A trajetória da PUC-Rio se confunde com a de funcionários que encontraram na Gávea um local acolhedor para construir a carreira profissional. O campus como uma extensão do universo familiar é um dos aspectos que estimulou a permanência de profissionais por décadas na instituição. São mais de dez famílias que trabalham há gerações na Universidade e contribuem para a formação de um ambiente fraterno.
Oito pessoas da família Rodrigues deixaram a sua marca na história da PUC-Rio. O pioneiro é Lincoln Lener Rodrigues, que entrou aos 16 anos como mensageiro e se capacitou por cerca de quatro décadas na instituição até chegar ao cargo atual de analista de recursos humanos. Cerca de dois anos depois da contratação de Lincoln, a irmã Leila Lane Rodrigues conseguiu o primeiro emprego na Universidade para trabalhar na Coordenação Central de Extensão (CCE).
Leila começou na Superintendência Administrativa em 1986 e permanece até hoje na área de gerência administrativa e de contabilidade. Ela afirma que muitos funcionários da Universidade são antigos, e todos agem como se fizessem parte da mesma família. Com 43 anos de casa, Leila comenta que é uma sorte participar do dia a dia da PUC-Rio, que ofereceu a ela e aos parentes ótimas oportunidades, e, prevê, será difícil sair da equipe quando começar o processo da aposentadoria.
– É uma relação de amizade e gratidão, sou muito grata por estar aqui na PUC-Rio. Eu visto mesmo a camisa e me dedico, porque, mesmo em uma situação difícil que vivemos hoje, nós continuamos trabalhando aqui. Nós tínhamos a oportunidade de estudar, e a empresa tem um carinho muito grande pelas equipes, a Universidade abraça e se preocupa com cada um de nós.
Leila lembra que, quando começou a trabalhar para a instituição, na década de 1970, as pessoas tinham vontade de fazer parte da equipe de funcionários pela proximidade de casa e pelo prestígio acadêmico da PUC-Rio. Para ela, a relação com a Universidade é de amizade e não há nada melhor que um ambiente de trabalho com boa relação entre as equipes. Atualmente, três pessoas da família Lane estão na Universidade: além de Leila, o irmão dela e a sobrinha Patrícia Rodrigues Gonçalves.
Família Alves
A relação com a PUC-Rio começou quando um amigo da família apresentou o campus da Gávea para Sebastião de Oliveira e o sobrinho dele, Álvaro Alves. Em 1974, Oliveira conseguiu o emprego como ascensorista e, no ano seguinte, Alves participou de um processo seletivo e foi contratado como servente no Departamento de Psicologia. Depois dos pioneiros, seis parentes entraram para a equipe de funcionários da Universidade.
Alves explica que aceitou o emprego para sustentar os dois filhos pequenos e esperou por outras oportunidades dentro da instituição. Ele foi aprovado em uma prova interna para trabalhar nos Recursos Humanos (RH), setor no qual permaneceu até 2006. Hoje ele está aposentado, mas deixou sua marca nos familiares que indicou para trabalhar na Universidade, pois sabia que seria um ambiente acolhedor e agradável para os parentes.
– Conhecendo as pessoas da PUC-Rio e sabendo que meu sangue era meu sangue, não ia deixar nenhum rastro que poderia me envergonhar. A Universidade me deu muita coisa, como a amizade com o pessoal das equipes. Quando perdi minha filha, em 1986, e meu filho teve uma trombose venosa, tive muito apoio de todos, eles me abraçaram o tempo que precisei. Hoje eu agradeço à PUC-Rio e ao meu bom Deus, até nas horas difíceis.
De acordo com ele, ter a família junta e com emprego na instituição é como “ganhar na loteria”. Alves ressalta que pediu para sair da Universidade para descansar, pois começou muito jovem, assinou a carteira de trabalho aos 14 anos. A esposa Dulcineide Soares atuou por 29 anos na Biblioteca Central (BC) e, atualmente, os dois filhos, o irmão e o sobrinho do aposentado estão na Universidade.
Família Nascimento
A PUC-Rio mudou de endereço em 1955, saiu de Botafogo para a Gávea com objetivo de integrar as diferentes áreas acadêmicas. Abílio Delfino participou das obras dos prédios como encarregado e, depois, foi promovido a supervisor das equipes de construção. Após a inauguração do campus na Gávea, tanto a esposa quanto os filhos de Delfino trabalharam no ambiente que ele ajudou a edificar.
Edna Magnolia Nascimento participou do processo seletivo da instituição em 1977, passou para o setor de Recursos Humanos (RH) onde ficou por 25 anos. Quando o Departamento de Geografia se separou de História, ela foi convidada para ser a secretária de graduação e lá permaneceu até a aposentadoria. De acordo com Edna, ela e os irmãos frequentam o campus desde pequenos, quando iam visitar a mãe depois da escola e aproveitavam para procurar jamelão.
– Eu tinha entre 10 e 12 anos, achava tudo lindo, e dizia que era aquilo que queria para mim. Aprendi fazendo na PUC-Rio as coisas que sei hoje. Minha experiência no RH era na área administrativa e, quando fui para o Departamento de Geografia, a realidade era diferente. Precisei aprender tudo de graduação e da parte acadêmica, então, liguei para os meus amigos e eles me ensinaram a fazer as coisas.
A aposentada afirma que não consegue comentar sobre a trajetória pessoal sem relembrar dos 38 anos de atuação na Universidade. Atualmente, o irmão compõe o quadro de funcionários do Departamento de Física, o marido é supervisor da equipe de segurança, e a cunhada é secretária da pós-graduação do Departamento de Matemática.
Família Seghetto
Uma das famílias mais antigas da PUC-Rio, os Seghetto integram a equipe de funcionários há 20 gerações e participaram do crescimento da instituição. O pioneiro foi Geraldo Seghetto, que entrou como ascensorista e incentivou os parentes a trabalharem no campus da Gávea. Em 1987, Rita Luquini Seghetto passou no processo seletivo para atuar como auxiliar administrativa do Projeto Comunicar onde, atualmente, é coordenadora administrativa da área.
Também conhecida como Ritinha, ela frequentava a PUC-Rio desde pequena para visitar os familiares e entrou para o quadro funcional da Universidade aos 30 anos. Segundo Rita, a família reunida na instituição e a dinâmica de trabalho agradável a incentivaram a fazer parte do corpo de funcionários. A coordenadora administrativa do Comunicar diz que muitos, como o pai dela, Nélio Seghetto, construíram uma carreira no campus da Gávea até a aposentadoria.
Nélio, 87 anos, trabalhou no Departamento de Química por seis meses e depois foi transferido para o de Física. Ele ficou responsável pela limpeza e organização das peças do acelerador de partículas Van de Graaff e ajudou o engenheiro americano na montagem do equipamento. Segundo o patriarca da família Seghetto, ele fez posteriormente um curso por correspondência de eletricidade geral para se capacitar e foi promovido a auxiliar técnico de laboratório.
– Eu me sinto realizado. Saí da roça com 33 anos. Ainda assim, consegui vencer. Entrei na PUC-Rio com 34 anos e sai definitivamente cerca de 44 anos depois. Eu desejo que todos os professores e amigos se sintam felizes como eu me sinto, porque é muito bom trabalhar na PUC-Rio. Eu desejo que eles sejam felizes, até mais do que eu.
Filha mais velha de Nélio, Rita conta que, além das oportunidades profissionais, graças ao bom clima de trabalho, é possível fazer amizades. Ela lembra ainda que o arborizado campus da Gávea, onde ocorrem todos esses encontros, é mais uma lembrança que fica desta relação que, para alguns, é muito duradoura. E, assim como o pai, se sente uma pessoa de sorte de fazer parte deste lugar que ela qualifica como especial.
– A PUC-Rio é o céu, o lugar de acolhimento e, se não fosse assim, minha família não teria se aposentado nela. É onde nos sentimos bem, onde somos acolhidos, valorizados e onde crescemos. Tem outras oportunidades fora da Universidade, mas você tem que saber o que te basta. Eu me realizo e estou realizada assim. A cada vez que subo aquela rampinha e olho para os prédios, eu faço a minha reza para agradecer por estar ali e fazer parte daquilo – diz Rita.