Dois alunos e um ex-aluno do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU) foram citados entre os 30 melhores trabalhos no concurso internacional Alternative Realities 2020, da plataforma, The Charette. A disputa foi realizada em novembro de 2020 e os ganhadores foram anunciados em janeiro deste ano. Com mais de mil inscritos em todo mundo, os estudantes Bianca Naylor Rezende, Jordi Santos Marchon e Maciel Antonio da Silva, foram os únicos brasileiros da lista de 30 projetos em destaque e, ao lado de dois equatorianos, foram os únicos selecionados da América Latina.
Os jovens brasileiros batizaram o trabalho de Homo_Data e, com uma visão futurística, mas baseada no presente, o projeto aborda a tendência global de manipulação de dados e chama atenção para a sociedade que vive imersa em fake news. Segundo Bianca Naylor, o Homo_Data é o personagem principal da história e representa a possível solução para o problema ao buscar armazenar e compartilhar a verdade por meio de mecanismos modernos.
- Falamos no trabalho sobre os dados e as fake news que permeiam tanto o nosso hoje, mas que podem ser um problema no futuro. Nós exploramos este mundo que criamos por uma crítica ao presente e, isto ajudou a ter a percepção de como o espaço poderia ser construído a partir dos dados e como isto iria impactar na arquitetura.
O objetivo da competição era propor uma resposta arquitetônica para um problema que o mundo enfrenta - mudanças climáticas, pandemias, guerra biológica, proliferação nuclear, desigualdade social. Inicialmente, as pesquisas de Bianca, Marchon e Silva sobre assuntos de relevância tecnológica possibilitaram diversas criações de realidades alternativas. Marchon, que já é arquiteto, ressalta que em uma conversa pertinente com a professora de Estética do DAU, Ligia Saramago, eles conseguiram visualizar que o melhor caminho para desenvolver o enredo seria pela informação.
- O papo com a Ligia foi muito legal, já que ela é antenada em questões filosóficas. Ela comentou sobre um assunto muito interessante relacionado às fake news. Foi um aspecto importante, porque, quando visualizamos a verdade, temos uma iluminação sobre aquilo, e quando a somos desprovidos da verdade, a luz daquela situação se apaga. É como se nós manifestássemos a realidade que vivemos quando iluminamos aquilo e, então, se torna real para todos. A partir disso, começamos a visualizar a oportunidade de associar as fake news e os dados, e isto engatilhou o conceito do que queríamos construir.
De acordo com Bianca, a abordagem escolhida para a narrativa é motivo de orgulho por ser totalmente brasileira e ilustrar pontos do Rio de Janeiro, como a Cinelândia e a Rocinha. O projeto também conta com easter eggs - elementos escondidos nos programas - que possibilitam viajar ainda mais pela criação dos arquitetos com o uso de QR codes.
- Nós ficamos muito orgulhosos de termos sido selecionados, porque conseguimos colocar uma identidade muito brasileira. Os vencedores e as menções honrosas são sempre de pessoas que vêm de países de Primeiro Mundo, que têm um certo acesso a coisas que não temos. Por isso, ter ido para um caminho que nós conhecemos muito bem no dia-a-dia, me deixou muito feliz, porque funcionou.
A distância foi para o grupo o maior fator dificultador no processo de criação desse universo paralelo. Para Marchon, mostrar os pontos de vista pessoais por meio de reuniões pela tela do computador foi desafiador, mas a organização de um ritmo de produção foi essencial para conseguir finalizar o trabalho.
- Nós tivemos muita dificuldade no início para fazer com que os três falassem a mesma língua. Então, nós revisamos várias vezes. Mas, a partir do momento que conseguimos ver um caminho gráfico, tivemos certeza que a narrativa era igual para todo mundo, na cabeça de cada um.
Para acompanhar o trabalho dos arquitetos basta acessar o site https://homodata.hotglue.me/