Cinquenta anos sem Raul Amaro
09/09/2021 14:58
Gabriel Meirelles

DCE homenageia ex-aluno da PUC-Rio, que morreu durante a ditadura militar

Raul Amaro Nin Ferreira na Serra da Bocaina, s.d. Fotógrafo desconhecido. Foto cedida pelo irmão Miguel Nin Ferreira.

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) Raul Amaro Nin Ferreira realizou no dia 12 de agosto a live “50 anos sem Raul Amaro: A luta dos estudantes ontem e hoje”. Com a presença de dois familiares do ex-aluno de engenharia da PUC-Rio, a transmissão ao vivo foi em memória de todos os cidadãos perseguidos e mortos no período da ditadura militar. A ação homenageou também os movimentos estudantis e os jovens que lutaram desde 1964 até os dias de hoje pela educação brasileira.

Raul Amaro se formou em Engenharia Mecânica na PUC-Rio em 1967, aos 23 anos de idade, e foi trabalhar no Ministério da Indústria e Comércio. Quatro anos mais tarde, foi preso em uma blitz, torturado por 12 dias e assassinado por oficiais do Exército. Antes de ser detido, Raul havia conseguido uma bolsa de estudos em uma universidade na Holanda e se preparava para a experiência na Europa.

Rodrigo Nin Ferreira contou como seu irmão mais velho se envolveu com grupos de oposição ao governo militar. No ensino médio, Raul Amaro atuava em movimentos estudantis com viés de centro-direita, mas, durante o tempo na Universidade, se aproximou da esquerda. Depois de formado, apoiou o Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8). Rodrigo expôs, ainda, a angústia da família a partir da prisão de Raul e os traumas que surgiram posteriormente. No dia 1º de agosto de 1971, após passar a noite anterior no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), o engenheiro foi levado para casa, que foi revistada por horas pelos militares. Os pais tentaram ir ao encontro do filho, mas foram impedidos de entrar e saber para onde ele seria encaminhado na sequência.

– Durante o período em que o Raul esteve preso, meus pais correram desesperadamente por quartéis procurando-o, mas ninguém sabia (onde ele estava). Fizeram todos os contatos possíveis, de advogados, autoridades. Não se conseguia saber nada do que estava acontecendo do outro lado. O choque familiar foi tão brutal que meu pai morreu um ano e meio depois, e, pelo o que eu pude acompanhar e perceber, foi de muita angústia, porque a impotência diante da repressão era uma coisa muito violenta para ele – revela Rodrigo.

Rodrigo Nin Ferreira, irmão de Raul Amaro

Sobrinho de Raul e filho de Rodrigo, Fábio Nin Ferreira, disse que o tio começou a se indignar com a ditadura militar por conta da demora na redemocratização e do endurecimento do regime. O músico elogiou a forma como Raul lutou por justiça social e pelo fim das desigualdades no Brasil. Para Fábio, Raul foi capaz de doar a juventude, energia e o entusiasmo mesmo diante de intensa repressão. O sobrinho do engenheiro lembrou, ainda, a tortura que o ex-aluno da PUC sofreu dentro do Hospital Central do Exército (HCE) e destacou o desconhecimento da população na época sobre as ações dos oficiais do Exército para com os presos políticos.

– Qual é o nível de degradação moral de um regime que tortura um preso dentro da cama do hospital? A barbaridade que ele sofreu foi um verdadeiro martírio. É inaceitável que uma nação brutalize um filho seu em nome de qualquer regime, governo ou ideologia. Que a luta dele sirva sempre de exemplo para que a gente nunca deixe de cuidar da democracia – declara.

Fábio Nin Ferreira, sobrinho de Raul Amaro

A diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE), Fabiana Amorim, resgatou algumas datas relevantes para o movimento estudantil. Além do dia do estudante, comemorado em 11 de agosto, a jovem relembrou o assassinato de Edson Luís de Lima Souto, no dia 28 de março de 1968. A indignação diante da morte do aluno de Ensino Médio culminou na Passeata dos Cem Mil, em junho do mesmo ano. Fabiana enxerga a importância de conhecer o passado para que a sociedade aprenda com os erros e acertos. Segundo ela, há hoje, no Brasil, uma disputa de narrativas, e é obrigação dos cidadãos manter viva a memória das atrocidades cometidas pelo Estado no regime militar.

A estudante de Ciências Biológicas Francisca Cardoso mediou a live. Na abertura, a Coordenadora Geral do DCE PUC-Rio, Laís Buarque, manifestou repúdio aos ataques do presidente da República, Jair Bolsonaro, à educação e à democracia, e reafirmou a importância da união dos estudantes na luta pela garantia destes direitos.

Em 2014, a Editora PUC-Rio publicou um relatório com toda a documentação que foi possível levantar sobre o caso Raul Amaro. O coordenador do site Armazém Memória, Marcelo Zelic, e outros dois sobrinhos do engenheiro – Felipe e Raul Carvalho Nin Ferreira – foram responsáveis pela pesquisa e escrita de todo o material. O texto está disponível no link http://www.editora.puc-rio.br/media/ebook_raul_amaro.pdf.

A live pode ser acessada na página do DCE Raul Amaro no Facebook.

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