Inclinação policêntrica comanda nova geografia urbana
20/10/2016 10:51
Ana Clara Silva

Metamorfose das cidades precisa ser acompanhada de infraestrutura, geógrafa

Foto: Gabriel Molon

O crescimento territorial urbano e o consequente avanço das atividades comerciais exigem um desenvolvimento proporcional da infraestrutura das metrópoles, senão as cidades se distanciam do papel de catalisadoras de espaços de bem-estar. O alerta da professora da USP e da PUC-Rio Sandra Lencioni vai ao encontro dos esforços coordenados de profissionais e acadêmicos para a consolidação de metrópoles mais agradáveis, humanizadas e integradoras. Parte desses especialistas – do Brasil e do exterior – participou da série de palestras reunidas na Semana de Geografia da PUC-Rio.

 – Não seria possível um adensamento urbano se não houvesse também um desenvolvimento das condições gerais da metrópole – sintetizou Sandra, no segundo dia de palestras.

A busca de uma infraestrutura capaz de adequar os espaços urbanos ao crescimento das atividades econômicas e comerciais abriga diversos pontos associados à urbanização, lembra a doutora em Geografia, desde questões do mercado fundiário e de renda até os limites alusivos às zonas urbana e rural. Ainda de acordo com Sandra Leoncini, tais aspectos devem estar contemplados num Plano Diretor alinhado a políticas que promovam a integração entre as iniciativas pública e privada para a construção de espaços urbano e rural integrados e contemplados por serviços essenciais.

Nas questões fundiárias, observou a professora, nem sempre é respeitada a determinação formal. Não raramente prevalece, para a qualificação imobiliária, a natureza da atividade no local. Por exemplo, um imóvel formalmente incluído no perímetro urbano pode ser considerado rural por conta do tipo de solo ou por acolher uma prática associada mais ao campo do que à cidade.

Independentemente de classificações formais, a metropolização se expande no Brasil e no mundo. Constitui uma “fase superior da urbanização”, dizem os especialistas, apesar de não ser uma pós-urbanização. O processo imprime características metropolitanas ao espaço, seja qualificado ou não de metrópole.

O fenômeno inclui, em maior ou menor escala, traços como investimentos relativamente expressivos no setor imobiliário; desenvolvimento de serviços relacionados à gestão do capital; multiplicação de centralidades; densidade significativa de redes e materiais; hábitos culturais inspirados na vida cosmopolita; e espaços cada vez menos marcados pela lógica da indústria. Essa metamorfose de uma cidade que se regionaliza, caracterizada pelo que os especialistas chamam de policentralidade, produz uma nova geografia urbana.

São Paulo revela-se um dos exemplos de (re)organização regional policêntrica. Um emblema de cidade-região, marcada, entre outras características, por concentrações de riqueza e pobreza: “o muito rico combinado ao muito pobre”, resume Sandra. Lugar de concentração da indústria inovadora, aglomera serviços voltados à gestão do capital. Apresenta as maiores taxas de urbanização do país e a maior densidade de condições dirigidas à produção de bens de serviço.

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