaram de perto a batalha da luta pela vida. O Reitor afirmou que a Universidade promove a cultura do cuidado, e lembrou a criação do curso de Nutrição, que reforça o compromisso com a saúde.

Apresentação do coral da ONG ADAMA, as ADAMETES. Foto: Antonio Albuquerque

No Brasil, a maior incidência do câncer de mama é no Rio de Janeiro. O mastologista Ricardo Chagas disse que cada vez mais a faixa etária do diagnóstico do câncer é menor comparado com a população feminina europeia. Ele explicou que os hábitos das brasileiras se assemelham cada vez mais ao estilo de vida dos países desenvolvidos. Com as mulheres mais envolvidas no mercado de trabalho e dedicadas ao estudo, a consulta com o mastologista como prevenção se tornou menor. Chagas associou a ida ao consultório ao autocuidado e lembrou que as chances de cura são maiores com acompanhamento da saúde da mama e um diagnóstico precoce da doença.

De acordo com a mastologista Thereza Cypreste, a identificação tardia de algum distúrbio na mama é uma realidade. Ela alerta para o fato de que não há, especialmente para o público mais jovem, a divulgação de informações em uma linguagem mais simples e direta. Mas ela comentou como a falta de conhecimento sobre a prevenção da doença afeta, inclusive, as mulheres com acesso à saúde privada, o que prejudica até pacientes com mais possibilidades financeiras de realizar um tratamento.  A mastologista afirmou que no consultório é comum dar diagnóstico de câncer de mama de “janeiro a dezembro”, para ela o tema deve ser debatido o ano inteiro. Thereza admitiu o crescimento do tema dentro do espaço da universidade e torce para que contribua para o autocuidado das pessoas. 

— Eu, no dia 20 de dezembro, estou dando diagnóstico, e a mulher não tem o que fazer porque algumas vezes os laboratórios estão em recesso. A gente precisa diluir esse rosa intenso do mês de outubro, fazendo pequenas pinceladas o resto do ano.  Porque o autocuidado significa você ter saúde, fazer prevenção e não ir ao médico quando você está com dor.

Fundadora da ONG ADAMA, Thereza Cypreste. Foto: Antonio Albuquerque

Segundo a coordenadora da Pós-graduação Lato Sensu em Psico-Oncologia da PUC-Rio, Luiza Polessa, o medo acompanha o paciente a partir da descoberta da doença. Porém, ela enfatizou que é importante fazer o autoexame e marcar a consulta com ao mastologista para um maior sucesso no tratamento da doença. Luiza ressaltou que o sentimento também está ligado à resistência do diálogo sobre a morte. E que é necessário abordar a questão da morte, assim a pessoa pode compreender como deve se tratar para manter a vida da melhor maneira possível. 

— O medo está presente durante toda a trajetória do câncer, ele começa muito antes e acompanha todo o percurso do paciente. Inicialmente, esse medo vem do próprio medo de investigar. É sempre aquela questão de quem procura acha, e o que nós precisamos mudar é essa cultura, este tipo pensamento. Porque somente um diagnóstico precoce pode oferecer as melhores condições de tratamento.

A medicina integrativa foi outro assunto abordado na roda de conversa. Também da coordenação da Pós-graduação Lato Sensu em Psico-Oncologia da PUC-Rio, Ana Cristina Froes relatou a importância dos tratamentos integrativos que servem de complemento aos tratamentos mais tradicionais como quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia, como exemplo. Exercícios de yoga, meditação, massoterapia e acupuntura fazem parte das Práticas Integrativas Complementares de Saúde disponíveis inclusive para pacientes que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS).

— Saindo da medicina tradicional e complementando com outras práticas, muito delas orientais, já mostram a eficiência  para o relaxamento, para minimizar o estresse, enjoos e outros efeitos que surgem durante o tratamento, ou que a paciente tem. A gente agora faz um trabalho de ampliar a saúde mais integrativa, um trabalho mais humanizado para que a gente possa ter menos estresse, aumentar o bem-estar do paciente. Mesmo durante um tratamento mais difícil.

Membro da ONG ADAMA, Joaquim Paz. Foto: TV PUC-Rio

Apesar da celebração do Outubro Rosa existir desde 1990, há muitas dúvidas e mitos sobre a doença. Uma delas é a considerar que apenas as mulheres são vítimas do câncer de mama, o que afasta a prevenção e o tratamento da população masculina. Integrante da ADAMA, Joaquim Paz, de 66 anos, descobriu em julho de 2011 o diagnóstico do câncer de mama. Ele contou que a namorada, que é enfermeira, identificou um caroço e a retração do mamilo dele. Foi só depois do diagnóstico que o termo câncer de mama entrou no vocabulário e na vida do Parz.

— O meu maior desafio sempre é estimular os homens a se prevenirem, principalmente porque os homens têm uma incidência maior atrás do mamilo. Para o homem é até mais fácil tocar no peito, se conhecer e fazer o autoexame mensal. Com isso, ele pode prevenir um tratamento mais agressivo, pode prevenir de ter que identificar o câncer quando já está em metástase óssea ou pulmonar e até enfrentar risco de morte.

 

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