Diálogo interrompido
21/03/2018 11:44
Ana Vitoria Barros, Karen Krieger e Natália Oliveira

Universidade homenageia vereadora e motorista em missa celebrada na Igreja do Sagrado Coração de Jesus

Alunas se emocionam durante cerimônia Foto: Thaiane Vieira

Uma missa em homenagem à vereadora Marielle Franco e ao motorista Anderson Gomes foi celebrada na Igreja do Sagrado Coração de Jesus na noite de ontem. O Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., destacou o objetivo da missa - um gesto de fé e solidariedade da Universidade com a família e amigos das vítimas. Marielle se formou em Ciências Sociais pela Universidade, em 2007. A missa foi concelebrada pelo padre Luis Corrêa Lima, S.J..

O Reitor realizou uma prece por todos aqueles que sofrem em meio a tanta violência na cidade do Rio de Janeiro. Padre Josafá assinalou que a comunidade carioca vive um processo de brutalização e desumanização. Segundo ele, é uma graça o fato de terem existido pessoas tão significativas que fizeram trabalhos tão bonitos para a vida e a sociedade.

— Em meio a toda Eucaristia, vamos pedir perdão a Deus. Pedir que tire tudo aquilo que leva à brutalidade e à violência. Vamos reconhecer tudo de bom que ela (Marielle) fez para nossa sociedade.

O Reitor da Universidade, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J, na celebração da missa Foto: Thaiane Vieira

No sermão, o Reitor enfatizou a importância da atitude de Marielle para a sociedade brasileira. Ele prestou solidariedade aos familiares da vereadora e do motorista que enfrentam momentos de dificuldade. Segundo o religioso, a ex-aluna foi assassinada, mas seus ideais vão continuar dando esperança para quem deseja uma sociedade menos injusta.

— Essas manifestações do ponto de vista religioso, político e social trazem a memória dessas pessoas que deixam um legado importante para a sociedade. Aqui na PUC não poderia ser diferente. A Marielle foi significativa para nosso país.

O Reitor lembrou um pouco da trajetória acadêmica de Marielle. Ela teve oportunidade cursar Ciências Sociais, apontou, graças a uma bolsa de estudos concedida pela Vice-Reitoria Comunitária. Orientada pelo professor Ricardo Ismael, do Departamento de Ciências Sociais, a ativista já questionava a situação precária de grande parte da população ao focar a monografia de conclusão de curso na desigualdade de renda no país. Segundo o sacerdote, Marielle era uma aluna que procurava o diálogo.

— Ela teve uma postura respeitosa, sobretudo dialogando com as pessoas. Estamos vivendo um momento extremo na nossa sociedade, esquecemos que a parte mais importante é o diálogo, que é fundamental. Ele permite compreender como é o ambiente acadêmico.

Professor Ricardo Ismael durante a cerimônia Foto: Thaiane Vieira

Professor Ricardo Ismael disse ter contemplado a formatura dela e que foi algo muito nobre e digno. Quando ela passou para a vida pública, veio diversas vezes à Universidade, sempre de forma respeitosa e calma. Como estudante, sempre foi uma pessoa que prezava pelo respeito.

— Nós estamos vivendo um momento intolerante. O diálogo permite entender o ambiente acadêmico na singularidade e pluralidade. Ela é um exemplo para os jovens da nossa sociedade.

Segundo Ismael, com a política, Marielle trouxe importância para muitas vozes no Rio de Janeiro. Ela era negra, lésbica e teve oportunidade de falar no legislativo e representar essas minorias.

— Temos que lutar por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes, e totalmente livres. Ela tinha uma identidade própria, mas sempre procurou dialogar com gente diferente dela. Acho que ela tem uma luz própria, um carisma.

Igreja do Sagrado Coração de Jesus Foto: Thaiane Vieira

O Vice-Reitor Comunitário, professor Augusto Sampaio, lamentou a perda de uma jovem em um momento que o país precisa de novos valores políticos. Segundo ele, Marielle era competente e a porta-voz de um segmento da sociedade que precisa ter essa representatividade.

— A Marielle tinha uma voz de autenticidade porque ela nasceu, ela cresceu e conviveu lá. Ver que uma ex-aluna bolsista ocupou a posição que ela tinha dá um orgulho enorme. Era pessoa que tinha competência de falar de uma realidade. Ela não só falava, denunciava. Ela cobrava os resultados. É muita tristeza e ao mesmo tempo uma tensão. Precisamos estar atentos e pensar “por quê?”.

O professor Marcelo Burgos, do Departamento de Ciências Sociais, afirmou que a vereadora representava uma mudança real, pois vocalizava direitos e anseios de pessoas que não encontram representatividade no espaço público.     

— A gente vive em um lugar onde as periferias são muito sufocadas, não tem voz política. A Marielle fazia isso como poucos, porque talvez ela conseguido driblar um mecanismo de controle eficientes. A morte dela traz uma esperança de que todo trabalho que poderia fazer enquanto viva tenha continuação pela população.

Luanda Nascimento, ex-aluna e amiga de Marielle Foto: Thaiane Vieira

Amiga de Marielle, Luanda Nascimento, também ex-aluna da PUC-Rio, comentou que a vereadora era um símbolo de uma luta diária, dentro ou fora da sala de aula. Ela afirmou que Marielle sempre mostrava a todos o porquê de estar ali, e defendeu os princípios dela com a vida. Ela definiu a amiga como uma mulher extremamente carismática, que encarava a vida com peito aberto e valentia.

— Assim era Marielle. Uma mulher negra, cria da Maré, brilhante, que não conhecia barreiras para chegar onde queria representar vozes que ninguém ouvia. Sempre nos ensinou que mesmo pela sociedade abandonada, a Maré existiria. Sua atuação é engajamento trouxe a todos a esperança de um mundo melhor e mais pacífico. Hoje, todos nós nos sentimos órfãos.

Mais Recentes
Alunos terão desconto em moradia universitária
PUC-Rio fechou parceria com Uliving, maior rede deste tipo de serviço no país
Intercâmbio de dados sobre territórios populares
PUC-Rio e Instituto Pereira Passos assinam termo de cooperação
Impactos da automação
As tecnologias digitais e a nova economia do conhecimento