Resgate à vida na Floresta Amazônica
26/10/2017 12:03
Eduardo Diniz

Encontro com representantes de instituições de preservação da Floresta Amazônica, que ocorre dentro da 2ª Semana de Estudos Amazônicos, discute os caminhos para manutenção do bioma mais diverso do mundo

Andiroba, planta típica da Amazônia, no campus da Universidade Foto: Fernanda Maia

A Floresta Amazônica, conhecida como o pulmão do mundo pela importância natural, sofre com ameaças nacionais e internacionais. Devida a ampla biodiversidade – a Amazônica é o bioma mais rico e diverso do mundo -, muitos países têm interesses comerciais e de pesquisa nela. Instituições como o Funbio e Conservação Internacional trabalham para reverter essa situação, a partir de projetos de criação e conversação de áreas de preservação ambiental e resgate da riqueza biológica da Amazônia. Eles participaram da mesa de debates do segundo dia da Semana de Estudos Amazônicos, na quarta-feira, 25, no auditório do RDC.

A principais causas de desmatamento na Floresta Amazônica é o corte de árvores para o comércio ilegal de madeira e as queimadas, também ilegais, para abrir espaço para pastos e agricultura, principalmente a de soja. Segundo o coordenador da Agência Implementadora de Projetos do Global Environment Facility (GEF) da Funbio, Fábio Leite, muitos desses pastos são improdutivos e existem apenas para a especulação imobiliária rural.

Estudos do Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio) mostram que já foram desmatados cerca de 19% da Floresta Amazônica nos últimos 40 anos. Para Leite, essa perda de árvores prejudica o estoque de carbono que ocorre nas florestas, uma de suas principais funções, além de também atrapalhar a função de equilíbrio térmico mundial e produção de oxigênio, visto que é a maior floresta tropical do mundo.

- A Floresta Amazônica é a área mais úmida do mundo, e o deserto do Atacama é uma das mais áridas. O que divide os dois é apenas a Cordilheira dos Andes. As árvores de lá transpiram mais do que a quantidade de água que desagua do Rio Amazonas no oceano. Qualquer mudança nesse sistema prejudica todo o abastecimento de água no Brasil, Paraguai e norte da Argentina.

Fábio Leite, coordenador da Funbio, em palestra sobre conservação da Amazônia Foto: Fernanda Maia

O coordenador explica que também há muitas disputas por terras na Amazônia. Por falta de fiscalização por parte do governo, a população local já perdeu grande parte dos terrenos que era usado para agricultura familiar e sofre diariamente com ameaças. Segundo ele, as áreas que ocorrem mais mortes são as mesmas que o comércio ilegal é mais intenso e é onde há mais interesse comercial.

A Internacional Conservation, organização social sem fins lucrativos, trabalha na proteção da natureza e tem a Floresta Amazônica como uma prioridade devido à importância dela para o ecossistema mundial. De acordo com a organização, já houve alteração nos padrões de precipitação na região por causa do desmatamento.

A diretora técnica da Internacional Conservation no Brasil, Flávia Rocha, afirmou que, para resgatar a biodiversidade na floresta, a ONG organiza as áreas em três categorias. As verdes são onde já existe proteção ambiental e é preciso apenas gerir. Nas regiões amarelas, ainda não há desmatamento agressivo, mas a área está em situação de alerta por estar sob pressão comercial. As vermelhas, por sua vez, são onde já há um grande desgaste da floresta e é preciso contê-la para que não aumentem.

- Todas essas ações da organização na Floresta Amazônica trabalham sob três pilares, todos em versão sustentável: agricultura, infraestrutura e políticas econômicas. O incentivo ao plantio familiar nas áreas vermelhas, por exemplo, é um dos projetos desenvolvidos pela Internacional Conservation para resgatar a vida dessas áreas desmatadas. Nosso sonho é chegar, com isso, ao desmatamento zero – relatou Flávia.

O professor de Economia da PUC-Rio Sérgio Besserman acredita que a saída para preservação da floresta é o engajamento de toda a sociedade. Para ele, é preciso ter consciência da importância e do que ocorre no dia a dia na Floresta Amazônica. A Internacional Conservation, por exemplo, criou o projeto Pesca Sustentável, que preserva o estoque pesqueiro dos rios da Amazônia e contribuiu para as famílias que vivem da pesca.

Flávia Rocha, diretora técnica da Internacional Conservation no Brasil, em palestra no encontro Foto: Fernanda Maia

Flávia relata que o consumo consciente começa quando as pessoas sabem o processo por trás daquele produto. A Pesca Sustentável tem parcerias com alguns restaurantes de São Paulo e, quando um cliente pede um peixe nesses estabelecimentos, um folheto explicativo sobre de onde vem aquele produto e como ele foi pescado acompanha o prato. Ela disse que essa é uma forma de conectar quem mora longe da Amazônia com a região, já que muitas vezes não há esse estreitamento de relações.

Para a diretora, as universidades são locais de produção de conhecimento, e, segundo ela, o estabelecimento de parcerias com as instituições de ensino é o que garante a execução dos projetos. Flavia afirmou que a troca de experiências é fundamental para a implantação de projetos na região. A dificuldade para que isso ocorra, porém, está no engajamento da sociedade.  

– A dificuldade é fazer as pessoas acreditarem que essa transformação é realmente possível, que essa transformação, de fato, vai trazer um retorno econômico, além do retorno de conservação. Então investir realmente nessas áreas, engajar, fazer parcerias e mostrar para as pessoas que, apesar de isso ser um tiro de médio a longo prazo, é o que vai trazer benefícios concretos para as pessoas e para a economia local.

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