Inteligência Artificial como ferramenta para a qualidade de vida
02/09/2021 15:09
Carolina Smolentzov

Em Aula Inaugural do CTC, professor André de Carvalho, da USP, defende o uso responsável da tecnologia

Professor André de Carvalho, da USP

Professor titular do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (ICMC-USP), André de Carvalho foi o palestrante da aula inaugural do Centro Técnico Científico (CTC) da PUC-Rio, no dia 27 de agosto. O tema foi O papel da Inteligência Artificial (IA) nas ciências básicas e nas engenharias – Como a IA pode ser usada de forma responsável e para a melhoria da qualidade de vida. Carvalho discutiu as questões éticas que permeiam a IA, e reforçou a importância do uso responsável da tecnologia para o bem do ser humano. A mediação foi feita pelo Decano do CTC, professor Sidnei Paciornik. 

A fala inicial foi do Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira S.J., que analisou a urgência deste tema e a pluralidade de aplicações dentro e fora do ambiente acadêmico.

– A IA é uma espécie de projeção para fora de nós mesmos, daquilo que nós temos de mais evoluído na espécie humana: a inteligência reflexiva. Acho que a IA é muito importante, poque ela vem para servir. Não só a nós pessoalmente, mas socialmente, como uma espécie de complementação daquilo que nos falta. É uma temática muito importante, que nós da PUC temos dado muito apoio, e vai aos poucos ocupando muitos espaços dentro da Universidade – afirmou o Reitor.

Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira S.J.

De acordo com Carvalho, o objetivo da IA é apenas um: melhorar a qualidade de vida das pessoas. Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Computação, ele definiu a área como transdisciplinar e como suporte para pesquisas em outras setores do conhecimento, mas destacou o protagonismo do aprendizado de máquina, ou seja, máquinas que aprendem. Ele ressaltou também a importância da PUC-Rio na informática e na computação brasileira.

– Para dar uma ideia de quanto está crescendo, já existem dezenas de milhares de algoritmos diferentes, e, a cada ano, centenas de algoritmos novos são criados. Mas quero observar que a máquina não é a solução para todos os problemas. Muitos problemas têm soluções mais simples e eficientes, que nem passam pela IA. Existe uma ânsia de a tudo aplicar aprendizado de máquina e IA. Ela não é uma panaceia para todos os problemas. É um conjunto de técnicas, como existiram várias outras antigamente, e vão existir outras que vão fazer sucesso no futuro também.

Neste sentido, frente aos inúmeros dilemas éticos que podem emergir a partir do mau uso da IA, surge um movimento chamado Inteligência Artificial Responsável. O pesquisador elencou alguns dos principais requisitos que são defendidos pelos profissionais da área: que seja inclusiva, não tenha preconceitos, respeite privacidade dos indivíduos, preste contas, seja justa e transparente, e finalmente, que esteja de acordo com os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU. Estes princípios, destacou Carvalho, também estão previstos pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

– Qualquer ferramenta deve ser justa e não preconceituosa. É difícil identificar os algoritmos não-éticos. O ideal é que, assim como para computação, os modelos gerados sejam testados e validados. Em IA, temos vários casos de preconceito, e para isto a transparência e a regulação são necessárias para evitar ou reduzir abusos. Mas nunca devemos impedir avanços tecnológicos que possam trazer benefícios para a vida da população. Toda tecnologia tem benefícios e riscos, e o mesmo vale para IA, é claro – reconheceu o professor.

Aplicações da Inteligência Artificial

Dentre as experiências passadas, Carvalho citou pesquisas nas ciências básicas, como predição de propriedade de vidros, qualidade da madeira e classificação de diferentes líquidos. Já os projetos nas engenharias vão desde sugerir a inclinação da curva de uma rodovia para reduzir a taxa de acidentes, até desenvolver uma estação de tratamento de esgoto com o uso de redes neurais – sistemas de computação interconectados de forma similar aos neurônios humanos.

As aplicações da IA, no entanto, não se limitam a estas áreas. Por exemplo, o projeto The first 1.000 days segue os primeiros mil dias de mil crianças para acompanhar o desenvolvimento das habilidades cognitivas mais críticas. Há também uma iniciativa para facilitar projetos de leis na Câmara dos Deputados – por meio de verificação da opinião pública, e pesquisas prévias para relacionar parlamentares a consultores em áreas do conhecimento especificas.

Além disso, Carvalho apresentou ainda a Rede IARA, um centro de IA que que reúne pesquisadores do Brasil inteiro. Entre eles, a professora Marley Vellasco, do Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio. Coordenado pela USP em conjunto com 40 universidades, o projeto engloba não só prefeituras, mas empresas que financiam as pesquisas para melhoria da qualidade de vida nas cidades.

Professora Marley Vellasco

O objetivo é conciliar a tecnologia com o desenvolvimento social, ao usar ferramentas aliadas a políticas sociais e garantir a prestação de serviços eficientes e de qualidade à população. Tudo isso, afirmou Carvalho, de forma sustentável, inclusiva, responsável e fortemente baseada na ciência. No estado do Rio de Janeiro, a cidade de Niterói receberá a Rede IARA.

A vasta gama de possibilidades de aplicação e a transversalidade da IA foram estímulos para a discussão do tema na aula inaugural. As pesquisas na área, portanto, podem passar pela física, matemática, psicologia, computação, química, filosofia, entre muitas outras. O Decano do CTC complementou que, embora as iniciativas da PUC-Rio sejam capitaneadas pelos especialistas da informática e da engenharia elétrica, inúmeros profissionais também aplicam a IA de certas formas.

– É muito bom ouvir falar da ciência como suporte à decisão, para melhorar a qualidade de vida com base no que ela pode dar de estrutura e de consciência. Minha intenção ao buscar esta temática foi abrir essa porta aqui dentro da Universidade, e a gente vê uma possibilidade enorme de interação interdisciplinar no nosso Centro. Essas interações são vitais e muito viáveis dentro da Universidade. 

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