Um documentário interrompido pela ditadura militar retorna, 17 anos depois, e reúne os mesmos profissionais e o mesmo elenco para dar continuidade ao projeto que retratava a vida do camponês João Pedro. Considerado pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema um dos cem melhores filmes brasileiros de todos os tempos, Cabra Marcado Para Morrer é uma montagem de Eduardo Escorel.
Convidado para a Aula Magna do Departamento de Comunicação, na segunda-feira, 24, o diretor, crítico de cinema e coordenador da Pós-Graduação em Cinema da Fundação Getúlio Vargas relembrou suas experiências em mais de 30 filmes. O cineasta fez um retrospecto da carreira e analisou os erros e aprendizados ao longo da trajetória profissional.
- No ano inaugural do Cinema Novo, em um curso patrocinado pela UNESCO, o jovem de 17 anos viu uma oportunidade de equilibrar a vontade de fazer cinema com as finanças. Foi esse aprendizado que o levou ao vestiário do Botafogo, no Maracanã, na decisão do Campeonato Carioca de 1962. Era o último dia de filmagem do documentário Garrincha, Alegria do Povo. Meu personagem estava encarregado da captação de som ambiente, apesar de seus conhecimentos se limitarem a saber ligar o gravador e colocar a fita magnética de ¼ de polegada. A inexperiência tornou grande parte da gravação inutilizável, sobraram, porém, alguns trechos foram incluídos na edição.
Para Escorel, mesmo tendo desempenhado diversas funções no meio cinematográfico, desde edição e fotografia até roteiro, direção e atuação, a captação de áudio não é sua vocação. Depois de dirigir Isto É Pelé, com Luiz Carlos Barreto, o grande sonho dele, naquele momento, era deixar os documentários e produzir a primeira ficção. Lição de Amor foi o vencedor do Festival de Gramado em 1976.
- Na verdade, o próprio cinema documental era o principal objetivo. A grande aspiração era fazer o primeiro longa-metragem de ficção. Desejo concretizado com o filme Lição de Amor, adaptação de Amar, Verbo Intransitivo, de Mário de Andrade, realizado com a colaboração e roteiro de Eduardo Coutinho em 1975, menos de um ano depois do lançamento de Isto É Pelé.
Sobre o presente e o futuro do cinema brasileiro, Escorel avaliou ainda ser cedo para tirar conclusões. Para ele, não há como prever o rumo que a produção nacional vai tomar e para onde a criatividade dessa geração vai conduzir.