Literatura infanto-juvenil em alta
06/12/2018 17:24
Lucas França

Entrega dos prêmios Selo Cátedra 10 é marcada por defesa da relação entre Academia e mercado editorial

Foto: Amanda Dutra
Ilustradoras, autores, tradutores e responsáveis por diversas editoras do Brasil marcaram presença na premiação do Selo Cátedra 10 Edição 2018. O prêmio, entregue a 42 livros de Literatura Infantil e Juvenil nas categorias Seleção e Distinção, é organizado pelo iiLer e pela Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio. A cerimônia foi realizada na segunda-feira, 3, e os destaques foram os livros As cores do escuro e Os meninos de Plutão, de Ziraldo, que recebeu o Selo Cátedra 10 Hors Concours 2018.

Os vencedores foram decididos a partir de pesquisas feitas pelo Grupo de Estudos em Literatura Infanto Juvenil (Gelig) do iiLer, que ao longo do ano leu cerca de 300 livros. Os pesquisadores discutiram entre si, produziram resenhas sobre o que leram para finalmente chegar a uma decisão unânime sobre os premiados. Vice-diretora do iiLer, Gilda Carvalho destacou que a edição de 2018 do Selo Cátedra 10, terceira a ser realizada, só existe por conta do apoio dos profissionais do mercado editorial.

— Este é o coroamento de um trabalho desenvolvido o ano inteiro pelo Gelig, que certamente cresce muito com a contribuição de cada um de vocês, de cada editora, autor, ilustrador e tradutor. Vai muito além de simplesmente ler um livro e dar ou não um prêmio. Todo o trabalho do Gelig provoca uma reflexão sobre o estado atual da Literatura Infanto Juvenil no Brasil e no mundo, no caso dos textos traduzidos. Acreditamos que é um trabalho crucial neste momento que vivemos, de resistência. É um prazer muito grande ter a colaboração de todos vocês – disse Gilda.

Gilda Carvalho. Foto: Amanda Dutra


A premiação foi um momento também para refletir sobre os temas e discussões que chegam às crianças e adolescentes pelos livros. A professora e pesquisadora Denise Ramalho expôs à plateia que o Gelig identificou que, em 2018, assuntos como saúde emocional e sentimentos foram recorrentes nas publicações infanto-juvenis. Além disso, pequenas editoras apareceram mais vezes nas análises do Gelig, como informou Denise. A Supervisora do Departamento de Educação da Companhia das Letras, Rafaela Deiab, representou a editora ao receber cinco prêmios por títulos editados pela Companhia das Letras. Ela defendeu as pequenas editoras,  ao  afirmar que elas são pontos de venda essenciais para os livros, em tempos que livrarias como Saraiva e Cultura fecham as portas.

— O livro é um objeto múltiplo, você precisa de uma união de forças para fazer com que esse bem circule apesar de todos os pesares. É uma crise de livraria, não dos livros e nem dos leitores. O que nós percebemos é que ainda existem leitores sedentos por boa produção e vamos precisar ser muito criativos para fazer com que esses livros cheguem aos leitores, além de apoiar livrarias pequenas e independentes, pontos de venda que se mantém firmes e fortes.

Rafela Deia recebe um dos prêmios das mãos de Eliana Yunes. Foto: Amanda Dutra
A presidente do Conselho de Desenvolvimento do iiLer, Eliana Yunes, trouxe para a discussão a relação do Gelig com quem atua no mercado editorial. Para ela, os dados levantados pelo grupo de estudo ajudam os profissionais compreenderem melhor o próprio trabalho e a recepção que os livros têm com o público infantil. Eliana ainda citou Monteiro Lobato, quando apontou a importância de transformar o Brasil em um país que lê muitos livros.

— As reflexões registradas nos convidam a compartilhar com os que produzem a literatura infantil e juvenil algumas observações que podem ajudar na valorização dessa produção no plano acadêmico, editorial e, sobretudo, favorecer o maior conhecimento e informação sobre autores, obras e técnicas. Se queremos, como queria há quase um século Monteiro Lobato, fazer desse país um lugar de homens e livros, é preciso não esmorecer, se manter dedicados a essa causa, mesmo quando tudo está tremendo. Mesmo quando acreditamos que boa parte desses livros de literatura infantil que estão sendo premiados são livros que mostram uma resistência a uma ideia obsoleta de uma escola sem partido.

O Selo Cátedra 10 ganha relevância no calendário de premiações anuais porque é produzido com um olhar acadêmico e não mercadológico. Esta característica foi lembrada por Graça Lima, professora da Escola de Belas Artes da UFRJ e ilustradora dos livros premiados O menino que virou Caramujo e Uma casa para dez.  

— O prêmio precisa vir através de pesquisa mesmo. Às vezes ele vem confundido com a inflação do ego. O Selo da Cátedra tem respaldo acadêmico, gera outras pesquisas e conteúdo possível para ser expandido aos que não conhecem as publicações. O título só tem importância quando vem assim.

Graça Lima. Foto: Amanda Dutra
Sobrinha do desenhista e escritor, Adriana Lins esteve na cerimônia para receber o prêmio em nome do tio. Ela afirmou que tanto para ela, que trabalhou na produção de Os meninos de Plutão, quanto para o próprio Ziraldo, receber o prêmio acadêmico é mais valoroso do que os outros. Adriana disse que toda a dificuldade que Ziraldo enfrentou para finalizar o livro – ele sofreu um AVC no fim de setembro - torna a nomeação Hors Concours mais especial.

— Ele fez os livros há poucos meses, o que foi mais difícil fisicamente. O Ziraldo tem a percepção intelectual, mas o corpo não acompanha. Ele sabia o que queria fazer e dizer, mas a forma não acontecia. Ter percorrido incansavelmente esse livro e receber o prêmio é perfeito, não tem nada mais gostoso e satisfatório para o artista ser reconhecido dessa forma. Acho até mais valoroso que seja um reconhecimento acadêmico, porque vai na essência do assunto. Não é uma visão de mercado, venda. É uma análise de profissionais mais do que gabaritados em cima do trabalho artístico dele.
Adriana Lins. Foto: Amanda Dutra

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