Crise ambiental brasileira
04/09/2021 01:05
Júlia Pinna

Em Aula Inaugural jornalista André Trigueiro alerta para a questão da seca no país

 

Imagem: jornalista e professor André Trigueiro

O Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio realizou dia 31 de
agosto a Aula Inaugural do período com uma palestra do jornalista e professor André
Trigueiro, do Departamento de Comunicação, com o tema O quadro ambiental
brasileiro: um panorama atual. Durante o encontro, Trigueiro alertou que o mundo
sofre com uma crise no meio ambiente sem precedentes na história e que o Brasil,
apesar de ser uma potência biodiversa única, está “secando” por causa de um
cruzamento de fenômenos.

Segundo o professor, existe também a questão da mudança do clima, provocada pelo aquecimento global, que altera o ciclo hidrológico natural, e determina um novo padrão não positivo. Além disso, definiu como caótico o avanço do desmatamento em todos os biomas brasileiros, com destruição de florestas para plantação de capim e criação de gado. Assim, ressaltou, o Brasil fica mais seco e, consequentemente, inflamável.

Trigueiro apresentou dois dados que, de acordo com ele, são fundamentais para entender esta secura progressiva que o território brasileiro passa. Primeiro, é a informação divulgada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico, que monitora o nível de todas as barragens do Brasil. Há seis anos o órgão registra de forma progressiva períodos sucessivos de seca, uma série histórica em que o país não consegue compensar nos meses de verão chuvosos. O segundo é o fato de profissionais do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (CEMADEN) terem publicado na revista Science um artigo que informava que, a partir de 1999-2000, as secas têm se agravado numa proporção jamais vista na série histórica desde o início do século passado.

O jornalista ressaltou que nunca viu em momento algum da história do Brasil um governo comprometido totalmente com o meio ambiente, o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade. Para o professor, no entanto, os políticos do passado ainda faziam concessões ou medidas parciais. Mas, afirmou, hoje, as ações de governadores, deputados federais e do Presidente da República têm piorado, e existe uma retórica antiambientalista presente em pessoas que ocupam cargos importantes.

 - Nos últimos dois anos e oito meses, pela primeira vez, vi um governo claramente antiambientalista, o que significa dizer que é um governo que operou o desmonte do Conselho Nacional do Meio Ambiente, amarrou a fiscalização, deixou de cobrar multa ambiental, estigmatizou o Ibama e o ICMBio. Ainda determinou a privatização ou a concessão de florestas públicas e unidades de conservação de uma forma açodada, apressada e suspeita, um governo que tomou partido em favor dos donos do maquinário usado para fazer garimpo ilegal em território indígena ou unidade de conservação. 

Para ele, chefiar um país da complexidade do Brasil exige educação e competência para formar equipes plurais e diversas que respeitem a ciência. Trigueiro disse que é preciso erradicar o analfabetismo ambiental, educar no Ensino Básico, Médio e Superior, e deixar claro que é possível construir um modelo de desenvolvimento que seja sustentável, isto é, resiliente na linha do tempo, que tenha capacidade de se recompor de impactos, sem risco de promover mais destruição, depredação e devastação. 

O jornalista afirmou que este panorama exige mobilização, articulação e atitude. Na área do conhecimento, apontou, é importante reforçar a comunidade cientifica e acadêmica. E comentou que a população precisa ter consciência da potência biodiversa que o Brasil é. Ele lembrou que 12% da quantidade de água doce do mundo estão no país, assim como a maior floresta tropical úmida do mundo, a Amazônia. Trigueiro ainda ressaltou que de 15 a 20% das espécies conhecidas do reino animal e vegetal são do Brasil.

- O Brasil sempre se soube grande, desde a chegada dos portugueses. Nós tivemos vários ciclos: pau-brasil, cana-de-açúcar, borracha, ouro, e por aí vai. O país foi e continua sendo de uma perspectiva extrativista arcaica, primitiva, nada sustentável, pouco inteligente. Não vejo no curto prazo qualquer mudança. Isto hoje configura nossa tragédia.

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