Jornalismo esportivo e de dados na era digital
04/06/2019 16:52
Clara Martins

Quarto dia de palestras da Primeira Semana de Jornalismo discute o digital em jogos e a apuração de dados e fontes jornalísticas

O lugar do entretenimento no jornalismo esportivo, a interatividade do digital e o limite entre o humor e a credibilidade informativa foram os temas abordados na palestra sobre o esporte em multiplataformas na Semana do Jornalismo, no dia 30 de maio. A mesa, mediada pelos professores de Comunicação Social Alexandre Carauta e Luiz Léo, contou com a presença da diretora de Marketing da Fox Sports, Patrícia Esteves, do comentarista da SporTV Lédio Carmona, do gerente de conteúdo e produção no Viu Hub, Allan Lico, e do especialista em marketing esportivo Roberto Falcão.

Roberto Falcão relacionou o crescimento dos eventos esportivos na década de 1980 com o crescimento da transmissão, voltada para o público fora dos estádios. De acordo com o jornalista, nesse período de gigantismo dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo, tornou-se necessário o investimento em um tripé econômico composto pelos eventos, por transmissores e patrocinadores. Segundo ele, nesse contexto, a televisão é o maior influenciador na programação do evento esportivo.

Patrícia Esteves fala sobre o desenvolvimento de conteúdo que atraia o público. Foto: Maloni Cuerci

Patrícia apontou o desafio das emissoras na construção de conteúdo esportivo com base na interface entre o campo do jornalismo e a produção de entretenimento. De acordo com a diretora, é importante desenvolver a combinação da empatia com o torcedor, a liberdade com os temas e ter uma visão humorada. Patrícia explicitou a dificuldade em atrair o telespectador esportivo para os canais, visto que todos exibem o mesmo conteúdo. Para ela, a diferença está em como a programação é elaborada.

– O consumidor de esporte não é fiel a nenhum canal, ele é, sobretudo, apaixonado pelo esporte. O grande desafio é criar um conteúdo em torno disso que faça diferença na vida do torcedor, de tal maneira que ele queira estar com a gente e não com outros canais.

Allan Lico abordou a questão da linguagem digital. Foto: Maloni Cuerci

Allan Lico discutiu o caráter interativo do digital e a adaptação dos grandes veículos a troca de informação com o público, capaz de interferir na transmissão. Lico apontou a diferença entre a transmissão em si e a interatividade proporcionada pelo digital. Para ele, quando se fala do ambiente digital, é importante entender o que se muda do ponto de vista de linguagem na transmissão e em como a dinâmica com o público afeta a exibição do conteúdo.

Carmona relacionou a transição da linguagem televisiva para o moderno ambiente digital. Para o comentarista, a mudança na linguagem não deve ser o foco, mas o formato em como será exibido o conteúdo. De acordo com ele, há a necessidade de fazer um discurso diferente, mais jovial, contudo as emissoras ainda não encontraram o viés de comunicação mais adequado para plataforma digital.

– Ainda não sabemos qual é o formato necessário para fazer a transição do evento que começa na televisão e termina no digital, é algo que estamos exercitando a cada transmissão. Há uma corrente dizendo que a passagem deve ser mais leve, mas isso ainda está muito solto. É muito importante acharmos teoricamente o melhor modelo para fazer essa transição.

Dados e fontes jornalísticas

Na palestra, jornalistas abordam a apuração de dados e fontes na profissão. Foto:Maloni Cuerci

Repórter especial Chico Otávio, do jornal O Globo, e a repórter Lola Ferreira, do site Gênero e Número, discutiram o processo de apuração de dados e fontes no jornalismo, mediado pelo professor Sérgio Mota, do Departamento de Comunicação Social. Otávio ressaltou o jornalismo de dados como um caminho baseado na procura, na movimentação de redes e de personagens. Segundo ele, a relação com às fontes deve ser construída a partir da confiança mútua e o respeito com a informação.

– As fontes são o meu maior patrimônio profissional em todas as áreas. O compromisso assumido com a fonte, para mim, é sagrado, porque o dia em que você quebrar, isso irá se espalhar pelo mercado das fontes e alguém vai dizer que eu não sou confiável.

Chico Otavio fala sobre a relação com as fontes e fidelidade ao público. Foto: Maloni Cuerci

De acordo com o jornalista, o limite dos dados está entre a ética profissional e o interesse público. Para ele, a reportagem fiel ao público deve prevalecer durante o processo de publicação da matéria

– O que pesa na minha cabeça é sempre o interesse do leitor, eu respeito e procuro ouvir a fonte, mas eu acho que o interesse maior, o que deve prevalecer, é a utilidade ao leitor.

Lola abordou a passagem pessoal de repórter de cidade para repórter de questões de gênero e raça.  Segundo ela, a reconstrução das fontes para a busca de dados foi um dos momentos mais complicados na carreira, contudo necessário.

– Como eu era repórter de cidade, as minhas fontes não eram pesquisadores de economia ou de questões de gênero, eram, na maioria, delegados e inspetores. Então, tive que recomeçar a construir minhas fontes e entrar muito mais no debate de gênero que, até então, era apenas um interesse particular.

Lola Ferreira comentou sobre o processo de reconstrução de fontes. Foto: Maloni Cuerci

Otávio relacionou o caráter digital do jornalismo ao crescimento da concorrência e a necessidade de agilidade com a informação. Para ele, a diferença no mundo tecnológico é a capacidade do repórter de emergir a informação inédita para os leitores. Como exemplo, Otávio lembrou o desenvolvimento da cobertura de uma das matérias.

– A gente preparou um grande ambiente digital, uma espécie de reportagem multimídia com vários capítulos e ficamos ali com o dedo no gatilho. No momento em que as equipes saíssem para às ruas, bastava a gente apertar o botão.

O jornalista discutiu as possibilidades promovidas pela tecnologia para o trabalho permanente de garimpagem do repórter, caracterizado pela paciência, persistência e segurança. De acordo com ele, para redigir uma boa matéria, é importante além de mergulhar nos papeis, nos gráficos e nas histórias dos personagens, buscar a realidade por detrás dos números.

– Apesar de todo esse aparato tecnológico estar sempre nos oferecendo mais um meio remoto de contato, as boas informações acontecem olho no olho. O jornalista deve fazer um trabalho de garimpagem, com muito trabalho de rua.

 

 

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