Desgaste com o home office
21/07/2021 17:25
Giulia Matos

Como está a saúde mental das pessoas depois de 16 meses de pandemia

Um ano e meio depois de adotar o isolamento social, países já detectam os impactos negativos do home office na vida das pessoas. Uma pesquisa feita pela Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, em março de 2021, aponta que o Brasil lidera os índices de ansiedade e depressão, quando comparado a outras dez nações. A Irlanda e os EUA ficavam em segundo e terceiro lugar respectivamente. Entre os 1.500 brasileiros ouvidos, 63% apresentavam sintomas de ansiedade e 59% de depressão. A maioria dos entrevistados - 84,8% - não tinha diagnóstico de transtornos mentais antes da Covid-19. Segundo os cientistas, as populações mais afetadas pelo novo coronavírus e com menos esperança de controle da pandemia sofrem mais emocionalmente.

Professora assistente de Pós-Graduação, Clarissa Pizarro de Freitas, do Departamento de Psicologia da PUC-Rio, diz que existe uma diferença quanto à disposição das pessoas do início da quarentena para o momento atual. No começo, alguns indivíduos investiram em projetos ou estavam extremamente ocupados com tarefas, enquanto outros estavam ansiosos, e isto pode ter se modificado.

- Tivemos muitos grupos que ficaram mobilizados, ansiosos e desanimados com o isolamento social e com o trabalho ou ensino remoto, mas também tínhamos outros grupos que tiveram uma reação positiva, fizeram diferentes ações. Esta última parcela entrou em um processo ativo para resolver, encontrar soluções para o que considerariam problemas. Com a longa duração da pandemia, é compreensível que estas pessoas tenham se desgastado, tenham o envolvimento reduzido, porém gosto de acreditar que aquelas que estavam mal tiveram uma melhora.

Professora Clarissa Freitas e o modelo circunflexo do bem-estar

Clarissa participa de um estudo com o objetivo de investigar o comportamento dos profissionais de saúde durante a pandemia. Esta análise é baseada no modelo circunflexo do bem-estar, que mostra os diferentes estados de saúde mental que o ser humano pode viver e obter. No trabalho, por exemplo, eles são o engajamento, a adição ao trabalho, a satisfação com a tarefa, e a Síndrome de burnout. Ela observa que o ser humano transita normalmente entre cada estado, e uma pessoa que está com uma melancolia, um cansaço, pode apresentar sintomas de desligamento do trabalho, que poderia alcançar o modo de burnout, isto é, de esgotamento.

- O burnout é um processo crônico, assim como o adoecimento no trabalho. Ele avança gradualmente. Se uma pessoa está em processo de "definhamento", indisposta, ela na realidade apresenta um estado inicial de exaustão, de desligamento do trabalho, de total cansaço, obteria baixos níveis de burnout. Porém, ela está em um processo de adoecimento, que se cronificaria gradualmente.

Segundo a professora, um dos motivos para a população brasileira estar com os índices de cansaço e desânimo elevados é a restrição de opções de distração e relaxamento durante o isolamento social. Outro motivo seria a mistura do ambiente de trabalho com o local de descanso, que é a casa. Ela também fornece dicas sobre como o indivíduo pode tentar dividir estes espaços e distanciá-los um do outro.

- Estamos com um alto nível de demanda no trabalho e estudo, e não temos muito para ir além disso. O número de alternativas para a distração é limitado, como ver filmes e séries em serviços de streaming. Algumas pessoas conseguem ir até pátios ou locais externos, enquanto outras não têm acesso a estes lugares. Existem estratégias para separar espaço de trabalho com a casa, como estabelecer horários, exercer a tarefa sempre em um único ambiente, estabelecer prioridades, e respeitá-las. São estratégias utilizadas normalmente para evitar a procrastinação, mas que podem ser aplicadas neste contexto atual.

Home office e perda de privacidade

Estudante de 6º período de psicologia da PUC-Rio, Mayara Medeiros participou de uma pesquisa empírica para a disciplina de Prática em Pesquisa: Métodos Quantitativos sobre a relação entre o home office e os sintomas de depressão, cansaço na saúde mental. Ela afirma que a ideia do estudo surgiu pela continuidade da pandemia e pelas implicações que ela teve e tem na vida das pessoas que conhece.

- Pensamos em avaliar os sintomas depressivos, pois foi um tópico no qual observamos ao nosso redor e lemos bastante sobre isto. O trabalho remoto dificultou para que as pessoas obtivessem um espaço delimitado entre as atividades, enquanto antigamente existia um local próprio para ele e o ambiente de casa. Esta mudança significou um aumento do número de tarefas para muitas pessoas, pois parece que você sempre está no lugar de ofício, disponível para realizá-lo. Há uma perda de privacidade, do contato social, pois estes ambientes eram usados também como ponto de interação com os outros indivíduos. Estes são alguns dos recortes a serem feitos sobre a influência do home office no estado de saúde mental do ser humano.

Estudante de Psicologia, Mayara Medeiros.

Mayara comenta como se identifica com a pesquisa em relação à transferência das aulas presenciais para o ambiente on-line e como este esquema pode ser cansativo. Ela afirma ter demorado a se adequar a uma nova rotina cuja interação com os educadores e alunos era virtual, às vezes com pessoas que ela não conhecia anteriormente, mas ressalta como todos participam para que a experiência seja positiva.

- No começo, eu achava tudo bastante estranho, e admito que continuo a achar um pouco esquisito. É cansativo estar dentro de casa na maior parte do tempo por conta do isolamento social, e estar em contato com outras pessoas, as quais muitas vezes você nem chegou a conhecer presencialmente, por meio de uma tela de computador. É interessante e um pouco exaustivo. Acredito que neste contexto específico de sacrifícios no âmbito social, na área pessoal, é pesado para todos. Penso que o esforço para tudo dar certo é coletivo, principalmente por parte dos professores.

Prazo de validade vencido

A analista judiciária Mariana Viana Gouvêa conta que no início da pandemia gostou da possibilidade de trabalhar de forma remota, pois conseguiria passar mais momentos junto da família e realizar atividades que não podia fazer anteriormente.

- Eu fiquei bastante animada em começar a trabalhar de casa mesmo que por tempo indeterminado, pois sairia de uma rotina diária de pegar condução, e enfrentar os problemas urbanos de deslocamento para sair de Niterói e ir até o Rio. Era também uma oportunidade de passar mais tempo com meus filhos, ter a chance de levá-los para a escola e buscá-los, algo que não fazia todos os dias quando o trabalho era presencial.

Analista Judiciária, Mariana Viana

Mas, para a analista, passado tanto tempo, o que era positivo está com prazo de validade vencido. Se no início no confinamento houve a descoberta de novas formas de vivenciar a casa, hoje há um desgaste de uma rotina que não permite mais liberdade de ir e vir. Agora, um ano depois, ela passou a relativizar as situações e até as distâncias.

-Tudo aquilo que é novidade é mais interessante. Aquela disposição de sentar para trabalhar em casa, de ficar sem sair e ter acesso a "lives" de cantores é até legal. Você passa a ver muitas coisas na televisão, nas quais não prestava atenção antes. Eu nunca fui de acompanhar séries, e passei a fazê-lo. Esta surpresa que a quarentena trouxe era agradável inicialmente, mas agora em 2021 é outra história. Você já está cansada de ficar em casa e quer ir para a rua. Eu gosto de ficar em casa, mas aquele trajeto inteiro que eu fazia em 2019 para chegar ao Rio de Janeiro deixou de ser desanimador, virou bom para mim.

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