O tema da quinta edição da Semana de Direitos Humanos (SDH), “Amar: verbo educativo”, serviu de inspiração para palestra de abertura do encontro, realizada pelo Vice-Reitor Geral da PUC-Rio, padre Anderson Antônio Pedroso, S.J., e o Reitor da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, padre Arnaldo Rodrigues, no dia 23 de maio, no Espaço Dom Luciano Mendes. Os religiosos assinalaram a importância de investir em uma educação humanista, para todos, e preocupada com questões essenciais do ser humano.
A ideia da SDH deste ano foi propor reflexão e análise sobre os Direitos Humanos, principalmente no que diz respeito à educação. O Pacto Educativo Global e a Campanha da Fraternidade 2022 serviram de base para a elaboração da SDH, que é organizada pela Pastoral Universitária Anchieta. O primeiro é um chamado, promovido pelo Papa Francisco para que todas pessoas, instituições, igrejas e governos ao redor do mundo priorizem uma educação solidária e humanista, a fim de possibilitar a transformação da sociedade. Já a Campanha da Fraternidade, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), propõe a promoção de um diálogo para encontrar, à luz do Evangelho, soluções para a educação do país.
O Vice-Reitor Geral da PUC-Rio comentou a pertinência de associar o conceito de amor ao de educação. Segundo ele, uma mistura que contribui para a mudança da percepção deste sentimento, geralmente correlacionado a relacionamentos amorosos, enquanto, na realidade, ele está presente em diferentes situações no dia a dia.
- Achei a ideia escolhida muito interessante, pois conecta o amor e a educação. Geralmente, quando falamos de amor pensamos no sentido romântico, mas não é só isto. O amor está nas palavras, nas ações e está totalmente presente na dimensão da educação. Nós aprendemos a amar, não é algo que nos é dado, e sim ensinado. Amar é o caminho para o aprendizado. Deste modo, é interessante pensar sobre a educação neste sentido. Temos que sentir, pensar sobre o tópico em todos os âmbitos.
Os abusos aos Direitos Humanos no cotidiano foram mencionados por padre Anderson, cuja Declaração Universal foi criada no período da Segunda Guerra Mundial, ocorrida entre 1939 e 1945. Ele enfatizou que apoiá-los é uma forma de resistência e de expor e defender uma causa que engloba todos os seres humanos.
- Esta pauta sofre diversos ataques atualmente. Acho que estas agressões são feitas de maneira injusta. Devemos lembrar que os Direitos Humanos foram criados em um momento de drama para a humanidade, durante a Segunda Guerra Mundial, conflito que culminou em muitas vidas perdidas devido à insanidade do homem ao tentar provocar o extermínio dos seus semelhantes. A declaração desses direitos funciona como o grito de uma humanidade que se posiciona, que tem esperança, e precisamos nos posicionar. A educação está incluída neste meio.
O Pacto Educativo Global proposto pelo Papa apresenta uma lista de compromissos a serem seguidos. Pontos como colocar a pessoa no centro, ouvir as novas gerações, promover a mulher, responsabilizar a família, se abrir à acolhida, renovar a economia política e cuidar da casa são alguns dos pontos a serem destacados. O Vice-Reitor Geral declarou que estes deveres estão presentes na Universidade, e que o ambiente de ensino é um local propício para discussões políticas serem geradas.
- Nós atuamos com estes compromissos, principalmente como uma Universidade Católica, com toda nossa história. Colocamos o indivíduo no centro, promovemos a mulher, buscamos escutar sempre as gerações mais jovens, além de responsabilizarmos e acolhermos as famílias. Não somos partidários, mas somos políticos, na realidade, o campus é o local para fazer política no melhor sentido da palavra. A Universidade ajuda o estudante a compreender o que é política, como se faz pólis, como se vive em conjunto nesta minicidade que é a PUC.
Padre Arnaldo Rodrigues relembrou a fala do Papa Francisco sobre os tempos de pandemia da Covid-19, que apresentou para o mundo duas possibilidades: de melhora ou de retrocesso. Ele ainda propôs um questionamento sobre qual o modelo educativo que deve ser almejado e lembrou a necessidade de se imprimir uma visão aberta às questões do ser humano.
- O Papa citou que nós sairíamos destes dois anos de pandemia ou melhores, no sentido individual e coletivo, quanto comunidade, ou piores. Devemos levar em consideração estes pontos e buscar alternativas que caminhem para o lado positivo. Na educação, qual seria o modelo ideal a ser empregado? Acho que corresponderia ao modo humanista, integral, e a serviço da vida.
O sacerdote afirmou que os seres humanos possuem a comunicação como meio intrínseco, natural. Nesta visão, os relacionamentos representariam a principal vertente de uma sociedade. Ele comentou sobre como os avanços tecnológicos estão profundamente mesclados às relações interpessoais e não podem ser dissociados delas.
- A formação humana integral nos conduz a refletir sobre as diferentes formas de educar, de construir comunidades humanos, as sociedades e civilizações. Todos são tecidos universalmente pelas relações pessoais e coletivas. Nós somos seres relacionais. O mundo digital não é excluído disso. Sempre pensamos que há uma divisão entre o real e o virtual, mas isto não é verdade. Em uma chamada ao celular, conversa, há sensações, emoção, então ocorre um diálogo. Devemos aprender a lidar com estes progressos, que se intensificaram com a pandemia.
O Reitor da Igreja do Sagrado de Coração de Jesus abordou a questão da iniquidade social no Brasil e sugeriu algumas propostas que possam ajudar a reverter o quadro. Para ele, a mudança poderia ocorrer por meio da educação, que enfrenta dificuldades no atual governo. Assim, o aumento à introdução de ideias voltadas ao bem comum e o reconhecimento das disparidades em instituições educacionais pode auxiliar, inicialmente, para a redução ou resolução deste desafio.
- Precisamos promover uma educação que molde pessoas disponíveis ao serviço da comunidade, que consigam pensar nas novas e distintas realidades e responsabilidades. Rever as prioridades, educar para o novo humanismo e divulgar a cultura do encontro, do diálogo, além de globalizarmos a esperança, são tópicos que merecem atenção. O índice de desigualdade, principalmente quanto à educação, é grande. Desse modo, é necessário a criação de redes de cooperação para inclusão, seja por meio presencial ou digital, meio no qual 59% dos brasileiros não possuem acesso.