A extinção da cultura da pesca
30/06/2016 15:37
Elissa Taublib

Livro de alunos de graduação em Design dá voz aos pescadores da região

Poluição e descaso de políticos e empresas são parte do cotidiano dos pescadores da região de Tubiacanga, na Ilha do Governador. Por meio de fotos e entrevistas, alunos da Universidade ressaltam a extinção da cultura da pesca no livro Histórias de Pescador. A obra reúne relatos que evidenciam a relação de sustento e tradição dos moradores do local com a atividade pesqueira.

 O projeto editorial foi desenvolvido para a disciplina Projeto Avançado pelos alunos de Desenho Industrial Nathan Miranda, Nina Amarante, Henrique Ferreira e Thainan Castro. Com orientação dos professores Daniel Malaguti e Deborah Christo, do Departamento de Artes&Design, o grupo visitou a comunidade, na Ilha do Governador, durante quatro meses.

Nina defende a necessidade da pesquisa de campo para aproximar o grupo da realidade humana da poluição. Ela destaca que as referências existentes sobre o assunto na internet são estatísticas publicadas por pessoas que não vivem o problema.

– Quando você está com a pessoa, você sente a poluição na fala dela. Você se arrepia, seu olho enche de lágrima. É um lugar deslumbrante, mas não tem como ficar na praia por causa do cheiro e não tem espaço de tanto lixo – declara.

A aluna define a Baía de Guanabara pela beleza visual e o potencial que não é apro veitado. Para ela, preservar a Baía significa poder desfrutá-la como lazer, ambiente de turismo e de competição.

O desenvolvimento do projeto começou em março. Segundo Henrique, a comunidade demonstrou resistência no início da pesquisa de campo, mas, com o tempo, já o tratavam como da família.

Em Histórias de Pescador, os relatos não foram editados. O livro também tem fotografias da Baía e da comunidade, e ilustrações dos rostos dos pescadores. De acordo com Henrique, o desenho traz o aspecto fantasioso do que seria uma história de pescador, para depois revelar a fotografia e a identidade do personagem. Para Nina, isso “põe o pé do leitor no chão”.

– Mostra que essa história não é uma mentira, não é aumentada: não é uma história de pescador, é a história do seu Miguel, que depende da pesca para sobreviver – declara.

Henrique conta que o grupo escolheu trabalhar com a comunidade de Tubiacanga porque ela tem uma ligação muito próxima com a poluição: os pescadores moram na Ilha do Governador, o que dificulta pescar fora da Baía.

Para Nathan, a Colônia de Pescadores tem presenciado o fim da cultura da pesca. Segundo o aluno, gerações mais novas já não são incentivadas a pescar, por causa da baixa rentabilidade da atividade. A pesquisa constatou a dificuldade dos pescadores de trabalhar com outras atividades. Muitos deles alegam pertencer ao mar, como é o caso de Sérgio Souza dos Santos, pescador há 56 anos. Miranda relembra que Sérgio tentou, sem sucesso, trabalhar em uma padaria da região.

– Serginho se sentia preso, não gostava da rotina, de ter que acordar todo dia no mesmo horário – relata Miranda.

Segundo Nina, a Associação de Pescadores Livres de Tubiacanga (APELT) pretende construir um Observatório Pesqueiro da Baía de Guanabara na Ilha Seca.

– Esse é o único lugar que a indústria petrolífera ainda não chegou na Baía, então eles estão tentando a todo custo manter o único lugar com perspectiva de desenvolvimento e preservação das diferentes espécies.

No desenvolvimento do projeto, Nathan era responsável pelos textos, Nina pela diagramação, Henrique fotografava e entrevistava os pescadores e Thainan era o ilustrador e auxiliava na diagramação. A embalagem do livro é uma rede usada e produzida pelos pescadores.

– É uma forma de captar recursos para a comunidade: eles produzem a rede e nós revertemos parte do valor do livro para eles. Eles ficaram muito felizes de contribuir, e nós somos agradecidos por isso – afirma Nina.

Histórias de Pescador já está concluído, mas os alunos foram incentivados pelos professores a trabalharem com uma distribuição em larga escala. O grupo está à procura de investidores que acreditem na importância das histórias e queiram contribuir na distribuição do livro.

 

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