Lições para pensar e mudar
30/10/2015 16:08
Pe. Josafá Carlos de Siqueira, S.J.

O Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., aborda os apelos socioambientais do Papa Francisco durante a visita aos Estados Unidos e os discursos que o pontífice proferiu no Congresso americano na sede da Organização das Nações Unidas (ONU)

Na perspectiva socioambiental, podemos dizer que a visita do Papa Francisco aos Estados Unidos foi marcada por muitos apelos diante de contextos políticos que exercem um grande poder mundial de lideranças e mudanças. A coragem em explicitar suas ideias e convicções, simpáticas para alguns e mais difíceis de ser aceitas por outros, nos mostra o poder de liderança do Pontífi ce, que sabe aceitar as diferenças, com uma enorme capacidade de apontar novos horizontes.

No discurso ao Congresso dos Estados Unidos, o Papa enfatizou alguns princípios explicitados na Encíclica Laudato Si’, exortando os políticos a assumirem os esforços corajosos e responsáveis para mudar de rumo, e evitar os efeitos mais sérios da degradação ambiental causada pela atividade humana. Enaltecendo o importante papel que desempenha o Congresso dos Estados Unidos, o Pontífi ce afi rmou que agora é o momento de empreender ações corajosas e estratégicas para implantar uma cultura do cuidado e uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e cuidar da natureza.

Já no discurso na ONU, além de comentar outros assuntos relacionados com a paz, a justiça social, a mediação de confl itos, o desenvolvimento das nações, a construção jurídica internacional, entre outros, o Papa Francisco aborda, numa visão sistêmica entre o social e o ambiental, alguns princípios inspiradores relacionados com o meio ambiente. O primeiro ponto diz respeito ao “direito do ambiente”, uma vez que o ser humano é parte e vive em comunhão com ele, lembrando que o próprio ambiente comporta limites éticos que a ação humana deve reconhecer e respeitar. Assim, qualquer dano ao meio ambiente é um dano à humanidade. A crise ecológica, associada com a destruição de grande parte da biodiversidade, pode por em perigo a própria existência da espécie humana. O segundo ponto se refere ao valor intrínseco e à interdependência, pois, segundo ele, “cada criatura, especialmente os seres vivos, possui em si mesma um valor de existência, de vida, de beleza e de interdependência com outras criaturas”. Esta afi rmação reforça aquilo que hoje está sendo discutido nos conteúdos da ética ambiental. Nesta relação entre o social e o ambiental, o Pontífi ce volta a afi rmar que “o abuso e a destruição do meio ambiente aparecem associados, simultaneamente, como um processo ininterrupto de exclusão. A exclusão econômica e social é uma negação total da fraternidade humana e um atentado gravíssimo aos direitos humanos e ao ambiente”. Na oportunidade, volta a enfatizar o que está escrito na Laudato Si’ sobre a cultura do descarte que afeta os mais pobres, que são obrigados a viver de desperdícios, e sofrem injustamente as consequências do abuso do ambiente. Por isso, a defesa do ambiente e a luta contra a exclusão exige o reconhecimento de uma lei moral e o respeito absoluto da vida em todas as suas fases e dimensões.

Finalmente, ao falar sobre a Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, o Papa manifestou a esperança que a Conferência de Paris (COP 21) sobre as alterações climáticas possa alcançar acordos fundamentais e efetivos. Lembrando que isto também se reporta ao Laudato Si’ , onde ele do mesmo modo que reconhece alguns avanços, critica por outro lado a falta de decisão política nos acordos ambientais globais, carentes de efi cácia e realizações práticas. Que estas lições deixadas pelo Papa Francisco possam nos ajudar a pensar e a mudar aquilo que está na contramão de nossa história.
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