O valor da educação
27/05/2022 18:22
Giulia Matos

Semana dos Direitos Humanos celebra a fraternidade, o estudo e o bem comum.

Foto: Jorge Paulo Araujo

O tema da quinta edição da Semana de Direitos Humanos (SDH), “Amar: verbo educativo”, serviu de inspiração para palestra de abertura do encontro, realizada pelo Vice-Reitor Geral da PUC-Rio, padre Anderson Antônio Pedroso, S.J., e o Reitor da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, padre Arnaldo Rodrigues, no dia 23 de maio, no Espaço Dom Luciano Mendes. Os religiosos assinalaram a importância de investir em uma educação humanista, para todos, e preocupada com questões essenciais do ser humano.

A ideia da SDH deste ano foi propor reflexão e análise sobre os Direitos Humanos, principalmente no que diz respeito à educação. O Pacto Educativo Global e a Campanha da Fraternidade 2022 serviram de base para a elaboração da SDH, que é organizada pela Pastoral Universitária Anchieta. O primeiro é um chamado, promovido pelo Papa Francisco para que todas pessoas, instituições, igrejas e governos ao redor do mundo priorizem uma educação solidária e humanista, a fim de possibilitar a transformação da sociedade. Já a Campanha da Fraternidade, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), propõe a promoção de um diálogo para encontrar, à luz do Evangelho, soluções para a educação do país.

O Vice-Reitor Geral da PUC-Rio comentou a pertinência de associar o conceito de amor ao de educação. Segundo ele, uma mistura que contribui para a mudança da percepção deste sentimento, geralmente correlacionado a relacionamentos amorosos, enquanto, na realidade, ele está presente em diferentes situações no dia a dia.

- Achei a ideia escolhida muito interessante, pois conecta o amor e a educação. Geralmente, quando falamos de amor pensamos no sentido romântico, mas não é só isto. O amor está nas palavras, nas ações e está totalmente presente na dimensão da educação. Nós aprendemos a amar, não é algo que nos é dado, e sim ensinado. Amar é o caminho para o aprendizado. Deste modo, é interessante pensar sobre a educação neste sentido. Temos que sentir, pensar sobre o tópico em todos os âmbitos.

Vice-Reitor Geral da PUC-Rio, padre Anderson Pedroso, (Foto: Jorge Paulo Araujo)

Os abusos aos Direitos Humanos no cotidiano foram mencionados por padre Anderson, cuja Declaração Universal foi criada no período da Segunda Guerra Mundial, ocorrida entre 1939 e 1945. Ele enfatizou que apoiá-los é uma forma de resistência e de expor e defender uma causa que engloba todos os seres humanos.

- Esta pauta sofre diversos ataques atualmente. Acho que estas agressões são feitas de maneira injusta. Devemos lembrar que os Direitos Humanos foram criados em um momento de drama para a humanidade, durante a Segunda Guerra Mundial, conflito que culminou em muitas vidas perdidas devido à insanidade do homem ao tentar provocar o extermínio dos seus semelhantes. A declaração desses direitos funciona como o grito de uma humanidade que se posiciona, que tem esperança, e precisamos nos posicionar. A educação está incluída neste meio.

O Pacto Educativo Global proposto pelo Papa apresenta uma lista de compromissos a serem seguidos. Pontos como colocar a pessoa no centro, ouvir as novas gerações, promover a mulher, responsabilizar a família, se abrir à acolhida, renovar a economia política e cuidar da casa são alguns dos pontos a serem destacados. O Vice-Reitor Geral declarou que estes deveres estão presentes na Universidade, e que o ambiente de ensino é um local propício para discussões políticas serem geradas.

- Nós atuamos com estes compromissos, principalmente como uma Universidade Católica, com toda nossa história. Colocamos o indivíduo no centro, promovemos a mulher, buscamos escutar sempre as gerações mais jovens, além de responsabilizarmos e acolhermos as famílias. Não somos partidários, mas somos políticos, na realidade, o campus é o local para fazer política no melhor sentido da palavra. A Universidade ajuda o estudante a compreender o que é política, como se faz pólis, como se vive em conjunto nesta minicidade que é a PUC.

Padre Arnaldo Rodrigues relembrou a fala do Papa Francisco sobre os tempos de pandemia da Covid-19, que apresentou para o mundo duas possibilidades: de melhora ou de retrocesso. Ele ainda propôs um questionamento sobre qual o modelo educativo que deve ser almejado e lembrou a necessidade de se imprimir uma visão aberta às questões do ser humano.

- O Papa citou que nós sairíamos destes dois anos de pandemia ou melhores, no sentido individual e coletivo, quanto comunidade, ou piores. Devemos levar em consideração estes pontos e buscar alternativas que caminhem para o lado positivo. Na educação, qual seria o modelo ideal a ser empregado? Acho que corresponderia ao modo humanista, integral, e a serviço da vida.

Padre Arnaldo Rodrigues. (Foto: Jorge Paulo Araujo)

O sacerdote afirmou que os seres humanos possuem a comunicação como meio intrínseco, natural. Nesta visão, os relacionamentos representariam a principal vertente de uma sociedade. Ele comentou sobre como os avanços tecnológicos estão profundamente mesclados às relações interpessoais e não podem ser dissociados delas.

- A formação humana integral nos conduz a refletir sobre as diferentes formas de educar, de construir comunidades humanos, as sociedades e civilizações. Todos são tecidos universalmente pelas relações pessoais e coletivas. Nós somos seres relacionais. O mundo digital não é excluído disso. Sempre pensamos que há uma divisão entre o real e o virtual, mas isto não é verdade. Em uma chamada ao celular, conversa, há sensações, emoção, então ocorre um diálogo. Devemos aprender a lidar com estes progressos, que se intensificaram com a pandemia. 

O Reitor da Igreja do Sagrado de Coração de Jesus abordou a questão da iniquidade social no Brasil e sugeriu algumas propostas que possam ajudar a reverter o quadro. Para ele, a mudança poderia ocorrer por meio da educação, que enfrenta dificuldades no atual governo. Assim, o aumento à introdução de ideias voltadas ao bem comum e o reconhecimento das disparidades em instituições educacionais pode auxiliar, inicialmente, para a redução ou resolução deste desafio.

- Precisamos promover uma educação que molde pessoas disponíveis ao serviço da comunidade, que consigam pensar nas novas e distintas realidades e responsabilidades. Rever as prioridades, educar para o novo humanismo e divulgar a cultura do encontro, do diálogo, além de globalizarmos a esperança, são tópicos que merecem atenção. O índice de desigualdade, principalmente quanto à educação, é grande. Desse modo, é necessário a criação de redes de cooperação para inclusão, seja por meio presencial ou digital, meio no qual 59% dos brasileiros não possuem acesso.

 

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