Interdisciplinaridade e saber
15/06/2016 15:44
Julia Novaes/foto: Gabriel Molon

Cientista Fernando Lázaro retorna à direção do Departamento de Física

Professor Fernando Lázaro Freire Junior, novo Diretor do Departamento de Física, acredita no dinamismo da área e na articulação com outras disciplinas


Reconduzido ao cargo depois de oito anos, o novo diretor do Departamento de Física da PUC-Rio, professor Fernando Lázaro Freire Junior, nem sempre soube da vocação para a ciência. Em 1975, fez o vestibular da Universidade para Engenharia – e se arrependeu. Ao descobrir que a Física da instituição já desenvolvia grandes pesquisas e que poderia realizar uma atividade criativa, ele decidiu pedir transferência. Depois de 41 anos e mais de 160 artigos publicados em periódicos científicos, Lázaro é dinâmico como a ciência a que se dedica.

Atualmente, o diretor trabalha na física de materiais e foi presidente da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Materiais (SBPMat). Há alguns anos, estuda produtos à base de carbono, sendo o mais recente o grafeno – estrutura flexível, porém mais forte e resistente do que o aço e o diamante. De acordo com Lázaro, o uso desse material ainda tem poucas aplicações práticas no mercado, mas deve avançar nos próximos anos, principalmente na área da nanoeletrônica.

– Sabe a rede do gol de futebol, com os hexágonos? É basicamente uma representação macroscópica do grafeno. Se você enrolar o material, tem um tubo. Estamos, na PUC, tentando fazer um sensor de gases tóxicos de extrema sensibilidade. O grafeno é o material candidato a esse tipo de aplicação.

 O professor explica que a física avança nesta área: novas estruturas têm sido sintetizadas, estudadas e adotadas em diferentes dispositivos. Ele ressalta também o crescimento da informação quântica, que desenvolve sistemas de criptografia utilizados em serviços bancários. Além dos trabalhos no acelerador de partículas do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), na Suíça, onde há uma participação de brasileiros muito significativa.

Para o professor, a física é tão dinâmica que produz resultados experimentais não explicados pelas teorias aceitas hoje. Lázaro cita a física “além Cientista Fernando Lázaro retorna à direção do Departamento de Física do modelo padrão”, que descreve o mundo subnuclear, das partículas elementares menores que prótons e elétrons. Os neutrinos, por exemplo, são partículas mínimas e sem carga elétrica que, praticamente, não têm massa.

– Há muita coisa nova a ser entendida e descoberta. Recentemente, houve também o resultado espetacular da detecção das ondas gravitacionais (fenômeno espacial previsto por Albert Einstein em 1916). As pessoas já esperavam que elas existissem e havia evidências indiretas. Mas o experimento em si tem um grau de sofisticação inimaginável e revela o potencial de concretizar as experiências que temos hoje.

Lázaro, que trabalhou na área de astrofísica, e foi Coordenador da Área de Física e Astronomia da Faperj de 2008 a 2012, chama atenção às pesquisas realizadas com o acelerador de partículas da PUC, nas demais áreas, entre elas, a astrofísica.

– Você olha para uma estrela, um cometa, uma lua, um planeta, mas não interfere no que acontece ali. Os resultados precisam ser confrontados com experiências orientadas, realizadas por um grupo da PUC – uma espécie de astronomia de laboratório. Eles produzem dados que ajudam a interpretar observações astrofísicas que não foram compreendidas até agora, simulando condições espaciais, como baixíssima pressão, vácuo próximo ao absoluto, temperaturas próximas ao zero absoluto, e feixes de partículas com energia perfeitamente fornecidas pelo acelerador.

Fernando Lázaro relata que a física tem crescido para áreas que ele chama de fronteira e de interface, se aproximando da biologia e da química. Para ele, o embasamento teórico em outros campos do conhecimento aproxima o físico da interdisciplinaridade. No entanto, falta flexibilidade na formação do profissional, observa. Segundo ele, o conteúdo das disciplinas ensinadas nas universidades não tem mudado nos últimos anos.

– No Brasil, temos uma rigidez muito grande de currículos. Nos Estados Unidos, por exemplo, você tem a possibilidade do minor, que é como um apêndice à graduação, como em finanças, medicina, biotecnologia. Nessas áreas, você aplica o conhecimento gerado da física.

Como novo diretor do Departamento de Física, Lázaro está atento aos efeitos que a crise do país e do estado pode causar na Universidade. Integrante do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), o professor conta que São Paulo tem desbancado o Rio de Janeiro como polo de atração de pesquisadores, já que consegue pagar os projetos aprovados e concede bolsas maiores do que as do estado do Rio.

– É uma mudança muito radical e isso tem um impacto enorme na renovação de quadros docentes, na captação de bons pesquisadores, e na perda de profissionais que estamos formando aqui e vão para São Paulo. Essas pessoas veem lá boas condições de trabalho que não têm no Rio, pelo menos, pelos próximos dois anos. É uma situação ruim não só para física, mas para todas as disciplinas.

O professor Fernando Lázaro Freire Junior se formou em Física pela PUC-Rio, em 1978, onde concluiu mestrado e doutorado. Entre 2003 e 2008, foi diretor do Departamento de Física da Universidade e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, de 2011 a 2015. Foi co- -editor da publicação Advisory Board da Europhysics Letters, nos anos de 2006 e 2010. Atualmente é titular da Academia Brasileira de Ciências.
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