Arte e Resistência
05/07/2019 18:08
Gabriela Azevedo

Integrantes do grupo Poesia de Esquina discutem as produções artísticas que vêm das favelas

Pablo das Oliveiras, Viviane Salles e Yasmim Barros. Foto: Amanda Dutra

Em parceria com a Casa de Cultura da Cidade de Deus, o Núcleo de Educação de Jovens e Adultos (NEAd) promoveu, no dia 27 de junho, um encontro com o grupo Poesia de Esquina. A atividade foi a 9° edição de Conversas com NEAd e a comemoração de um ano da atividade. Durante atividade, uma das professoras do NEAd, Yasmin Barros e dois integrantes do Poesia de Esquina Viviane Salles e Pablo das Oliveiras discutiram sobre a literatura e as produções culturais que surgem nas favelas. Após o debate, houve leitura de poesias e microfone aberto. 

O NEAd existe há mais de 20 anos e auxilia funcionários da Universidade e pessoas das comunidades do entorno da PUC-Rio, que desejam se alfabetizar, terminar o Ensino Fundamental ou Médio e pretendem fazer as provas da Educação de Jovens Adultos (EJA) – no passado, era o curso supletivo. O Núcleo também tem um grupo de estudos voltados para o vestibular. Aluna do Departamento de Letras, Yasmin explicou que as edições do Conversas com NEAd ocorrem a cada dois meses, e o objetivo é propor um tema que esteja em pauta e que seja importante para uma reflexão sobre ensino.  

- Tentamos trazer pessoas de fora para agregar a esses debates. Existe uma produção literária muito grande, que vem de espaços periféricos e tem dificuldade, embates para chegar em um curso de literatura dentro de universidades ou até mesmo nas escolas.

Viviane Salles. Foto: Amanda Dutra

Ex-aluna do curso de Ciências Sociais da PUC-Rio, Viviane contou que o lançamento do primeiro livro de Wellington França, em 2010, foi determinante para o surgimento do grupo. A ideia para a formação do Poesia de Esquina veio do desejo de juntar poetas da região de Jacarepaguá, principalmente da Cidade de Deus. As reuniões começaram no final de 2011 e, hoje, é um movimento de literatura, poesia e ocupação urbana.

- O Poesia tem um conceito de microfone aberto, qualquer um pode ser poeta, pode falar e interagir. Por causa dessa informalidade, as pessoas que frequentam o grupo começaram a escrever, falar e ler mais poesia. Em nossa coletânea há poemas de diversas inspirações, motivações e tendências literárias. É um livro muito complexo e com uma essência que vem da rua e da simplicidade do povo. 

O grupo sempre teve como marca, uma poesia com uma voz crítica aos problemas da sociedade, a desigualdade social e a violência. Outro tema que sempre está presente nas produções são problemas que as pessoas enfrentam na periferia:  a dificuldade de acesso à cultura, a educação de qualidade e o tratamento policial em um território como a favela. Viviane comentou sobre o preconceito em relação às produções culturais que vêm das comunidades.

- Recentemente, o governador, Wilson Witzel, falou em jogar um míssil na Cidade de Deus. Matar é o caminho mais fácil. No cenário complicado em que vivemos no país, na cidade e no estado, o Poesia mostra que a favela é um lugar de centralidade na produção cultural. A nossa voz precisa ser vista, escutada e respeitada. 

Pablo das Oliveiras. Foto: Amanda Dutra

Outra característica presente no Poesia é o desenvolvimento de um trabalho que promove a integração de adolescentes, idosos e crianças ao redor palavra. Pablo das Oliveiras é professor de Arte e Educação e trabalhou durante sete anos em escolas na Cidade de Deus. Oliveiras também participou do movimento social da comunidade, por meio da associação de moradores, que deu origem à Famerj e à Faperj. 

- A Cidade de Deus foi o lugar onde eu aprendi a construir a minha cidadania e a trabalhar isso no meu processo de educação. Como ativista cultural é importante citar a Revista Nós, criada por iniciativa de alguns moradores da favela e que funcionou de 1978 a 1982. A revista funcionou durante quatro anos, teve uma regularidade de trabalhos publicados e várias etapas de confecção. Essa é uma prática que eu levo até hoje para sala, onde eu trabalho com os alunos produção de texto e publicação.

De 2011 a 2017, o Poesia de Esquina realizou uma sequência de encontros mensais, em bares da Cidade de Deus. Entre 2014 e 2016, houve ações em diversas escolas públicas da favela, com alunos do 4º ao 9º ano, com a realização de saraus e oficinas de poesia, em parceria com professores, principalmente de língua portuguesa. 

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