Dinheiro criptografado
18/04/2018 14:37
Julia Carvalho

A moeda digital Bitcoin é tema de várias discussões sobre o futuro da economia

Conhecidas por criptomoedas, as moedas virtuais não precisam de um Banco Central para serem expedidas, qualquer pessoa com um computador e acesso à rede consegue emiti-las. A maior delas é a Bitcoin, ligada a uma rede descentralizada e distribuída chamada Blockchain. Essa moeda digital é um ativo que dá o direito de usar a rede Blockchain. A criptomoeda está presente apenas no mundo virtual e tem um limite de emissão que chega a 21 milhões de bitcoins - estima-se que as emissões acabem em 2140.

O Coordenador da área de Projetos de Inovação do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Empreendedorismo (Nupem), professor Luis Felipe Carvalho, do Departamento de Administração, explica que a Bitcoin é criada como uma remuneração do processo de mineração -  o processamento de uma série de métodos e técnicas baseados em criptografia. Para gerar um bloco de transações é necessário resolver uma equação, e, para isso, é necessária energia elétrica e computadores potentes, o que custa dinheiro. Por isso, os mineradores recebem uma taxa de transação como recompensa, por injetar capacidade de processamento na rede.

— O Blockchain da Bitcoin é como se fosse um grande cartório sem a presença do tabelião. Um cartório onde duas pessoas estão transacionando alguma coisa, e o saldo é registrado em um livro imutável que não tem uma pessoa que controla, ou seja, a figura de um agente central.

Coordenador do Mestrado Profissional em Administração de Empresas do IAG e um dos coordenadores do Núcleo de Pesquisa em Energia e Infraestrutura do IAG (Nupei), professor Leonardo Lima conta que a Bitcoin e as criptomoedas, em geral, têm um modelo parecido com o ciclo padrão ouro. Nessa época, para emitir a moeda era preciso ter barra de ouro guardada no cofre, porque isso determinava o valor da riqueza que circulava. Segundo ele, a partir da década de 1970, existia a ideia de que esse esquema atrasava o crescimento, por isso, foi criado um padrão monetário baseado em fidúcia ou fé, que se auto sustenta. Esse formato é utilizado até hoje, nele é aceito que a economia se auto sustenta.

As moedas virtuais utilizam um modelo parecido com o ciclo padrão ouro, porque todas têm lastro físico, ou seja, é preciso ter garantias de valor. Para produzir Bitcoin é necessário fazer investimentos em mineração. Lima explica que a volta desse sistema tende a ser saudável, já que é um sistema alternativo ao atual e tem uma garantia real. Por enquanto, ele pensa que esse é um formato alternativo, porém em 50, 100 anos pode se tornar um novo sistema monetário. 

 — Não é impossível que exista um novo sistema monetário baseado em criptomoeda, lastreado em ativos reais, essa é uma discussão extremamente profunda. Na hora que começamos a falar de sistemas monetários, já existem discussões de criar sistemas monetários baseados em criptomoeda. De repente, é algo que veio para salvar uma futura quebra do sistema monetário atual.

Carvalho destaca que investir em Bitcoin é algo incerto. Ele explica que, por ser uma tecnologia nova, ainda não há um preço definido, por isso essa criptomoeda é considerada um investimento especulativo. Como não é possível precificar, a moeda digital é altamente sujeita a notícias, o que gera uma grande variação no valor. Como exemplo, ele destaca que a moeda virtual terminou 2017 valendo cerca de US$20.000 e começou o ano em queda, próximo ao valor de US$ 7.000. O professor Lima complementa que, atualmente, começa a existir uma média de preço. Segundo ele, para emitir uma Bitcoin há um custo, assim é pouco provável que fique abaixo desse valor operacional.

Carvalho conta que algumas pessoas não veem valor futuro nessa tecnologia ou a consideram uma fraude. Ele acredita que existe um potencial para uso futuro da criptomoeda, porque ainda está em fase de experimentação e criação de protocolo. Também enfatiza que há perigo de as pessoas começarem um investimento sem saber o que é a moeda virtual, adquirem apenas por pensar que o preço vai aumentar. O professor explica que a compra de bitcoins é feita por meio de corretoras que trocam moeda fiduciária, física, por criptomoedas. Esses lugares têm livros de ordem e fazem a ponte entre pessoas que querem comprar e vender.

Com relação à segurança, o professor Lima afirma que o sistema Blockchain da Bitcoin é extremamente seguro. De acordo com ele, com o passar do tempo, o sistema fica mais robusto por causa da dificuldade de colocar mais um bloco de dados na rede. Os aplicativos e as derivações que estão no entorno da Blockchain são mais seguros, mas não no nível máximo. Ele afirma, no entanto, que a Blockchain da Bitcoin funciona desde janeiro de 2009 e nunca apresentou um problema e ataques bem-sucedidos. Professor Carvalho dá como exemplo um aluno da PUC que comprou moedas virtuais e perdeu a chave de acesso da carteira, e, desde então, o estudante não consegue acessar a carteira, o que mostra como a rede é segura, porque não é possível quebrar a criptografia.

— Um aluno comprou moedas virtuais, colocou em uma carteira, chamada JAX, e perdeu a chave privada de acesso. Isso significa que a carteira dele é visível na Blockchain, é possível ver o saldo, mas ele não consegue movimentar. Ele já está há mais de um ano sem conseguir acessar e está tão desiludido de como recuperar que está oferecendo um prêmio para quem conseguir hackear a carteira. Ele está disposto a dar 50% da carteira para o hacker. A título de curiosidade, no momento tem cerca de US$400.000 na carteira. O dinheiro está em Mona. Ele já tentou muita coisa e até agora não conseguiu.

Carvalho acredita que até o fim do ano vão ser criadas algumas diretrizes e haverá alguns pronunciamentos, como do Banco Central, por conta do mercado financeiro latente sobre as criptomoedas. Na tecnologia, ele pensa, vamos ver resultados de alguns estudos que prometem escalar ou aumentar a velocidade da escalabilidade de uso das criptomoedas. O perito contábil Otavio Bonder explica que escalabilidade é a capacidade de processar muitas transações para que todos usem a moeda em um curto espaço de tempo. 

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