Com o propósito de discutir sobre a dificuldade de acesso à universidade e a desigualdade no ensino, foi realizado, no dia 19 de agosto, por videoconferência o debate Roda Multicêntrica – os pré-vestibulares comunitários e a produção dos novos intelectuais orgânicos. O jornalista e defensor dos direitos humanos, Rumba Gabriel, abriu o bate-papo com uma discussão sobre a necessidade de haver um ensino de qualidade e igualitário para todos. Ressaltou, também, que a educação deveria ser um direito e não uma luta, pois a Constituição garante isto para todos.
Logo após, o criador dos Pré-Vestibulares Comunitários (PVCs) e defensor das cotas, Frei David, contou como os alunos da Comunidade Jacarezinho, no Rio de Janeiro, conseguiram entrar em universidades, como PUC-Rio; Uerj; UFRJ; UFF e UNIRIO; e agora são considerados produtores de conhecimento. Ele também comentou sobre o nascimento do Pré-Vestibular Comunitário e que o surgimento dele foi uma contestação, pois as universidades públicas, de acordo com Frei David, estavam “dando as costas para o povo”.
- Para nós era difícil ver o aluno entrar no pré-vestibular comunitário e, no final do ano, ele não tem dinheiro para pagar a inscrição das universidades públicas. E, então, nós fomos a cada reitor pedir o direito do povo para fazer o vestibular com isenção da taxa. Foi uma conquista do povo organizado e que, portanto, a partir da luta da EDUCAFRO, no Rio de Janeiro, as isenções passaram a ser obrigatórias em todas as universidades públicas do Brasil.
Segundo ele, por causa deste contexto de dificuldade, ele procurou a PUC-Rio para propor uma parceria. O Vice-Reitor Comunitário da PUC-Rio, professor Augusto Sampaio, comentou que na década de 1990, o antigo Reitor da Universidade, padre Laércio Dias de Moura S.J. (1918 - 2012), recebeu uma carta da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) pedindo um vestibular para negros e carentes. A partir daí, o Vice-Reitor Comunitário tomou a frente do projeto, com a condição de que os candidatos seriam aprovados por um bom desempenho no vestibular.
- Começamos com 12 alunos, a maioria para o curso de Serviço Social e duas pessoas para o curso de Filosofia. Hoje, nós temos quase três mil alunos com perfil de renda familiar per capita de no máximo um salário-mínimo e meio comprovado. É importante frisar que essas bolsas foram criadas uns dez ou doze anos antes da criação do Prouni. A Universidade, hoje, tem o seu perfil filantrópico muito bem justificado, graças à época do PVCs que tiveram um efeito espetacular.
Professor Augusto ainda compartilhou um dado levantado pela própria Universidade que comparava a média coeficiente de rendimentos de todos os alunos da PUC-Rio e, segundo ele, o coeficiente de rendimento dos bolsistas é superior aos demais alunos. Ele fez questão de ressaltar que o Pré-Vestibular Comunitário foi o responsável para justificar a identidade e missão de uma universidade católica.
O atual coordenador do pré-vestibular EDUCAFRO, Thiago Veloso, hoje estuda com uma bolsa de 100% na Faculdade Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ). Ex-aluno do pré-vestibular, ele cursa Ciências Sociais e Direito. Ele explicou que as pessoas que procuram o programa chegam desorientadas e não, necessariamente, sabem como conquistar uma vaga nas universidades. De acordo com Veloso, o trabalho inclui a organização de encontros como feiras e palestras para ajudar os estudantes a montar uma trajetória que faça sentido. Ele finalizou com a explicação do projeto bolsa dinâmica.
- As famílias não conseguem, minimamente, compreender como investir nos filhos, então o Frei David sugeriu que a gente criasse um projeto que fornecesse um valor financeiro para a pessoa, a partir do desempenho delas. Temos o número X de bolsas dinâmicas e um número Y de alunos, estes alunos estudam em um pré-vestibular e fazem uma prova a cada mês e são avaliados pelo desempenho, pela participação nas aulas e na participação da cidadania. A partir disso, a gente distribui uma bolsa de R$ 500.
O debate também contou com a participação da primeira reitora negra do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), professora Luanda Moraes. Ela ressaltou que a distância de moradia dos jovens estudantes para as universidades dificulta o desempenho e, por isto, surgiu a Uezo. Ela comentou que a restrição de acesso ao ensino público é uma grande marca e evidente da desigualdade étnico-racial. Ela assinalou que a diferença social no Brasil fica evidente no desequilíbrio educacional e destacou da importância do papel da universidade neste contexto.
O Reitor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), professor Ricardo Lodi, apontou, no início da sua fala, a luta que a instituição passa por ser plural, democrática e inclusiva. Ele comentou que o projeto de cotas é uma das principais características da UERJ e sinalizou que não basta apenas garantir a vaga, mas é necessário haver condições para um maior aproveitamento. Ele citou os projetos e programas que continuam funcionando, na pandemia, para os cotistas poderem continuar o estudo.
- A nossa política afirmativa não se esgota na concessão da vaga, existe uma política de assistência estudantil. Nós criamos a Pró-reitoria de políticas e assistências estudantis (PR4) que tem dado uma grande contribuição na permanência estudantil dos nossos alunos cotistas. A UERJ continuou garantindo a renda dos estudantes cotista independentemente de qualquer coisa, ao mesmo tempo, no ano de 2020, garantimos um auxílio material didático.