Raul Amaro Nin Ferreira, “onde quer que ele esteja”
27/08/2014 16:51
Thaís L. Q. Carvalho e Margarida de Souza Neves / Núcleo de Memória da PUC-Rio

Crônicas de Memória

Mães são capazes de tudo para confortar um filho que sofre. É isso o que mostra a carta escrita por Mariana Lanari Ferreira, mãe de nove filhos, quando Raul, o mais velho, foi preso na noite de 1º de agosto de 1971. Em carta ao Coronel Homem de Carvalho, ela deixa perceber sua angústia quando pede ao então comandante da Polícia Especial que entregue ao filho, “onde quer que ele esteja”, um embrulho que, além de roupas, faria chegar a ele seu carinho.

Raul tinha 27 anos, formara-se em Engenharia Mecânica pela PUC-Rio, estava noivo e acabava de ganhar uma bolsa de estudos para a Holanda. Detido em uma batida policial, foi considerado suspeito por ter no carro esboços de dois mapas, um deles do caminho para o apartamento que alugara em Santa Teresa, onde a polícia encontrou mimeógrafos e material de propaganda de um grupo político, guardados ali a pedido de um amigo.
Enquanto esteve preso, a família moveu céus e terras para localizá-lo. Nem mesmo o fato do caso ter sido levado ao conhecimento de Ministros de Estado fez que tivessem dele qualquer notícia.

No dia 12 de agosto, o corpo de Raul, com evidentes marcas de tortura, foi entregue à família. Os registros oficiais da causa mortis são divergentes. Em alguns consta edema pulmonar, em outros, embolia e ataque cardíaco ou apenas a palavra “morto”. Os dias de prisão, torturas e morte estão documentados no site armazemmemoria.com.br e no relatório feito pela família.

Raul é o único ex-aluno da PUC-Rio morto sob tortura pelas mãos do Estado Brasileiro. Por isso, no dia 2 de junho de 2014, data de seu aniversário, o C.A. de História plantou no campus uma muda da mesma árvore que existia no jardim da casa de Raul. À sombra desta árvore, está uma placa para que a memória dele permaneça na universidade. “Onde quer que ele esteja”, que Raul saiba que nunca será esquecido na PUC-Rio.

Mais Recentes
Entre a ação e a cooperação: a Associação dos Funcionários da PUC-Rio
Antônio Albuquerque e Eduardo Gonçalves, do Núcleo de Memória da PUC-Rio, abordam as mudanças na forma de organização dos funcionários das instituições de ensino superior após a Reforma Universitária, e refletem sobre a criação da AFPUC
A História é mestra da vida
O Conselheiro da Associação dos Antigos Alunos da PUC-Rio, Paulo Eugênio de Niemeyer, aborda a influência do passado na vida humana e os novos comportamentos nos ambientes sociais
Educar para a Justiça: um olhar sobre a Pedagogia Inaciana
A pedagogia inaciana é tema de artigo da professora Alessandra Cruz, do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio