O modelo de cidade idealizado por urbanistas, arquitetos e geógrafos – centrado na conjugação entre conveniências ambientais, socioeconômicas e humanísticas – esbarra sistematicamente em desigualdades refletidas na resistência de espaços de segregação, pouco ou nada integradores. Esses desequilíbrios não se resumem à área econômica, observa o professor de geografia da Universidade do Porto, em Portugal, José Alberto Rio Fernandes: “Há desigualdade econômica, sim, mas também há muitas outras”. É preciso superá-las para que as cidades cumpram o papel de promotoras de cidadania, afirma o especialista, um dos pesquisadores convidados doIII Simpósio Internacional sobre Metropolização do Espaço, Gestão Territorial e Relações Urbano-Rurais (Simeger), na PUC-Rio.
– Cidades são espaços de cidadania a partir da mistura que promovem, mas estão imersas em segregações de diversos: pobres e ricos, residentes e visitantes, público e privado, homossexuais e heterossexuais – exemplifica.
Para dirimi-las, Fernandes sugere investimentos em políticas que potencializem o espaço público como um vetor de inclusão social. Significa, reforça ele, investir na vocação urbana para a cidadania, por meio “da mistura que promovem, da mescla entre o tradicional e o novo”.
Ainda de acordo com o professor da Universidade do Porto, a sugestão exige, entre outras condições, o amadurecimento de visão histórica, cultural, e não apenas econômica do contexto nos centros urbanos. Na avaliação de Fernandes, este é o primeiro passo para intensificar o ritmo dos aperfeiçoamentos metropolitanos desejados. O pesquisador vê a cidade como uma “aglomeração de funções e unidades complementares”, que devem valorizar as “vantagens da partilha, da escolha e da aprendizagem”.
– Vivemos um contexto de mudanças impulsionadas pela globalização e metropolização advindas do capitalismo. Trata-se de uma alteração significativa relacionada não só à desindustrialização do centro, mas também à complexificação dos fluxos de bens e capitais. Assim, há uma relação de interdependência entre os centros de poder em várias dimensões, não apenas econômicas – observa o especialista – Temos, por exemplo, a ideia, indicada por vários autores, da perda do momento, do ritmo e da afirmação dos Estados Unidos e da Europa. Não por questões de subprodução, mas por várias outras.
Os contrastes, reitera o professor, extrapolam o âmbito econômico, pois estão relacionadas ao bem-estar de base social e às redes de solidariedade. Ele compara:
– Desigualdade e pobreza são coisas diferentes. Enquanto a desigualdade parece aumentar, a pobreza parece diminuir. Na África, a pobreza não vem diminuindo, mas na China, do ponto de vista econômico, sim, e isso faz aumentar a desigualdade.