Dá um google
14/03/2018 15:25
Pedro Madeira

Após 20 anos da origem do Google, a empresa revolucionou o modo como usamos a internet e buscamos informações. Foi uma história de sucesso nos negócios, mudança de mentalidade, mas, gradualmente, as críticas começam a ganhar força

Ilustração: Beatriz Meireles

Aos menos chegados à história da web, Google e Internet são quase sinônimos. A empresa fundada pelos amigos Sergey Brin e Larry Page era, na concepção, uma experimentação de dois alunos que buscavam melhorar suas buscas na Internet, um deserto em meados da década de 1990. Vinte anos depois da fundação, 90% dos usuários de rede buscam informação utilizando o buscador. E, hoje, a empresa se iguala a gigantes como a Apple em valor de mercado.

A escalada da empresa até o modelo de negócio alcançado foi uma corrida comum à época, mas de sucesso sem precedentes. Celeiro dos principais nomes em estudos sobre a web, a Universidade de Stanford, casa da dupla de amigos Brin e Page, juntou academia e mercado. As pesquisas do campus eram acompanhadas de perto pelos investidores que farejavam com ansiedade o futuro do capital de investimento. O diretor do programa Apple Developer Academy, da PUC-Rio, Andrew Costa, aponta a importância da relação entre esses dois lados.

- As empresas têm essa visão, que é um investimento para poder pegar tendências futuras e melhorias do que pode acontecer. Então, empresas grandes como a Apple, o Facebook e a Google estão muito antenadas, caso surja uma tendência nova de pesquisa. Muitas das soluções tecnológicas vêm de teses de doutorado.

AltaVista, WebCrawler e Yahoo! foram alguns dos sites de buscas anteriores à Google, que cumpriu a promessa de oferecer resultados mais refinados às buscas. Professor com ênfase em banco de dados para Bioinformática, do Departamento de Informática, Sérgio Lifschitz, explica que, para conseguir esse resultado, o Google usou a fórmula que foi denominada de PageRank

- A Google surgiu com o PageRank, que opera para descobrir quais páginas as pessoas deveriam estar mais interessadas, baseado na popularidade. Hoje em dia, com a rede social, parece óbvio, mas se for parar para pensar, há 20 anos atrás não era. Eles sabem da importância da ferramenta e, por isso, continuam aprimorando, porque se aparecer alguem com um mecanismo de busca mais organizado, a Google perdeu

O crescimento vertiginoso de acessos demandava uma estrutura física cada vez mais sofisticada. A empresa precisava monetizar os serviços para se manter no topo e continuar inovando. A solução veio com os AdSense, os anúncios. De acordo com os relatórios anuais da empresa, o faturamento da gigante passou de US$ 1,5 bilhões, em 2003, para US$ 109 bilhões, em 2017. Dessa quantia, US$90 bilhões foram de propaganda. São 20 petabytes de dados por dia, um número grande de acessos e de propagandas pagas por investidores.  

Outra operação que rende cheques para a companhia é a venda de informações do banco de dados da Google, o maior de todas as empresas congêneres, mas, por isso, surgem críticas à empresa, lembra Andrew Costa. A navegação deixa rastros que são reunidos, organizados em categorias - seja por área geográfica ou faixa etária, por exemplo – e posteriormente vendidos às empresas interessadas em montar perfis de consumidores.

- Há vários serviços do Google que deixam transparente que eles podem usar seus dados para alguma coisa. Só que as pessoas não leem. Mas tem pessoas que se sentem invadidas? Sentem-se, de fato – observa, Costa.

Em maio deste ano, a nova Regulamentação Geral de Dados da União Europeia fez uma releitura da Diretiva de Proteção de Dados de 1995. O documento impunha limites ao uso de dados pessoais pelas empresas prestadoras de serviço na web, algo que deve ser um passo na política de privacidade. No Brasil, em novembro de 2016, o Ministério Público Federal no Piauí entrou com ação legal contra a Google, em razão da, já pública, prática de escaneamento de e-mails do Gmail. Autora do livro Internet e Contratação - Panorama das Relações Contratuais Eletrônicas de Consumo, a professora Caitilin Mulholland, do Departamento de Direito, diz que, do ponto de vista jurídico, condutas como escaneamento de e-mails e compilação de dados de usuários, é uma violação de privacidade.

-  As pessoas não se dão conta que esses dados são usados. O próprio usuário não percebe o impasse, não há consentimento. Mais de 90% das pessoas acessam o site; não é um serviço privado, é um direito essencial, o indivíduo tem direito de acesso e compartilhamento de informações livremente e, por isso, é preciso regulamentar.

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