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04/04/2016 16:24
Matheus Paulo Melgaço / Foto: Fernanda Szuster

Racionalização dos ônibus causa transtorno para usuários no dia a dia

Novas linhas de ônibus foram implementadas na cidade e renomeadas para troncais, integradas e circulares

Antes do início da racionalização dos ônibus que circulam na Zona Sul do município do Rio de Janeiro, Fatima Viana, 46 anos, pegava apenas um ônibus, próximo a casa dela, na Cidade de Deus, Zona Oeste, para ir à PUC-Rio, onde trabalha como ascensorista. Agora, com a mudança, ela precisa pegar dois: um para o Terminal da Alvorada, na Barra da Tijuca, e outro até o local de trabalho, na Gávea. O caso de Fatima é apenas um exemplo das consequências das mudanças nas linhas de ônibus que passam pela Zona Sul da cidade.

De acordo com a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR), o projeto tem como objetivo tornar o sistema de transporte público mais eficiente e descongestionar os corredores preferenciais de ônibus. Para isso, a Secretaria afirma ter realizado um estudo, o qual mostrou que 54% das linhas de ônibus que circulam no Rio tinham mais de 50% dos percursos parecidos ao longo dos itinerários.

A consequência do projeto é a troca dessas linhas por um conjunto de novos serviços denominados troncais, circulares e integradas. O processo de substituição começou em outubro do ano passado e foi dividido em três fases e diversas etapas, com o término previsto para o início deste ano. Ao todo, 20 linhas foram criadas – dez troncais –, 20 tiveram os trajetos encurtados e 49 foram extintas.

Segundo o Diretor do Departamento de Engenharia Industrial, professor José Eugênio Leal, a racionalização das linhas dos ônibus não está tecnicamente embasada. Para ele, seria preciso conhecer de forma mais profunda as particularidades das regiões. Além disso, o engenheiro ressalta que o impacto para o usuário é negativo e que, na prática, a mudança beneficia as empresas de ônibus.

– Todos nós percebemos que havia uma certa irracionalidade no número de ônibus que trafegavam no Rio de Janeiro, mas a maneira como foi feita a mudança privilegia mais as empresas de ônibus que aos usuários, porque os chamados troncais passam em um eixo onde passariam cinco ônibus. Mas a pergunta que fica é: Ele substitui cinco ônibus? Vai ter uma frequência satisfatória? Provavelmente não, porque a ideia é racionalizar – afirma.

Assim como Fatima Viana, as estudantes Gabrielle da Costa, 21 anos, de Design, e Verônica Rodrigues, 25 anos, de Engenharia, ambas da Universidade, também foram afetadas negativamente. Embora Gabrielle more na Zona Oeste e Verônica na Zona Sul, a reclamação é a mesma: elas têm saído mais cedo de casa e esperado por mais tempo.

– Os ônibus estão demorando, existem nas ruas e passam sempre cheios. A mudança só piorou. Antes, eu pegava o 318 ou 565 na Avenida das Américas. Agora, tenho que esperar um integral passar – relata Gabrielle.

Já Verônica, que mora no Flamengo, acredita que a mudança também não favoreceu o trajeto casa-universidade. Se antes ela esperava o ônibus em frente a casa dela, agora tem que andar para pegar o metrô e depois o metrô de superfície até a PUC-Rio.

 – Definitivamente, a mudança não me favoreceu. Para ir à Universidade eu pegava o 410 na porta da minha casa. Agora, preciso sair mais cedo de casa porque ando de dez a quinze minutos até o metrô. Sem contar o aumento da passagem do metrô que, no fim das contas, faz uma diferença no orçamento – detalha.

Passageiros alegam que houve diminuição na frequência dos coletivos

Integrante do Movimento Pare o Aumento, o estudante Fabrício Mangue, de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), acredita que o projeto está atrelado ao financiamento privado nas campanhas eleitorais. Além disso, o estudante diz que a racionalização prejudica moradores de outros lugares se deslocarem para a Zona Sul.

– É um favor que a esfera pública devolve aos seus financiadores de campanha. O Movimento Pare o Aumento acredita que a cidade está segregada socialmente, pois os equipamentos sociais e culturais da cidade se encontram em sua maioria na Zona Sul e região central da cidade – alerta.

Reclamações de passageiros

Por causa do aumento de reclamações pelo número 1746, canal de comunicação oficial da Prefeitura com o cidadão, a Secretaria Municipal de Transportes decidiu alterar o trajeto de algumas linhas de ônibus. No total, a mudança ocorre em 11 linhas: 309, 433, 435, 455, 464, 517, 497, Troncal 2, Troncal 7, Troncal 8 e Troncal 10. A troca beneficia moradores da Grande Tijuca, Méier, Botafogo, Lagoa, Lapa, Barra da Tijuca e Jardim Botânico. A modificação, segundo a SMRT, ainda ocorre na frequência de saída dos ônibus do terminal. A secretaria promete aumentar em cerca de 25% a frota dos ônibus para reduzir os intervalos das viagens e, em consequência, a espera dos passageiros nos pontos de ônibus.

No site www.rio.rj.gov.br/web/smtr/racionalizacao, a Prefeitura colocou uma tabela com todas as linhas criadas, extintas e encurtadas.

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