Administrar com ética e humanidade
07/12/2018 17:27
Ana Carolina Moraes

Na obra Empresa com Alma, Francisco Gomes de Matos discorre sobre as preocupações que uma empresa cidadã deve ter para combater o individualismo característico da vida moderna

O administrador Francisco Gomes lança livro sobre a espiritualidade nas empresas. Foto: J.P Araújo

O consultor de empresas Francisco Gomes de Matos nunca se conformou com o modelo organizacional das corporações, que não incentiva o pensamento. Para combater este fenômeno, o administrador escreveu uma série de livros que culmina em Empresa com Alma, obra que introduz o conceito de espiritualidade e completa as ideias de Empresa Feliz e Empresa que Pensa. O autor busca introduzir nas companhias o comportamento ético, que pressupõe uma reflexão e foge da superficialidade habitual.

Para repensar o funcionamento das organizações, o autor, que integra o Conselho de Desenvolvimento da PUC-Rio, faz uma reflexão sobre as contradições do mundo moderno. Ele ressalta para a velocidade das mudanças e o volume de informação ao qual as pessoas estão expostas no seu dia a dia. Segundo Matos, a forma para manter um equilíbrio é investir na espiritualidade.

- Nós estamos em um momento de luz, de ciência e tecnologia, mas ela é acessível para poucos. Muitos são apenas usuários da informação, mas não inovadores. E nós, na verdade, nos tornamos inovadores nas pequenas coisas.  Mudanças de hábitos abrem caminho para as grandes transformações, e isso é investir na espiritualidade. A espiritualidade é um conceito que queremos introduzir nesse livro, pois ela tem frutos concretos. Uma pessoa espiritualizada é comprometida com o bem comum, a ética – afirma o autor.

O consultor ressalta que a falta de profundidade é causada pelo excesso destas informações que o indivíduo recebe pela mídia, o que leva a um bloqueio na habilidade de reflexão. O autor diz que é o hábito do pensamento que possibilita uma fuga da burocracia, que “emburrece” o funcionário e exige resultados instantâneos. Para que as empresas tenham êxito em implementar a espiritualidade, aponta, a educação é fundamental. Ela vai além do ensino, que não é suficiente, pois, comenta o escritor, a arte da convivência é a peça chave nesse processo.

- Vivemos em uma situação de superficialidade cultural. E ética pressupõe uma reflexão sobre valores. Uma coisa que se vê hoje em todos os meios, inclusive no acadêmico, é a falta do hábito do pensar. O primeiro passo para combater a burocracia é a educação, criadora de hábitos adequados de convivência.
O livro Empresa com Alma - Espiritualidade, liderança e ética nas organizações. Foto: Editoria de Arte

O administrador afirma que um corpo sem alma não sobrevive, e que esta frase também se prova verdadeira ao se tratar de companhias. Sem a ética, não há produtividade, e ela está intimamente ligada à noção de espiritualidade. Matos reforça que o conceito de espiritualidade trabalhado por ele não significa religiosidade, mas sim inteligência e solidariedade. Segundo ele, o que falta às organizações é a educação para poder orientar os funcionários. Quando as tecnologias passam a ser mais importantes do que o ser humano, o fenômeno do descarte toma conta da sociedade.

- Quando eu falo em uma empresa com alma, trabalho o conceito de plenitude e que está inserido na empresa muito mais no ser humano do que tecnologia, no marketing ou na inovação. E daí que trabalho o conceito de cultura de liderança, que é o que segura a empresa no mercado - ressalta Matos.

Matos considera que a genialidade sem uma visão humana acaba sendo distorcida para o mal. O estabelecimento de uma relação de confiança entre um chefe e os empregados é fundamental para estabelecer a empatia. Ela evita que haja o surgimento de uma competição não administrada, muito predatória. O consultor afirma que os chefes precisam entender que é necessário agregar, não apenas competir. Para isso, ele reforça novamente a importância do papel do líder, que pode ter um poder positivo ou não.

- Não há melhor maneira de se falar sobre a cultura da liderança íntegra do que a partir da espiritualidade. O que eu trabalho é o pensar estratégico, que é a mola fundamental do meu conceito. Isto é, botar as pessoas, uma a uma, começando pelo presidente da empresa, para estabelecer uma empatia e uma relação de confiança com o próximo. A partir daí, parto para encontro com os gestores principais para formar aquilo que se chama de diretoria, porque os diretores que não têm integração criam os chamados feudos. Nossa sociedade é muito competitiva e essa competição mal administrada é predatória. Ela fere o princípio da cooperação e da solidariedade, dominando o individualismo - conta Matos.
 
O administrador identifica uma necessidade de se pensar de forma estratégica no Brasil. Segundo ele, os maiores desafios que as empresas enfrentam atualmente são a corrupção e as paixões ideológicas. É nesse momento que deve entrar o poder criativo do indivíduo, que só será completo ao se relacionar com o próximo em relações de investimento e confiança, que vão além da superfície. Estas relações contornam todos os aspectos das nossas vidas, e devem se repetir nas empresas também. Francisco Gomes de Matos acredita que é a partir da troca que seres se completam e as imperfeições se esgotam. O livro Empresa com Alma está disponível na Livraria Carga Nobre.

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