Há 47 anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu 25 de maio como o Dia da África. Para comemorar a data, o Departamento de Letras e o Instituto de Relações Internacionais (IRI) organizaram o debate “África para além das diásporas”, no qual a luta pela valorização da cultura africana foi um dos temas discutidos. Realizado de forma presencial no Anfiteatro Junito Brandão, o encontro teve como participantes a jornalista e escritora Eliana Alves Cruz e o cientista político Jacques D'Adesky.
O objetivo da conversa foi entender como o pensamento literário e o acadêmico podem, juntos, promover uma desconstrução de estereótipos e preconceitos que contaminam o olhar e o entendimento sobre a África e os povos do continente. Durante a discussão, os organizadores do encontro, professora Aza Nijiri, do Departamento de Letras, e professor Alexandre dos Santos, do IRI, anunciaram a criação de um núcleo de estudos interdisciplinares de África e afro-diásporas na PUC-Rio para explorar uma nova linha de pesquisa na Universidade.
A escritora Eliana Cruz abordou os impactos que a diáspora sangrenta dos africanos têm na vida de milhares de jovens negros ainda hoje. Ela contou um pouco da trajetória em busca de aceitação e pertencimento na comunidade negra e revelou que já havia questionado o seu lugar no Brasil e no mundo em meio a tanto preconceito. Segundo ela, o poder de absorção da “branquitude” apaga tudo que há ao redor, e isso dificultou seu processo de autoconhecimento.
- As pessoas gostam de consumir o que criamos e produzimos, mas ninguém pensa o quão difícil é ser negro em um país como o Brasil.
Eliana se mostrou grata pela evolução da comunidade negra ao longo dos anos e assinalou o engajamento da juventude com relação à cultura africana. Ao abordar o processo criativo por trás de seu livro Águas de Barrela, ela observou a importância de estudar diversos aspectos dos valores africanos para passar uma mensagem completa na sua escrita.
Jacques D’Adasky apontou a complexidade de entender sobre a diversidade cultural e linguística da África e a necessidade de interpretar a africanidade sob um olhar não ocidental. Segundo ele, há uma tendência de reduzir as diásporas dos povos africanos às Américas, mesmo que tenham existido diásporas resultantes da escravidão árabe-muçulmana no Oriente Médio que duraram 13 séculos.
- O tráfico negreiro no transatlântico durou quatro séculos, portanto temos diásporas no Iraque, Turquia, e na China, por exemplo. E não podemos esquecer a nova diáspora na Europa por refugiados políticos. Por isso, quando falamos de diáspora há de incluir a Ásia, Oriente Médio e a recente questão que existe na Europa.