Exilados da Nicarágua pedem apoio internacional
20/09/2018 10:24
Nícolas Caldas e Thamiris Pinheiro

Grupo percorre países para denunciar as violações de direitos humanos sofridas no país

Reprodução TV PUC-Rio

Três nicaraguenses em caravana pela América do Sul estiveram na PUC-Rio para a mesa-redonda Democracia latino-americana em crise: o caso da Nicarágua, promovida pelo Núcleo de Estudos Interdisciplinares Ibero-Americanos. Houve também a exibição do documentário Heredera del Viento, da diretora nicaraguense Gloria Carrión. A passagem do comboio pelos países busca chamar a atenção para os conflitos na Nicarágua e pedir apoio internacional. A agenda do grupo, chamado de Caravana de Solidariedade, envolve palestras e reuniões com movimentos sociais. Além do Brasil, a os nicaraguenses também vão passar pelo Chile, Uruguai, Peru e pela Argentina.

A Nicarágua enfrenta uma crise social e humanitária desde abril, e as manifestações começaram em resposta a uma reforma da previdência que seria decretada pelo presidente, Daniel Ortega. O governo retirou a proposta em poucos dias, mas os protestos só aumentaram porque manifestantes morreram em confronto com as forças de segurança. Segundo os integrantes da Caravana de Solidariedade, estudantes e integrantes de movimentos sociais são os principais alvos da violência do estado.

Reprodução TV PUC-Rio

Representante da Coordenadoria Universitária pela Democracia e Justiça, a comunicadora Ariana McGuire Villalta, de 27 anos, denuncia que companheiros do coletivo foram presos por motivos políticos. Eles foram enquadrados na Lei Antiterrorismo e levados para El Chipote, uma prisão histórica na qual Ortega já ficou preso durante a revolução que o levou ao poder e derrubou o governo de Anastasio Somoza, no final da década de 1970. Para ela, opor-se ao governo é um grande risco na Nicarágua.

- O povo nicaraguense está sofrendo uma caçada de líderes sociais e líderes estudantis também, mas qualquer pessoa na Nicarágua que seja divergente do governo do Daniel Ortega, que se manifeste contra, que faça alguma mobilização, um protesto, nas redes sociais, até em suas próprias casas, qualquer pessoa pode ser capturada por grupos paramilitares ou pela polícia nacional.

Estudante de psicologia, Yader Parajón Gutiérrez, 27 anos, faz parte do movimento Mães de Abril, que integra familiares de pessoas mortas nos primeiros protestos. O irmão dele, Jimmy, de 36 anos, foi assassinado no dia 11 de maio enquanto levava mantimentos para estudantes que ocupavam uma universidade em Manágua, capital do país.

- As mães foram golpeadas psicológica e emocionalmente em maio, quando houve uma grande marcha no Dia das Mães, em que 20 pessoas foram assassinadas pela força letal do governo, 18 em Manágua e dois na zona norte do país, simplesmente por protestar.

Carolina Hernández Ramírez. Reprodução TV PUC-Rio

Outro grupo que sofre repressão das forças do governo é o movimento ambientalista. Carolina Hernández Ramírez, 36 anos, é de uma comunidade cujo sustento provém da mineração artesanal, mas, comentou, as famílias correm risco de remoção. Ela afirmou que Ortega faz acordos com transnacionais que tiram a soberania do país e vão contra os interesses da população. Ela ainda revelou que a oposição, que protesta contra a presença de mineradoras industriais no país, é reprimida pelas forças do governo.

- A polícia tem a luz verde para matar, e os paramilitares estão reprimindo. Foram criadas leis que nos deixaram vulneráveis, não existe uma consulta prévia, não existe um estudo de impacto ambiental, estão violentando os nossos direitos. Nós nos opusemos a esse grande projeto mineiro porque seremos despejados de nossas comunidades.

Desde maio, nicaraguenses fogem do país para escapar da violência e tornam-se refugiados, como Ariana, Yader e Carolina que se declaram exilados da Nicarágua. A Caravana de Solidariedade conta com o apoio de conterrâneos que vivem fora do país, como o cientista político Humberto Meza, representante do Coletivo de Nicaraguenses no Brasil, que ajuda financeiramente e hospeda a caravana. Ele avalia que os três nicaraguenses, como outros oposicionistas, correm risco caso retornem para casa.

- Eles estão altamente expostos, já estiveram em três países antes do Brasil. Há episódios na Nicarágua, com ativistas por exemplo, que estão querendo sair do país e são barrados no aeroporto, são presos dentro do aeroporto mesmo. Eles correm esse risco ao voltarem. Eles falam que têm, de fato, medo de voltar porque essa alta exposição deixa eles totalmente em perigo de, pelo menos, uma prisão ou algum tipo de violência de estado contra eles.

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