Por que apequenar o meio ambiente?
03/06/2019 11:13
Padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J. – Reitor da PUC-Rio

Em artigo, o Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., comenta sobre as posturas e as políticas que ameaçam o meio ambiente. 

Nas últimas décadas, as questões do meio ambiente ganharam espaços nas agendas nacionais e internacionais, a ponto de serem retratadas com ênfase nas Constituições dos Estados Nacionais, como no caso do Brasil, onde este enfoque contribuiu para aumentar o processo de conscientização na sociedade. Aquilo que era restrito às Universidades e Institutos de Pesquisas passou a ser vivenciado e socializado na sociedade como um todo, aumentando o apreço e as preocupações com a temática socioambiental. Com isso, a sociedade e outras instituições associadas passaram a exercer um papel de guardiões do rico patrimônio ecológico do país, defendendo e criticando as ações contrárias à conservação e preservação de nossos biomas e ecossistemas. Aumentou, também, o leque de possibilidades para algumas profissões como a biologia, a geografia, a engenharia ambiental, entre outras.

No entanto, atualmente vivemos um momento ambientalmente delicado, cujas posturas parecem estar na contramão de todas as conquistas galgadas entre as ciências e a sociedade, a saber, o perigo de apequenar aquilo que se tornou grande na história de um país que possui uma megabiodiversidade internacional, e de capital importância e referência para o planeta Terra. Podemos sofrer as consequências de um duplo apequenamento das questões ambientais no Brasil. O primeiro perigo consiste na redução progressiva de nossos biomas e ecossistemas, que, a cada ano, estão se tornando geograficamente menores, associados com a perda da biodiversidade animal e vegetal. A Amazônia perde área com as queimadas e a criação de gado, as áreas dos cerrados são reduzidas com a ampliação das monoculturas, a mata atlântica, as restingas e os manguezais com o crescimento desordenado das médias e grandes cidades etc.

O segundo perigo está relacionado com as opções políticas que, além de não colocar a questão ambiental no centro das preocupações, submete-a às discussões ideológicas, atribuindo a ela uma problemática relacionada com as esquerdas partidárias, esvaziando, assim, a visão teleológica de algo que está acima de partidos ou das estratégias de governo. Esquecemos que o meio ambiente é um patrimônio biológico, evolutivo e teológico, de caráter universal, que está acima da curta temporalidade dos governos, seja ele com tendência de esquerda ou de direita. O meio ambiente é um legado que o Criador colocou em nossas mãos para que sejamos guardiões e administradores de algo que não somos donos e nem proprietários.

Por outro lado, não podemos apequenar o meio ambiente com posturas que esvaziam a importância da presença de profissionais em ciências nas estâncias de controle, gestão e fiscalização dos órgãos ligados ao Ministério do Meio Ambiente. A complexidade das questões socioambientais exige não só habilidades de gestão, mas também um conhecimento científico de profissionais que galgaram graus acadêmicos nestas áreas. Mudanças podem ser feitas, sem, contudo descontruir processos históricos que foram internacionalmente elaborados com o apoio de instituições que têm a missão intelectual de formar pessoas competentes em várias áreas das ciências.

Como nos alertou alguns ex-ministros do meio ambiente, em um encontro realizado em São Paulo, não podemos comprometer a imagem e a credibilidade internacional do país nesta área, onde o Brasil ocupa um lugar de destaque, sobretudo com a sua avançada legislação ambiental, respaldada pela Constituição Brasileira. Por outro lado, temos que ter a prudência e o bom senso em não desmontar estruturas que foram construídas para administrar a complexidade das questões socioambientais do Brasil, como a Agência Nacional das Águas, a secretaria das mudanças climáticas, o Instituto Chico Mendes, entre outras. É importante lembrar que tais estruturas tiveram participação da sociedade e da ciência brasileira, envolvendo profissionais competentes em vários campos do conhecimento científico.

Por ser uma temática transversal, o meio ambiente merece um tratamento diferenciado, com permanente diálogo entre as Universidades e a sociedade. Apequenar algo que tem a virtude de ser grande pelos pressupostos éticos e científicos, não parece ser o melhor caminho para um país que se orgulha de ter a mais avançada legislação ambiental do mundo. A virtude da prudência continua a ser a mais nobre, pois ela ordena todas as demais virtudes. Ela também se aplica na relação do ser humano com o meio ambiente.

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