NIMA: Vinte anos de história
03/06/2019 17:19
Beatriz Puente e Juan Pablo Rey

Fundadores e diretores relembram a criação do núcleo

Fachada NIMA. Foto: Gabriela Azevedo

O Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (NIMA) completa 20 anos. Fundado pelo Reitor da PUC-Rio, padre Josafá Carlos de Siqueira, S. J., em 1999, o projeto foi pioneiro ao criar uma agenda ambiental em uma Universidade. Outro pilar do núcleo é o da interdisciplinaridade e da propagação da forma holística de ver o mundo. O NIMA nasceu com o propósito de unificar iniciativas departamentais que já existiam com o momento de consciência ecológica em que se encontrava o mundo.

O projeto surgiu de forma pequena, mas aos poucos foi conquistando espaço e respeito na PUC-Rio. Idealizador do NIMA, padre Josafá relembra que a ideia era fazer algo de impacto no mundo, mesmo que de forma simples.

- O NIMA é como diz a sabedoria do Evangelho. As coisas pequenas, quando nascem com grandeza de intenção e com muita concretude, vigoram, permanecem e crescem. Foi uma pequena sementinha, nasceu de maneira discreta, em uma pequena salinha. E, nessa salinha, nós resolvemos criar o Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente.

Segundo uma das diretoras do NIMA, professora Denise Pini, o diálogo sobre meio ambiente tomava conta da academia, principalmente após a Eco-92, no Rio de Janeiro. Esse contexto, para ela, foi fundamental para incentivar a reflexão ecológica. Mesmo que a fundação do NIMA tenha sido só em 1999, a PUC já reconhecia a necessidade de abordar esse assunto.

- Fazia sentido isso na década de 1990 porque o Rio tinha sediado a Eco92, que teve um impacto internacional de forma espetacular. Se debatia uma série de questões importantes como a articulação do discurso ambiental com o social, e pela primeira vez, se fala sobre desenvolvimento sustentável. Se fala não só de preservação, mas dos seres que aqui estão. E a necessidade de criar mecanismos de controle e que regulem a questão ambiental.

Professora Denise Pini. Foto: Beatriz Puente.

A interdisciplinaridade também é algo que já se discutia na Universidade  antes da criação do NIMA. Uma das fundadoras do projeto, a professora aposentada do Departamento de Serviço Social Luiza Helena Nunes lembra do curso de análise e avaliação interdisciplinar, promovido pelo Departamento de Geografia, que tinha essa proposta de troca de conhecimentos.

- Quando conseguimos montar o curso, achamos que estava tudo resolvido e começamos a dar aula. Porém, todo mundo sabia dar aula para os alunos do próprio Departamento. Era muito difícil no começo porque cada um olhava de acordo com sua área, mas no final era uma troca muito grande e uma conversa fantástica. E nós aprendemos a lidar com os alunos de forma interdisciplinar, a trabalharmos juntos.

O engenheiro civil Tácio Campos é vice-diretor e um dos fundadores do NIMA.  Quando se pensa em questões socioambientais a partir da engenharia, reflete o professor, o lado humano nem sempre entra, é tudo técnico e pragmático. Mas, comentou, com a fundação do NIMA, houve uma união da engenharia civil com o curso de serviço social e outros, como geografia e química. Tácio lembra que todos tinham um só propósito, e os projetos passaram a incluir o ponto de vista social.

 - É muito difícil integrar todos os núcleos da Universidade em um lugar socioambiental. No NIMA, descobri, por exemplo, como a comunicação é fundamental para entregar e divulgar a proposta de uma maneira não tendenciosa. Graças a essa estrutura diversificada, conseguimos enxergar o resultado e aplicação do que fazemos de forma ampla.

Fernando Walcacer é professor de Direito Ambiental da PUC-Rio e um dos fundadores do NIMA. Ele conta que, naquela época, a interdisciplinaridade era algo novo, mas a área do direito tinha avanços com a criação das primeiras leis ambientais. Ele chegou ao Núcleo a partir de um convite de padre Josafá, que na época era professor do Departamento de Geografia.

- Ele me chamou para falar do projeto de criar o Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente. Desde a nossa primeira conversa, ele insistia na ideia de que esse núcleo devia ser interdisciplinar, agrupando as diferentes matérias e departamentos que cuidavam da questão ambiental. Ele entendia que havia um espaço para o direito. E o direito ambiental estava em uma fase de efervescência, muitas leis importantes estavam sendo criadas naquela época e eu concordei com ele.

Professor Fernando Walcacer. Foto: Amanda Dutra. 

Um dos atuais diretores do núcleo, Roosevelt Fideles ajudou no processo de criação do NIMA quando era aluno da graduação. Formado em História e Geografia, ele trabalhava em projetos desenvolvidos pelo padre Josafá no Departamento de Geografia e Meio Ambiente. Em 1998, os dois já faziam pequenos projetos na Universidade como plantação de espécies nativas e a educação ambiental para crianças de colégios públicos.

- E em agosto de 1998, por iniciativa dele, fizemos um plantio muito grande de plantas nativas e começamos a trazer crianças das escolas públicas para conhecer o campus, as plantas, dar uma aula sobre consciência ambiental. Era o Projeto Jatobá. E quando começou o NIMA, no ano seguinte, ele me convidou para trabalhar com ele, já como geógrafo, e coordenando o projeto. Nesse momento, o nome mudou para Projeto Jornadas Ecológicas de Educação Ambiental e foi incorporado ao núcleo.

Roosevelt Fideles, coordenador de projetos ambientais do NIMA. Foto: Gabriela Azevedo.
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Professor do Departamento de Geografia e Meio Ambiente, Luiz Felipe Guanaes fazia doutorado na Alemanha quando o NIMA foi fundado. Ao retornar ao Brasil, foi convidado para assumir a direção do Núcleo. Segundo ele, a experiência de estar no NIMA foi fundamental para a formação pessoal.

- A minha entrada no NIMA foi curiosa. Padre Josafá foi meu orientador na época da minha graduação em Geografia, e depois fui fazer doutorado na Alemanha. Quando estava lá, criaram o NIMA. Pensei: Que coisa horrível, eu estou na Alemanha e o NIMA foi criado!. Quando retornei, fui dar aula no Departamento de Geografia e, um ano depois, padre Josafá me convidou para assumir a direção do NIMA. Foi uma história positiva, pelo menos na minha expectativa, pois achei que tinha perdido a chance de estar na criação do NIMA, mas acabei assumindo a direção dele, e isso me engrandece muito como pessoa. Vejo que foi fundamental na minha vida.

Luiz Felipe Guanaes, diretor do NIMA. Foto: Amanda Dutra.

Professora do Departamento de Educação e fundadora do NIMA, Hedy Ramos afirma que as questões éticas e ambientais devem andar juntas. Por isso, explica, diversas mudanças foram implementadas na Universidade, como a alteração no nome do curso de Geografia, que passou a se chamar Geografia e Meio Ambiente.

- Sugeri ao Reitor que se ressaltasse a questão da ética ambiental, já que ele era padre e tinha uma formação mais forte em filosofia, além de ser uma área importante que não tem muitas publicações. Padre Josafá veio trabalhar na PUC com doutorado em biologia, trabalhava com botânica e tinha interesse na educação ambiental. Ele foi para o Departamento de Geografia e alterou o currículo, que passou a ser Geografia e Meio Ambiente.

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