Castanha do Pará e uma pitada de esperança
26/08/2015 17:49
Ana Patricia Paiva

Repórter do Projeto Comunicar conta como foi a experiência no Projeto Rondon

Crianças carentes participam de gincana na Escola Municipal Hélio Frota, em Abel Figueiredo, no Pará

Do Rio de Janeiro, escala em Brasília, destino Marabá. Assim estava escrito no bilhete da minha passagem aérea de ida. Depois, era preciso seguir de ônibus para Abel Figueiredo – sudeste do Pará, 7.070 habitantes, 614 km², 580 quilômetros de distância de Belém. Ainda assim não me dizia nada. O que me vinha à cabeça era “o que será que encontrarei por lá?”

A missão era o Projeto Rondon – coordenado pelo Ministério da Defesa –, operação Itacaiúnas, realizada de 17 de julho a 2 de agosto, nos estados do Pará e do Tocantins. No total, 30 instituições de Ensino Superior se dividiram entre os 15 municípios escolhidos. Aqui da PUC-Rio, eu e mais sete estudantes de diferentes cursos e períodos, mais duas professoras, encaramos essa experiência.

Uma nota publicada no PUC Urgente, criação de um projeto, entrevista, ligação “você passou” e reuniões. Rápido e intenso, assim como foram os 18 dias que fiquei em Abel – para os íntimos. Conheci outra realidade de mundo. Um Brasil que vai além do eixo Rio-São Paulo, Carnaval, praia, futebol, Pão de Açúcar. Nas minhas oficinas de reciclagem de garrafa PET, ouvia histórias de pessoas que lutam para sair da pobreza, para ter seus direitos garantidos e dar aos filhos uma condição de vida melhor. Eles querem ser ouvidos e reconhecidos. Querem andar pelas ruas sem o esgoto a céu aberto.

De população esperançosa, que enfrenta com esforço os obstáculos diários oriundos da injusta condição de vida, Abel Figueiredo tem alto índice de pobreza e exclusão social. Tão longe e, ao mesmo tempo, tão perto de nós. Longe, pois é oculta a dor que eles sentem, invisível diante dos nossos olhos. Perto, pois nesse desconhecido há problemas tão semelhantes quanto os existentes no resto do Brasil. E que, na verdade, só me fizeram confirmar o quanto somos iguais. Expandi minha visão de mundo e mudei minha ideia de sofrimento.

De Marabá, escala em Belém, Belo Horizonte, destino Rio de Janeiro. O bilhete aéreo de volta anuncia outra etapa da operação, afinal, o bem deve ser feito em qualquer lugar. Sou extremamente grata à população de Abel. A troca de cultura, de experiência e de conhecimento me tornou uma cidadã mais consciente das questões sociais. Trouxe comigo castanha do Pará, farinha de tapioca e uma pitada de esperança para persistir em tentar construir um país melhor.

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