Função alternativa para pneus
09/06/2015 16:06
Pedro Malan/ Foto: Matheus Salgado

Muros de contenção servem para evitar deslizamentos em áreas de risco

Professor de Engenharia Civil da PUC-Rio Alberto Sayão adaptou ideia francesa e iniciou o projeto no Brasil

Um dos graves problemas ambientais do Brasil é a grande quantidade de pneus usados que são descartados de forma incorreta, o que provoca sérios danos ao meio ambiente. Outro problema que o país enfrenta, principalmente no Estado do Rio de Janeiro, são os constantes deslizamentos de encostas e áreas de riscos. A solução encontrada para os dois casos é reutilizar o pneu inservível na inovadora Engenharia de Pneus, com a construção de muros de contenção que estabilizam as encostas erosivas.

Os muros, no entanto, não foram uma ideia vinda de brasileiros, mas sim de franceses, que já utilizavam o chamado “pneu-solo” em certos terrenos. Ao ver o potencial da Engenharia de Pneus, o professor de Engenharia Civil da PUC-Rio Alberto de Sampaio Ferraz Jardim Sayão, em parceria com a Fundação Instituto de Geotécnica (Geo-Rio), adaptou a ideia para um uso tropical, com a ajuda financeira da Universidade de Ottawa, no Canadá, e começou a trabalhar em uma pesquisa que virou realidade.

Segundo Sayão, em 2000, mais de 30 milhões de pneus inservíveis foram utilizados nas mais diversas aplicações, como, por exemplo, barreiras de impacto e ruído, defensas para navegação, encontro de pontes, construção de residências de baixo custo, pisos, pavimentos, aterros leves e reforçados e, principalmente, muros de contenção que estabilizam áreas de risco.

– O pneu tem custo zero, pois o conseguimos como lixo. É o material perfeito para a construção dos muros, pois é muito resistente. Usamos o próprio solo do lugar para preenchê- los e, quanto mais peso tiverem, mais estável deixarão a encosta – explica Sayão, membro vitalício do Conselho Diretor da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), a qual ele foi presidente por quatro anos, de 2004 a 2008.

O professor relata que, neste processo de construção, o pneu dispensa equipamentos pesados e mão de obra qualificada. Ele conta que um muro pode ser erguido em qualquer tipo de terreno que esteja sujeito à erosão, mas o trabalho deve ser feito de forma cautelosa, uma vez que erros na execução, como por exemplo arranjos incorretos e bases instáveis, podem prejudicar mais ainda a situação da encosta.

Contudo, Sayão explica que um muro construído corretamente tem capacidade de evitar o escorregamento de uma encosta por um longo tempo, pois um pneu demora, aproximadamente, centenas de anos para se decompor. Um bom exemplo é o muro construído há vintes anos, em Jacarepaguá, pela PUC-Rio em parceria com a Geo-Rio. O paredão de 70 metros de comprimento e 4 metros de altura evita o deslizamento da encosta desde então. Os pneus do muro são Muros de contenção servem para evitar deslizamentos em áreas de risco difíceis de se ver por conta da vegetação que os cobriu, já que são preenchidos com o próprio solo do local, o que facilita o crescimento de plantas.

– O custo-benefício da construção destes muros é excelente. É um projeto eficaz, que dá resultado, além de ter um baixíssimo custo – ressalta Sayão.

A reutilização de pneus usados também é importante para combater a proliferação da dengue, pois os pneus conservados em locais abertos podem servir como grandes criadouros para larvas do Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença. Além disso, os pneus são altamente inflamáveis e, por isso, incêndios são muito comuns em aterros de decomposição.

Para o professor, com o reuso de pneus usados, estes problemas podem ser combatidos, e os prejuízos ao meio ambiente e à saúde do ser humano, diminuídos. Alberto Sayão acredita que esta reutilização é, portanto, valiosa para a natureza, e que esta prática só tende a aumentar no futuro.

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