O Programa de Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade (PPGLCC), do Departamento de Letras, realizou nos dias 14, 15 e 16 de julho o seminário de pesquisas em andamento Mágica de muitos mundos: literatura, cultura e contemporaneidade, com a participação de alunos e convidados que apresentaram suas pesquisas na área. O último dia do encontro foi coordenado pelo professor Frederico Coelho, do Departamento de Letras, e teve a participação da professora e pesquisadora Cíntia Sanmartin Fernandes, da UERJ, que fez as considerações finais de cada painel.
A música brasileira, mais especificamente do Rio de Janeiro, foi o tema do painel Laurindo voltou: fragmentos da biografia fictícia, escrita a muitas mãos, de um personagem sui generis do cancioneiro brasileiro, do pesquisador Rodrigo Valle Alzuguir. Na apresentação, cujo primeiro item foi intitulado como Natimorto, Alzuguir falou sobre a criação do personagem Laurindo, no samba Triste Cuíca, de Noel Rosa, e do desenvolvimento desta figura por outros compositores brasileiros.
De acordo com o pesquisador, após a morte do poeta de Vila Isabel, Laurindo foi ressuscitado pela música Sem cuíca não há samba, de Wilson Batista, gravada em 1942. Naquele mesmo ano, o compositor Herivelto Martins compôs o terceiro samba sobre o personagem, intitulado como Laurindo. Nesta música, como afirmou Alzuguir, Herivelto agregou novas informações ao perfil da figura criada por Noel Rosa.
- A partir do renascimento do Laurindo, via Wilson Batista e Herivelto Martins, ao longo de duas décadas, sem razão clara e sem projeto em comum, o Laurindo passaria a ser abordado em diversos sambas, compostos por grandes compositores brasileiros.
No segundo painel, Luiz Fernando Pereira Pinto debateu o tema No sarau se encontra a cidade – um laboratório de experimentações culturais numa encruzilhada da Lapa (RJ). Durante a apresentação, Luiz Fernando explicou que usou o poema Escritório de Gala, de Bruno Borja, como mote para entrar no ecossistema cultural em que estão ambientados os saraus do Rio de Janeiro e a sua pesquisa.
O pesquisador relembrou que a poesia de Borja foi escrita em homenagem ao grupo Sarau do Escritório, inaugurado em novembro de 2013, na região central do Rio de Janeiro. O poema, segundo Luiz Fernando, destaca um dos sintomas sentidos pela região metropolitana do município após as manifestações daquele ano, e possibilita outras leituras de cidade por meio de uma ótica de práticas que utilizam o espaço público para a realização de atos performáticos.
- O objetivo aqui é, a partir deste poema, criar um chão comum, em que possamos compreender o lugar que a ação performática Sarau do Escritório, enquanto um laboratório de experimentações culturais, ocupa na cidade do Rio de Janeiro e na produção de cultura após as manifestações populares de 2013.
Leonardo Freitas da Costa expôs sobre a sua pesquisa, Suzana e o seu pregador literário. Ele comentou que faria um paralelo entre os projetos de um escritor da cidade de Suzana, no interior de São Paulo, conhecido como Sacolinha, e a atuação do pentecostalismo. Ele analisou o significado da palavra proselitismo que, segundo ele, é atrelado ao campo religioso e ao esforço contínuo de converter alguém para pertencer a uma religião, seita, doutrina ou catequese. E observou que na cidade de Suzana os moradores têm a oportunidade de viver com o proselitismo diferente.
Segundo Freitas, Sacolinha, pseudônimo de Ademiro Alves de Sousa, traçou novos rumos na cidade graças às intervenções artísticas literárias que faz na cidade. O pesquisador citou três momentos literários promovidos por Sacolinha: Conte a sua história, a Trajetória literária e o Sarau pavio da cultura.
— Sacolinha, através de seus eventos literários, se tornou um missionário ao dedicar- se a difundir a literatura entre indivíduos subalternizados de sua região para que ressignifique suas existências por meio da literatura — explicou.
O pesquisador também afirmou que as igrejas pentecostais atuaram persistentemente nas regiões mais marginalizadas dos grandes centros urbanos, transformando a vida de moradores economicamente carentes. Freitas discorreu sobre a trajetória de Sacolinha e ressaltou que não só as igrejas, mas ele também influenciaram na vida de subalternizados, como, por exemplo, converter a vida de moradores da cidade ao mundo literário.
— Em minha análise comparativa, ao estabelecer conexões entre o pentecostalismo e a ação cultural de Sacolinha, percebo como os saraus das igrejas evangélicas estimulam a população marginalizada ao vínculo de aspecto de esperança e a uma redenção que serve de apoio. Sacolinha representa mais que um agente cultural, é um missionário literário, alguém que pela literatura tenta mostrar outros horizontes — finalizou.
O nome do seminário foi inspirado nas palavras e ideias do ambientalista Ailton Krenak. O líder indígena faria o encerramento do encontro, mas não pôde comparecer porque participou virtualmente do Congresso de Sociologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).