Padre Josafá: É preciso saber conviver com a indignação
12/12/2016 18:04
Padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J.

O reitor da PUC-Rio lembra o exemplo de Cristo, que "denunciou atitudes antiéticas dos poderes de seu tempo e, por outro lado, acolheu e deu sentido às vidas dos indignados, excluídos e humilhados", para sugerir que a indignação contra práticas corruptas se una em torno de um mundo mais inclusivo e renove a fé num país melhor

Numa sociedade marcada por tantos atos e atitudes ofensivas, injustas, moral e eticamente incorretos, onde a corrupção oculta se torna a cada dia mais revelada e exposta, é natural que este substantivo feminino da língua portuguesa, denominado indignação, ocupe um espaço maior na mente e no coração dos indignados. Este sentimento duplo nos acompanha, pois de um lado ficamos insatisfeitos e indignados pela apropriação dos recursos públicos para satisfazer ambições desmedidas, vaidades excessivas, e o distanciamento progressivo de princípios e valores éticos, sobretudo em um país onde a educação é precária, a saúde é enferma e o desemprego alcança índices preocupantes; por outro lado, ficamos satisfeitos e dignificados ao sabermos que lentamente pode nascer uma nova cultura política no nosso país, capaz de corrigir erros antiéticos e, contribuir para a formação de novos costumes eticamente mais sustentáveis, onde a transparência, o agir moral e a atitude de servir sem privilégios econômicos e políticos, possam ser ampliados na sociedade pluralista em que vivemos.

Saber conviver com a indignação é perceber que os pequenos gestos dos indignados revelam algo mais profundo do que simplesmente os sentimentos de revolta, raiva ou frustração. Saber conviver com a indignação é unir forças e solidariedade com aqueles que sonham com um mundo diferente, mais inclusivo, fraterno e respeitoso com as diferenças. Saber conviver com a indignação é formar grupos e redes com pessoas que buscam a verdade, que sabem discutir democraticamente as temáticas de interesse maior da sociedade, sem sectarismo e sem violência. Saber conviver com a indignação não é reprimir os jovens indignados, mas é compreender as suas revoltas sadias, as suas justas reivindicações, as suas ousadias criativas, os seus gestos significativos e as suas utopias inspiradoras.

Jesus Cristo é o exemplo de quem soube conviver com a indignação, denunciando as atitudes antiéticas dos poderes de seu tempo e, por outro lado, acolhendo e dando sentido às vidas dos indignados, excluídos e humilhados pelos preconceitos, pelas carências, pelas doenças e por tudo aquilo que é contrário aosprincípios e valores do Reino de Deus.

Que neste Natal possamos nos inspirar na vida do Filho de Deus que nos deixou este legado de indignação e dignidade, na esperança de que a corrupção seja vencida progressivamente pela justiça e a verdade, ajudando-nos a construir m país onde o ódio supere a violência, a paz vença os conflitos, e a solidariedade supere as divisões.

Um bom e abençoado Natal para todos.

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